Jornalista revela detalhes do encontro de Roberto Civita
(ex-presidente do grupo Abril) com Lula. Constrangimentos pessoais e
prejuízos financeiros fizeram a Revista Veja virar a porta-voz do
anti-petismo.
Criada e comandada nos primeiros dos seus 47 anos de vida, pelo
grande jornalista Mino Carta, hoje ela agoniza nas mãos de dois
herdeiros de Victor Civita, que não são do ramo, e de um banqueiro
incompetente, que vão acabar quebrando a “Veja” e a Editora Abril
inteira do alto de sua onipotência, que é do tamanho de sua
incompetência.
Para se ter uma ideia da política editorial que levou a esta
derrocada, vou contar uma história que ouvi de Eduardo Campos, em 2012,
quando ele foi convidado por Roberto Civita, então dono da Abril, para
conhecer a editora.
Os dois nunca tinham se visto. Ao entrar no monumental gabinete de
Civita no prédio idem da Marginal Pinheiros, Eduardo ficou perplexo com o
que ouviu dele. “Você está vendo estas capas aqui? Esta é a
única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é
bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim”.
É
bem provável que a Abril acabe antes de se realizar a profecia de
Roberto Civita. O certo é que a editora, que já foi a maior e mais
importante do país, conseguiu produzir uma “Veja” muito pior e mais
irresponsável depois da morte dele, o que parecia impossível.
E se os leitores quiserem saber a causa desta bronca, posso contar, porque fui testemunha: no início do primeiro governo Lula, o presidente resolveu redistribuir verbas de publicidade,
antes apenas reservadas a meia dúzia de famílias da grande mídia, e a
compra de livros didáticos comprados pelo governo federal para destinar a
escolas públicas.
Ambas as medidas abalaram os cofres da Editora Abril, de tal forma
que Roberto Civita saiu dos seus cuidados de grande homem da imprensa
para pedir uma audiência ao presidente Lula. Por razões que desconheço, o presidente se recusava a recebe-lo.
Depois do dono da Abril percorrer os mais altos escalões do poder, em
busca de ajuda, certa vez, quando era Secretário de Imprensa e
Divulgação da Presidência da República, encontrei Roberto Civita e
outros donos da mídia na ante-sala do gabinete de Lula, no terceiro
andar do Palácio do Planalto.”
“Agora vem até você me encher o saco por causa deste cara?”, reagiu o presidente, quando lhe transmiti o pedido de Civita para um encontro, que acabou acontecendo, num jantar privado dos dois no Palácio da Alvorada, mesmo contra a vontade de Lula.
No
dia seguinte, na reunião das nove, o presidente queria me matar, junto
com os outros ministros que tinham lhe feito o mesmo pedido para
conversar com Civita. “Pô, o cara ficou o tempo todo me falando
que o Brasil estava melhorando. Quando perguntei pra ele porque a “Veja”
sempre dizia exatamente o contrário, esculhambando com tudo, ele me
falou: `Não sei, presidente, vou ver com os meninos da redação o que
está acontecendo´. É muita cara de pau. Nunca mais me peçam pra falar
com este cara”.
A partir deste momento, como Roberto Civita contou a Eduardo Campos, a
Abril passou a liderar a oposição midiática reunida no Instituto
Millenium, que ele ajudou a criar junto com outros donos da imprensa
familiar que controla os meios de comunicação do país.
Escrevi hoje apenas porque acho que os leitores, internautas e
telespectadores, que formam o eleitorado brasileiro, têm o direito de
saber neste momento com quem estão lidando quando acessam nossos meios
de comunicação.