domingo, 31 de maio de 2015

RICHARD DAWKINS SOFRE PEQUENO ACIDENTE NO BRASIL E FICA IMPRESSIONADO COM O ATENDIMENTO MÉDICO RECEBIDO!

May 29, 2015



O detalhe: ele estava sozinho e deixando o país, ninguém sabia exatamente quem ele era e por isso destaca que o atendimento que recebeu foi o que seria fornecido a qualquer anônimo numa situação semelhante.
 
O texto dele está em inglês, mas a gente faz um resuminho:
 
diz ele que ao se dirigir para o embarque, tropeçou e bateu a cabeça, abrindo um corte sobre o olho, por onde vertia sangue.

Ele tentou embarcar mesmo assim, pois tinha um compromisso nos EUA (que depois ele descobriu que foi desmarcado).
 
Mas a tripulação do avião e o pessoal de terra não o deixaram embarcar naquele estado e ele desesperou-se por perder o voo, por imaginar que iria esperar longas horas para ser atendido (sua experiência nos EUA é que não há serviço médico público e na Inglaterra o serviço é muito demorado). Também pensou que iria perder sua bagagem, que já estava a bordo e ficou desesperado por estar sozinho e não falar uma palavra em português (seus acompanhantes no país já haviam despedido-se e ido embora, após ele acessar a área de embarque).
 
Mas surpreendeu-se, primeiramente, com a rapidez com que uma ambulância apareceu para levá-lo a um hospital (atendimento via SUS), pelo fato de que sua bagagem apareceu e pela gentileza e modo carinhoso com que os paramédicos o trataram assim que chegaram ao aeroporto.

Depois surpreendeu-se novamente pelo cuidado em ser conduzido em uma cadeira de rodas ao dirigir-se e ao chegar ao hospital (o que ele estranhou num primeiro momento), pelo atendimento que recebeu no hospital, pela quantidade de exames que realizaram antes de liberá-lo e por não estar sofrendo nenhuma dor no dia seguinte.

E usou sua página na internet para desculpar-se, publicamente, por ter imaginado que seria mal atendido e sentir-se inseguro!

Desculpou-se apenas por ter IMAGINADO que iria passar por um longo e interminável martírio, tanto com o pessoal do aeroporto, como com o pessoal da ambulância, com o pessoal do hospital, com os médicos que lhe atenderam e com o serviço que recebeu no Brasil!
 
É... temos nossos problemas, mas o inferno não é tão feio quanto a mídia e os midiotas o pintam!

Veja o relato de Dawkins, traduzido pelo Google Tradutor.



quarta-feira, 27 de maio de 2015

Ninguém é a favor de bandidos, é você que não entendeu nada


Ninguém é a favor de bandidos, é você que não entendeu nada
Este texto é nº 3 de 22 na série Não à redução da maioridade penal

Ramon Kayo

Sobre as expressões que atravessam as gerações, passando de pai para filho e o pensamento ignorante que elas geram


Espectro político trata fundamentalmente de economia. Você acha que a propriedade privada é a raíz de todo o mal? Vá para a esquerda. Você acha que a propriedade privada pode resolver problemas? Vá para a direita.

Agora, deixe isso de lado. Não me importa, porque o ponto que quero discutir neste texto é comum a todos.

Algumas expressões vem se propagando por gerações. Como uma espécie de roteador que só replica o sinal, a nova geração repete os discursos da geração anterior. Me assusta ver que jovens, como eu, que tiveram acesso a boas escolas, conteúdos e discussões, estejam dando continuidade às falácias mal estruturadas dos mais velhos.
“Bandido bom é bandido morto.”
“Tem idade para matar, mas não tem idade para ir preso.”
“Direitos Humanos só serve para bandido.”
“Esse povinho defensor de bandido… quero ver quando for assaltado.”

Olha só: ninguém é a favor de bandido. Ninguém mesmo. Muito menos os direitos humanos. Ninguém quer que assalto, assassinato, furto e outros crimes sejam perdoados ou descriminalizados.

Você é que entendeu errado.

Por que alguém, em sã consciência, seria a favor de assaltos, homícidios, latrocínios e furtos? Você não deveria sair gritando palavras de ódio sem entender o argumento do qual discorda — a não ser que você se aceite como ignorante, isto é, que ignora parte dos fatos para manter-se na inércia do conforto.

Depois que este texto terminar, você pode continuar discordando, mas espero que desta vez com outros argumentos, argumentos fundamentados.


Antes de mais nada, o que você prefere?
Gostaria de propor dois cenários e que você escolhesse o que mais te agrada.

I) Uma sociedade onde há muitos criminosos, logo há muitos assaltos, latrocínios e homícidios. Entretanto, nesta sociedade, 99% dos crimes são resolvidos e os indivíduos são presos. Após voltarem as ruas, tornam-se reincidentes, ou seja, cometem novamente um crime. Mas nesta sociedade, este criminoso é pego novamente em 99% das vezes. Há pena de morte.

II) Uma sociedade onde quase não há criminosos. Os poucos criminosos que existem, quando pegos, são presos. Além de punidos com tempo de reclusão, os criminosos também são reabilitados (as maneiras são indiferentes, se com cursos profissionalizantes, tratamento psicológico, ambos ou outros) para que possam tentar uma nova vida. Não há pena de morte.

Qual você prefere?

Nenhum destes casos é o do Brasil. No nosso país e em muitos outros, temos altos índices de criminalidade, poucos programas de reabilitação e o senso comum vingativo de que o Lex Talionis desenvolvido há cerca de 4.000 anos ainda serve como solução. Todavia, há países parecidos com os dois casos propostos, o que torna tangível a estrutura. Mas e para o Brasil? Qual dessas você preferiria para o nosso país?

Posso te ajudar neste raciocínio com alguns pontos:

– No primeiro caso, apesar de quase todos os criminosos serem pegos, o sofrimento das vítimas permanece. Como só se prende depois do crime, os lesados nunca terão a vida de um ente querido de volta, por exemplo.

– No primeiro caso, além de muitos crimes, os criminosos ainda tem maior probabilidade de reincidir, ou seja, de cometer um crime por mais de uma vez.

– Como são muitos criminosos, a economia do país perde força produtiva. Pessoas que poderiam estar trabalhando, pesquisando, empreendendo, estão no crime.

– No primeiro caso, como são muitos casos a serem avaliados, o sistema jurídico pode vir a se tornar lento e ineficaz.

OBS: Em nenhum momento quero impor uma falácia de falsa dicotomia. Existem infinitas possibilidades de combinações aqui. Entretanto, este é apenas um exercício que facilita o entendimento do argumento.


A pessoa nasce bandida ou torna-se bandida?

Pergunta importante: você acha que as pessoas já nascem bandidas? O bebê — sim, aquele de colo — já é um bandido?

Prefiro pensar que ninguém acredita que as pessoas já nascem criminosas. É um pouco lunática a visão de um mundo Minority Report, onde o bebê será preso ali mesmo, nos primeiros momentos de vida. Mesmo para quem acredita neste mundo, o próprio filme trata do problema que isso poderia causar.

Partindo da pressuposição de que ninguém nasce bandido, vou utilizar um personagem fictício como exemplo: João, o bebê. Imagine o bebê da maneira como quiser, isso pouco importa, a única certeza que temos sobre João, o bebê, é que ele não nasceu bandido. É uma criança como qualquer outra, ainda dependente dos pais, que pouco faz da vida além de dormir e chorar. Mas neste mundo fictício, o tempo passou, e João cresceu. Aos 16 anos cometeu um latrocínio. Se João não nasceu bandido, então tornou-se bandido. A palavra “tornou-se” implica transformação e esse é o X da questão.

Os seres humanos se constroem com as experiências e aprendizados, portanto o meio em que se vive tem grande influência sobre ele. Sabendo disso, temos a visão clara de que algo acontece na sociedade que transforma as pessoas em marginais. (E se você acha que não, talvez seja curioso saber que a taxa de homicídios no Brasil em 2008 era de 26,4 a cada 100.000 habitantes, enquanto que na Islândia o índice não passou de 1,8 a cada 100.000 no mesmo ano.)

O fato é: há algo na sociedade (que não será discutido neste texto) que leva as pessoas a cometerem crimes.

Quando você diz que reduzir a maioridade penal é uma boa ideia, você não está focando na raiz do problema, está apenas sugerindo uma maneira de remediar. E como veremos a frente, dado o nosso sistema, isto só aumenta a chance de criar um deliquente reincidente. Então note, pouco importa se a maioridade penal é de 16, 18 ou 21 anos se o país continua a formar criminosos. Devemos pensar em maneiras de diminuir a criminalidade, no processo que transforma as pessoas em transgressoras da lei, ou logo teremos mais presídios do que universidades e mais marginais do que cidadãos comuns.

Construir mais penitenciárias e prender mais gente diminui a criminalidade?

O olhar crítico que às vezes não permeia a cabeça das pessoas é que prender as pessoas não faz com que menos pessoas se transformem em criminosas. Penitenciando apenas, você não resolve o problema, apenas posterga enquanto gasta o dinheiro público.

Assim como todo fumante sabe dos males do cigarro, todos que entram para o mundo do crime sabem o risco envolvido. Todo dia no noticiário vemos corpos estirados ao chão, seja do cidadão, do criminoso ou do policial. Não adianta termos penas mais severas: o brasileiro que se torna assaltante já não tem nada a perder, sabe que tem grandes chances de morrer de forma cruel.

Os criminosos brasileiros, depois de presos, ficam ainda mais propensos a perpetuar sua vida marginal. São três os principais motivos: (I) poucas empresas se propõem a contratar ex-presidiários, (II) o trauma vivido dentro da cadeia — como ela é aqui no Brasil — agrava as problemáticas psicológicas do indivíduo e, por fim, (III) não há um programa grande e estruturado de reabilitação de criminosos para que deixem a vida do crime.

Ninguém quer que criminosos não sejam punidos¹. Eles devem pagar suas penas conforme previsto em lei. O único problema é que a pessoa só vai presa depois de cometer o crime, isto é, depois que alguém já foi lesado. Não seria muito melhor se ao invés de precisar prender as pessoas depois do crime consumado, houvesse menos bandidos? Não seria melhor se os criminosos, após cumprirem suas penas, se reintegrassem a sociedade como parte da massa trabalhadora?

Ah, não dá? Dá sim. Na Suécia dá, por que aqui não daria? Vamos supor que você responda, de maneira óbvia, que é por causa da “cultura brasileira”. Eu devo concordar que, realmente, a cultura é diferente: aqui muita gente acredita que pena de morte resolve o problema enquanto lá eles fazem uso da reabilitação.

Deve ser por isso que aqui se constroem presídios e lá se fecham presídios.

Nils Öberg, responsável pelo sistema prisional da Suécia, disse sobre o fechamento presídios no país por falta de condenados:

“Nós certamente esperamos que nossos esforços em reabilitação e prevenção de reincidência tenham tido um impacto, mas nós achamos que isso sozinho não pode explicar a queda de 6%” — reafirmando que a Suécia precisa se esforçar ainda mais em reabilitar os prisioneiros para que eles possam retornar a sociedade.


¹ Existe uma corrente que acredita no chamado Abolicionismo Penal que não vê o sistema punitivista com estes olhos. Eu não conhecia esta ideia no momento em que escrevi o texto, mas um leitor me alertou pelo Twitter e por isso faço questão de incluir aqui.


Direitos Humanos para você também

O artigo 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que:
“Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
O trecho “Toda pessoa (…)” do artigo 3 inclui você.

Ninguém quer que você seja vítima de um crime. Todas as leis do código penal são pensadas para tentar lhe garantir este e outros direitos comuns a todos os seres humanos. Ninguém quer que os bandidos sejam especiais: o que o “povinho dos Direitos Humanos” quer é que a sociedade não crie mais marginais e que a quantidade dos existentes diminua. E é aí que está: infringindo os direitos humanos, você não alcança este objetivo.

O trecho “Toda pessoa (…)” do artigo 3 também inclui o marginal.

É confuso que o cidadão que clama tanto por justiça, que a lei seja cumprida, fique ávido para descumpri-la: tortura, homicídio e ameaça são crimes, mesmo que sejam contra um condenado. Então, não, bandido não tem que morrer, porque isso te tornaria tão marginal quanto.

Se você quer uma sociedade com menos criminosos, conforme discutido no começo deste texto, entenda o papel dos Direitos Humanos. O artigo 5 diz:
“Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.”
Ninguém lhe nega o direito a sentir dor, raiva e/ou tristeza após ter sido vítima de um crime. A culpa não é sua e isto nunca foi dito. Só quem é vítima sabe da própria dor. Mas o fato é que o olho por olho não te trará paz, não trará um ente querido de volta, não removerá seus traumas. O dente por dente só te levará para mais perto de uma sociedade violenta, onde o crime se perpetua e você pode ser vítima mais uma vez. Ninguém quer que você seja vítima outra vez.

A punição deve ser aplicada, sim. E com certeza será ainda melhor quando este indivíduo estiver apto a se tornar um cidadão comum, após cumprir sua pena, e nunca mais venha a causar problemas para a sociedade e para você. E é sobre isso que os Direitos Humanos falam.


Portanto entenda:

Se você leu o texto um pouco mais exaltado, talvez tenha perdido algum trecho importante, portanto aqui vão alguns dos principais pontos:

1) Ninguém nasce bandido. A estrutura social, de alguma maneira, transforma as pessoas em criminosas.
2) Entender os motivos que levam a formação de criminosos e resolvê-los é mais importante do que puni-los com mais severidade.
3) Se não formarmos criminosos, as pessoas não precisam ser vítimas.
4) Todo crime deve ser devidamente punido, mas a maneira de punir pode influenciar na reincidência do criminoso, que fará novas vítimas.
5) Construir presídios, prender mais pessoas, não evita que mais pessoas se transformem em bandidos.
6) O que aprendemos com os países mais desenvolvidos é que reabilitar marginais colabora com a redução da criminalidade.
7) Infringir os Direitos Humanos de qualquer pessoa é atentar contra a vida e, no caso do marginal, vai na contra-mão da reabilitação.
E novamente:

Você tem o direito de ficar desolado e/ou enfurecido por ter sido vítima. Ninguém é a favor do crime.

Você é que não tinha entendido antes.


domingo, 24 de maio de 2015

Opinião: As tolices a respeito do Bolsa Família

maio 24, 2015 12:07 
  
Opinião: As tolices a respeito do Bolsa Família

“São esses pobres, que se tornaram classe média sem a tutela do Estado, que estão hoje empurrando o país para frente, ao exigir melhoria nos serviços públicos, a volta do crescimento econômico, a recuperação do sonho que aprenderam a sonhar”
 
 
Por Luiz Nassif, no Jornal GGN
 
 
Do filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, liberal, ouvi a máxima de que os juros são altos porque o brasileiro entrou na voracidade do consumo e não sabe poupar, preferindo se endividar sem olhar a taxa paga.
 
De um economista de direita, em um Congresso Internacional de Direitos Humanos em Belém, as críticas acerbas quanto ao fato do pobre gastar dinheiro atrás de quinquilharias da classe média.
 
De Frei Betto, de esquerda, que o grande erro do governo foi ter proporcionado bens materiais e não espirituais aos pobres.
 
De O Globo, sempre atento às invasões bolivarianas, ao fantasma de Che, e ao supremo risco dos irmãos Castro invadirem o Brasil, o endosso às teses de Frei Betto.
 
***
 
E aí se vê a geleia geral em que se transformou a política brasileira. No Bolsa Família, Frei Betto critica o caráter “compensatório”. O Fome Zero, na versão idealizada por ele, era um “programa emancipador”, que primeiro daria formação, montaria uma estrutura em torno de conselhos populares, organização social, para depois premiar o pobre com o direito ao consumo.
 
Nada além do que organizações como o Movimento dos Sem Terra (MST), ou Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) propõem, ou seja, uma organização à parte do mercado, com fundas raízes ideológicas, ótimas para a organização de grupos sociais excluídos, temerária como política pública.
 
Releve-se o sofisma de Betto – que o governo deveria dar luz e saneamento em vez de renda familiar, como se ambas as prioridades fossem conflitantes.
 
O programa Luz para Todos é um sucesso amplo. O saneamento, uma frustração, mas por falta de competência gerencial, não de vontade política.
 
***
 
Nos três casos – o liberal, o esquerdista e o direitista – o mesmo preconceito em relação ao livre arbítrio do cidadão e do mercado como elemento de inclusão social. Nos três casos, uma posição profundamente elitista, um liberalismo de jabuticaba, que investe contra princípios básicos do liberalismo para políticas sociais, que defende o livre arbítrio do beneficiário de políticas compensatórias; um esquerdismo de araque, que só concebe o tal do povo submetido a programas educativos; e um direitismo em estado puro, para quem o povo é a ralé.
 
***
 
Sugiro aos três grupos os relatos da pesquisadora da Unicamp, Walkiria Leão, sobre o poder transformador do consumo – ela própria abrindo mão de seus preconceitos de esquerda contra o consumo.
 
São relatos extraordinários sobre a importância do “crédito” (de acredito) na vida das pessoas, a maneira como saíram do anonimato e ganharam um perfil público, levando-as a se transformar em outras.
 
Pobres que tinham até vergonha de frequentar locais públicos, graças ao consumo se sociabilizaram, não apenas venceram a fome e a insegurança financeira, mas ousaram novas profissões, novos voos.
 
***
 
Betto tem uma diferença em relação ao Bolsa Família: sepultou o seu Fome Zero, um conjunto de ideias soltas, sem nenhuma amarração conceitual, sem capacidade de implementar política alguma.
 
Em uma das críticas ao Bolsa Família, em 2009, taxou-a de “projeto de poder”. Projeto de poder mambembe era o Fome Zero, com sua visão missionária de emancipação.
 
São esses pobres, que se tornaram classe média sem a tutela do Estado, que estão hoje empurrando o país para frente, ao exigir melhoria nos serviços públicos, a volta do crescimento econômico, a recuperação do sonho que aprenderam a sonhar.

(Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
 

 

sábado, 23 de maio de 2015

As mentiras nas relações entre o Brasil e o mundo

maio 22, 2015 09:47 

  
As mentiras nas relações entre o Brasil e o mundo

Ao se falar mal do Brasil (como muito turista brasileiro gosta de fazer no estrangeiro, até ex-presidente), devagar com o andor, que os santos – todos – têm pés de barro. O “Primeiro Mundo” está longe de ser o paraíso que se pensa

Por Flávio Aguiar, da Rede Brasil Atual

Quando se pensa, no Brasil, sobre “o Brasil e o resto do mundo”, sobretudo aquele que teima–se em chamar de “primeiro”, corre muita falácia no meio das toneladas de tinta que escorrem destes pensamentos imperfeitos, marcados sempre por fortes emoções.

A mais óbvia delas é a de que no Brasil nada funciona, e no chamado “First World”, ao contrário, tudo funciona às mil maravilhas.

Muito antes pelo contrário! E a lista é longa, indo, por exemplo, do tratamento dispensado a idosos na vida cotidiana ao SUS. Mas há outras falácias, como, por exemplo, a do “custo Brasil”. Nesta onda, o Brasil seria o país mais caro em termos de impostos, e no topo desta lista vem o custo adicional da folha de pagamentos devido às contribuições previdenciárias, o imposto de renda y otras cositas más, em todos os sentidos deste “más”.

Com o debate sobre a terceirização vêm à tona os temas ligados à ideia de que as regulamentações sobre o trabalho são demasiadas, enquanto em países “adiantados” tudo corre lindo, leve e solto das amarras legais.

Veja-se o caso da Alemanha, onde resido.

No caso específico da terceirização, ela existe sim, e é objeto de uma luta tenaz por parte dos sindicatos de trabalhadores. Ocorre que o poder dos sindicatos de trabalhadores na Alemanha é enorme. Empresas grandes são obrigadas a manter representações de funcionários em seus conselhos administrativos. Por isso, recentemente, pela primeira vez na história, um destes representantes foi nomeado presidente do Conselho da Volkswagen: ele era o vice, e o presidente renunciou por motivos pessoais.

O IGMetall, o Sindicato dos Metalúrgicos, e a DGB, a Central Nacional, vêm lutando – com sucesso em muitos casos – para que os acordos coletivos realizados pelos sindicatos valham também para os trabalhadores terceirizados. E propostas de terceirização devem ser apresentadas perante os conselhos das empresas. A luta mais recente é a de que os terceirizados também tenham representação nestes conselhos.
 
Ainda assim, a luta é árdua. No confronto, os grandes sindicatos são favorecidos, pelo poder de que desfrutam. Já os pequenos sindicatos, ou os trabalhadores menos organizados sofrem mais, particularmente os imigrantes ou os de certas profissões, como a de cabeleireiro, uma das mais mal pagas do país.
 
Contudo, a Alemanha investe 27,5% do seu PIB no chamado “welfare”, ou “bem estar social”, por meio de uma rede legal de proteção previdenciária ao trabalhador, envolvendo desde tratamento de saúde a seguro–desemprego, passando por uma série de auxílios obrigatórios.
 
Acompanhe a tabela abaixo, embora seus dados tenham por referência distintos momentos de fixação, todos posteriores a 2011:
tabela
 
Nos anos de “austeridade” que sucederam à crise financeira de 2007/2008, diversos direitos e auxílios aos trabalhadores vêm sendo restringidos, bem como uma série de investimentos sociais, mas num nível muito menos intenso do que aquele aplicado em países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, ou ainda outros – sob instigação, é verdade, da própria Alemanha, acusada frequentemente do “façam o que eu digo mas não o que eu faço”. Também diminuíram os valores das aposentadorias.
Porém há outros aspectos igualmente interessantes.
 
O imposto de renda na Alemanha é, de fato, progressivo, indo da isenção a 45%. Este imposto, envolvendo as contribuições individuais, a taxação dos ganhos de capital e das empresas, etc. é o responsável por cerca de 40% da arrecadação de impostos no país. Em segundo lugar vem o chamado VAT, equivalente mais ou menos ao nosso ICMS, com cerca de 31%. Quando digo “cerca” em ambos os casos, quero dizer que o percentual pode vir a ser um pouco maior, conforme o ano. Depois vem o imposto sobre transações comerciais, com 7,5%, o imposto sobre consumo de energia, com 7,2%, e o imposto sobre o tabaco, com 2,6% do total da arrecadação.
 
Segundo a Heritage Foundation, um “Think Tank” conservador e neoliberal, com sede em Washington, a Alemanha arrecada 40% do seu PIB em taxas e impostos. A mesma fonte cita 34,4% para o Brasil, o mesmo percentual da Bulgária. Outras cifras, em percentuais: Dinamarca, 49%; Bélgica, 46,8%; França, 44,6%; Áustria, 43,4%; Itália, 42,6%; Holanda, 39,8%; Reino Unido, 39%. A média para a União Europeia é de 35,7%. A Suíça, país considerado um dos maiores paraísos fiscais do mundo devido às peculiaridades de seu sistema bancário (vide o caso HSBC) arrecada 29,4% em tributos e impostos diversos.
 
E não se venha com o argumento de que o Brasil é um “poço sem fundo de corrupção”, enquanto o resto do mundo – inclusive o chamado “primeiro” – é um altar de honestidade. Não é verdade. A esteira de multas aplicadas por malversações aos sistemas bancários internacionais está subindo astronomicamente.
 
A última, aplicada nos Estados Unidos, por acordo mediante reconhecimento de culpa, contra cinco bancos (Citigroup, JPMorgan, Chase, Barclays e o Royal Bank of Scotland), por manipulação das taxas de câmbio em compra e venda moedas em transações internacionais, ultrapassou a marca dos 5 bilhões de dólares, ou mais do que 15 bilhões de reais, mais do que três vezes o que o Ministério Público está cobrando de seis empreiteiras (OAS, Camargo Correia, Sanko, Mendes Jr., Galvão Engenharia e Engemix) em função das acusações de desvios de dinheiro e propinas no caso Petrobras, cujos montantes de desvios (ainda não confirmados) chegariam a 10 bilhões de reais.
 
Por tanto, ao se falar mal do Brasil (como muito turista brasileiro gosta de fazer no estrangeiro, até ex-presidente), devagar com o andor, que os santos – todos – têm pés de barro, quando não fincados diretamente na lama.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

Cotação do real sofreu manipulação em esquema global

Fernando Nakagawa, correspondente em Londres - O Estado de S. Paulo 

21 maio 2015 | 16h50

Documento fala em 'conspiração' e boicote a corretoras nacionais; após investigações, bancos, em especial o Barclays, foram multados em mais de multas US$ 5 bilhões

 


Investigação envolveu autoridades dos EUA e do Reino Unido e analisou negócios realizados entre 2008 e 2012
Investigação envolveu autoridades dos EUA e do Reino Unido e analisou
negócios realizados entre 2008 e 2012



LONDRES - O real também sofreu com o esquema internacional de manipulação das taxas de câmbio que envolveu seis dos maiores bancos globais e resultou em multas que superam os US$ 5 bilhões. Desconhecida até agora, a influência sobre a moeda brasileira foi revelada no acordo final entre autoridades dos Estados Unidos e o britânico Barclays. O documento fala em "conspiração" e cita que havia boicote aos corretores nacionais para aumentar o poder de fogo do esquema de manipulação de preços.
 
Documento do órgão supervisor do Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (DFS) mostra que negócios com a moeda brasileira em 2009 foram alvo da ação de operadores que queriam influenciar preços para aumentar lucros. "Operadores de câmbio envolvidos no mercado entre o dólar dos Estados Unidos e o real do Brasil conspiraram juntos para manipular os mercados", diz o termo de compromisso de cessação de prática (consent order, em inglês) que envolve o Barclays. O termo foi assinado na terça-feira, dia 19, pelo conselheiro geral do banco britânico, Robert Hoyt.
 
A investigação analisou especialmente negócios realizados entre 2008 e 2012 e afirma que a manipulação com a moeda brasileira usava procedimentos "mais diretos" que os adotados em outros mercados, como o que negocia euros. Segundo a autoridade norte-americana, operadores "concordavam em boicotar corretores locais para reduzir a competição". Com menor concorrência, seria mais fácil influenciar a oscilação dos preços no mercado.
 
Mensagens. Uma indicação do esquema veio à tona com a troca de mensagens entre duas pessoas que negociavam a moeda brasileira. Em 28 de outubro de 2009, um operador do Royal Bank of Canada (RBC) conversava com um colega do Barclays. "Todo mundo está de acordo em não aceitar um agente local como corretor?", questiona o funcionário do banco canadense via programa eletrônico de troca de mensagens. "Sim, menor competição é melhor", respondeu o operador do banco britânico.
 
Exatamente no dia da troca de mensagens citada no processo, o dólar fechou em alta de 0,6%, a R$ 1,7447, segundo dados do Banco Central. Naquela época, o mercado de câmbio do Brasil vivia o fim de um período de quase um ano de firme valorização da moeda nacional. Enquanto o mundo tentava se desvencilhar dos problemas da crise financeira que estourara um ano antes, o Brasil crescia e o fluxo de moeda estrangeira para o País fez com que o dólar caísse do patamar próximo de R$ 2,50 visto em dezembro de 2008 para R$ 1,70 em outubro de 2009.
 
A manipulação do mercado brasileiro foi descoberta pela investigação que envolveu autoridades dos EUA e Reino Unido e revelou um grande esquema global que influenciou as cotações das principais moedas do planeta.
 
Barclays, Citibank, JP Morgan, Royal Bank of Scotland (RBS), UBS e Bank of America estavam envolvidos e pagarão US$ 5,6 bilhões em multas e acordos de compensação. O britânico Barclays sofrerá a maior punição. A ação era feita especialmente por operadores que combinavam estratégias para influenciar as cotações. A polícia federal dos EUA, o FBI, classificou o esquema como uma "ação criminosa em larga escala".
 
A direção do banco britânico Barclays informou "lamentar profundamente" a conduta adotada por alguns dos colaboradores dentro da instituição.
 
"A má conduta vista no cerne dessas investigações é totalmente incompatível com o propósito e os valores do Barclays e lamentamos profundamente que isso tenha ocorrido", disse nota distribuída após o anúncio de que o banco pagará cerca de US$ 2,32 bilhões em multas e acordos com autoridades dos Estados Unidos e Reino Unido. Portanto, o texto diz respeito a todo o processo, e não apenas especificamente à manipulação vista no Brasil.


 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Relatório confirma versão de Dilma sobre Pasadena

:
Documento elaborado pelo comitê de auditoria da Petrobras sobre a compra da refinaria de Pasadena em 2006 aponta que o ex-diretor Nestor Cerveró omitiu informações relevantes em apresentações à diretoria e ao conselho, que resultaram em "substanciais perdas financeiras para a Petrobras"; ata confirma versão da presidente Dilma Rousseff de que o conselho, que presidia na época, não foi informado sobre as cláusulas "Marlim" e "put option".
 
20 de maio de 2015 às 06:41
 
 
247 - Um relatório elaborado pelo comitê de auditoria da Petrobras sobre a compra da refinaria de Pasadena em 2006, confirma a versão da presidente Dilma Rousseff de que o conselho de administração da estatal, que presidia na época, não foi informado sobre as cláusulas "Marlim" e "put option".
 
O conselho autorizou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada com a empresa belga, Astra Oil. Acabou desembolsando US$ 1,18 bilhão - cerca R$ 2,76 bilhões.
 
Segundo o documento divulgado pelo Valor, anexo à ata de reunião do conselho o ex-diretor Nestor Cerveró omitiu informações relevantes em apresentações à diretoria e ao conselho, que resultaram em "substanciais perdas financeiras para a Petrobras".

Fonte


sábado, 16 de maio de 2015

Morte por arma de fogo cresce entre negros e cai entre brancos no Brasil

Gil Alessi São Paulo 13 MAY 2015 - 15:39 BRT
 
O Mapa da Violência 2015 mostra que negros tem 2,5 mais chance de serem mortos
Estatuto do Desarmamento salvou 160.000 vidas no Brasil, diz estudo



Débora com a foto do filho Rogério,
morto em 2006. / Divulgação
Rogério Silva dos Santos, de 29 anos, havia acabado de fazer uma cirurgia para tirar o dente do ciso. No almoço de Dia das Mães, arriscou comer um pedaço de carne, mas rompeu os pontos e se irritou com a dor na gengiva. Era dia 15 de maio de 2006, ele deu um beijo na mãe e resolveu ir embora. Durante a noite, quando a dor se tornou insuportável, ele saiu para buscar um remédio, mas não voltou. Foi baleado, em circunstâncias até hoje não totalmente esclarecidas, na periferia de Santos, no litoral de São Paulo.
 
Rogério foi um dos 320.000 negros vítimas de armas de fogo entre 2003 e 2012. Faz parte das estatísticas que comprovam que  os homicídios cometidos à bala no país tem cor, idade e sexo. Se, por um lado, o número de pessoas brancas mortas por arma de fogo caiu 23% entre 2003 e 2012 (de 14,5 mortes por 100.000 habitantes para 11,8), a quantidade de vítimas negras aumentou 14,1% no mesmo período: de 24,9 para 28,5. Apenas em 2012 morreram 2,5 mais negros do que brancos. Os dados são do novo Mapa da Violência 2015, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo, que será lançado nesta quinta-feira.
 
“Esse acréscimo de mortes entre os negros é lamentável, mas não surpreende”, afirma Martim Sampaio, coordenador da comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil). “As vítimas preferenciais da violência, chacinas e violações cometidas por agentes da lei são as populações pobres, negras e periféricas”, diz. Para o advogado, existe um “genocídio” contra essa parcela da sociedade.
 
Segundo Martins, esses dados desmentem o “mito da democracia racial” no Brasil. “Essa população [negra], apesar de numerosa, é invisível. Se fossem jovens brancos, essas taxas de homicídio provocariam reações fortíssimas”.
 
Segundo o Mapa da Violência a razão para a disparidade entre os números de mortos brancos e negros tem razões econômicas. “Em teoria, os setores e áreas mais abastadas, geralmente brancas, têm uma dupla segurança: a pública e a privada”, diz o texto. Por outro lado, os “menos abastados, que vivem nas periferias e são preferencialmente negros” precisam se contentar com “o mínimo de segurança que o Estado oferece”. O Mapa da Violência 2015 aponta que as ações de segurança pública distribuem-se de forma “extremamente desigual nas diversas áreas geográficas”, priorizando locais de acordo com o status social das vítimas.

“O Brasil mata na educação, na falta da moradia digna, na saúde, que é uma máquina de matar gente, e na segurança”, afirma Débora Maria da Silva, a mãe de Rogério. Ela é uma das fundadoras do grupo Mães de Maio, formado após as mortes ocorridas em 2006 – muitas das quais com suspeita de envolvimento de policiais. “Não mudou nada desde que meu filho foi morto pela polícia”, diz.

O Mapa da Violência 2015 também aponta qual a idade mais vulnerável às mortes por arma de fogo: do total de 42.416 óbitos por disparo em 2012, 24.882 foram de jovens entre 15 a 29 anos. O número equivale a 59% do total, sendo que pessoas nesta faixa etária são apenas 27% da população brasileira. Enquanto que a taxa de mortalidade de uma pessoa com 30 anos de idade é de 38,7 por 100.000 habitantes, um adolescente com 19 anos tem quase o dobro de chances de ser morto: 62,9. Entre 1980 e a população brasileira cresceu quase 61%, mas as mortes por arma de fogo cresceram 387%. Entre os jovens esse aumento foi ainda maior: 460%. E por fim, o sexo: 94,2% das vítimas de homicídio no país em 2012 eram homens.

Brasil é 11º país do mundo onde mais se mata

Fonte: Mapa da Violência.
Nem o Iraque, que ainda vive a ressaca de um prolongado conflito armado e agora enfrenta a ameaça jihadista, tampouco o México, que sofre com uma guerra entre cartéis rivais de tráfico de drogas conseguiram superar o Brasil no triste ranking da violência. O país ocupa a 11a posição no ranking das maiores taxas de homicídio do mundo: aqui, em 2012, foram 20,7 mortos a cada 100.000 pessoas. No Iraque a taxa está em 6,3, e no México 13,6.

Os dados são do Mapa da Violência 2015 que utilizou como base um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde – os anos analisados varia entre 2008 e 2012. Os últimos colocados do ranking, com taxa de zero homicídios por 100.000 habitantes são o Japão – que registrou 11 homicídios em um ano –, Hong Kong, Marrocos e a Coreia do Sul.

O país mais violento do mundo é a Venezuela, com taxa de 55,4 homicídios por 100.000 habitantes, seguido pelas Ilhas Virgens, com 49,7, e El Salvador, com 45,6. Os dez recordistas de homicídios no mundo estão nas Américas.

Estatuto do Desarmamento salvou 160.000 vidas, calcula estudo

G. A. São Paulo 13 MAY 2015 - 20:45 BRT

Lei que pode ser derrubada pela Câmara dos Deputados poupou a vida de 113.071 jovens
Mortes por arma de fogo crescem entre negros e caem entre brancos

Armas apreendidas pela Polícia Civil de Santa Catarina. / Divulgação

Enquanto na Câmara dos Deputados parlamentares ligados à bancada da bala discutem um projeto de lei que pretende acabar com o Estatuto do Desarmamento, o Mapa da Violência 2015 defende a importância da lei na redução das mortes com arma de fogo. De acordo com o relatório, que será divulgado nesta quinta-feira, o Estatuto foi responsável por poupar 160.036 vidas desde sua sanção pelo presidente Lula, em 2003 - o equivalente à população de uma cidade de médio porte como Nilópolis, no Rio de Janeiro, ou Itapecerica da Serra, em São Paulo. Desde total de pessoas salvas, o estudo indica que 113.071 foram jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos.
 
Entre 1993 e 2003 os homicídios com arma de fogo cresceram 7,8% ao ano, até atingir 36.115 mortes. Seguindo esta progressão, deveríamos ter registrado em 2012 – último ano com dados do Ministério da Saúde disponíveis – 71.118 vítimas fatais de disparos. “Mas foram registradas 40.077 mortes. Só nesse ano foram poupadas 31.041 vidas”, diz o relatório, que conclui destacando a importância do “caráter preventivo das políticas de controle das armas de fogo no enfrentamento dos homicídios juvenis”.
 
Mas segundo o Mapa da Violência, o Estatuto do Desarmamento sozinho não basta para combater as mortes no país – que ocupa a 11ª posição no ranking dos mais violentos do mundo. “Falta ainda uma série de reformas necessárias, como a reforma do código penal, das instituições policiais e do sistema prisional”, diz o relatório. O texto aponta ainda que o “enfrentamento à impunidade” e às “transgressões institucionais de diversos organismos encarregados de fazer cumprir as leis” também são fundamentais para a redução da violência. De cada treze pessoas mortas por dia em São Paulo no ano de 2014, duas foram vítimas da polícia.

“Quando houve campanha de desarmamento para valer, em 2004 e 2005, as estatísticas começaram a baixar”, explica Julio Jacobo, coordenador do estudo. De acordo com ele, nestes dois anos “foram recolhidas mais de 500.000 armas, e o impacto no número de mortes foi enorme". Nos anos seguintes, segundo ele, não houve mais mobilização nacional e incentivo à campanha de recolhimento de armas – apenas 200.000 foram entregues em 2006 e 2007 -, e o resultado foi um pequeno crescimento no número de homicídios. Estima-se que o país tenha 16 milhões de armas em circulação.

A linha vermelha mostra a curva dos homicídios entre 1993 e 2012, enquanto que a verde é a evolução esperada caso não houvesse o Estatuto do Desarmamento. / Mapa da Violência


Jacobo afirma que a maioria dos homicídios do país são motivados por brigas entre vizinhos, parentes, acidentes de trânsito, ou seja, motivos fúteis, crime cultural”. Mortes provocadas por criminosos "na maioria das unidades da federação são a minoria". Segundo o professor, a “cultura da violência somada às armas de fogo é uma mistura explosiva”.

“Com exceção do Estatuto do Desarmamento temos poucas políticas nacionais de segurança pública”, diz Ignácio Cano, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência. De acordo com ele, o Estatuto “cumpre um papel importante sinalizando que as armas de fogo são um vetor da violência”. O professor ressalta ainda que este tipo de armamento “multiplica os efeitos letais dos conflitos”. “Existe um consenso praticamente universal na comunidade acadêmica com relação a isso. As exceções são trabalhos esporádicos financiados por empresas de armas”, diz.

 Nas mãos de seus inimigos
A comissão especial que analisará um projeto que acaba com a lei que acaba com o Estatuto é comandada por deputados da frente parlamentar pela Segurança Pública, grupo formado por ex-policiais, delegados e deputados financiados por empresas de armas e munições. Desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, dezenas de projetos de lei que buscavam flexibilizá-lo já foram formulados, mas nenhum avançou. Agora, com uma composição mais conservadora no Congresso, isso pode mudar.
"Falta ainda uma série de reformas necessárias, como a reforma do código penal, das instituições policiais e do sistema prisional"
Na comissão, apenas a bancada do PT e do PC do B são contrárias ao projeto do deputado Peninha. Ivan Valente (PSOL-SP) também se posicionou contrário à lei, mas ele é membro suplente. Caso seja aprovado, o PL 3722/2012 irá para o plenário da Câmara, onde será votado em dois turnos.

Membro declarado da bancada da bala, o relator Laudívio Carvalho (PMDB-MG) assumiu um discurso moderado, e afirmou que “é preciso ouvir todos os segmentos sociais, e a minha posição só será conhecida no relatório final”. Sua indicação para a relatoria foi criticada por organizações da sociedade civil, uma vez que ele estaria alinhado com os interesses dos fabricantes de armas. "Existem muitas informações que precisam ser analisadas. Já pedi dados para a Rota [Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, frequentemente envolvida em casos de violação dos Direitos Humanos]”, disse o deputado, que ficou famoso por apresentar um programa de televisão sensacionalista sobre crime e violência.

O presidente da comissão, Marcos Montes (PSD-MG), que teve campanhas eleitorais financiadas por empresas de armamentos, aposta na mudança do Estatuto. "95% dos integrantes da comissão querem reestudar a lei, compartilho a opinião de que é preciso adequá-la", afirma. O parlamentar diz ainda que a ampliação do porte de arma “não seria um retrocesso”, uma vez que representa “a vontade da população”. O deputado se refere ao referendo sobre a proibição da comercialização de armas no país, realizado em 2005. À época, a maioria dos brasileiros se manifestou contrariamente ao veto. No entanto, uma pesquisa do instituto Datafolha realizada em setembro do ano passado mostrou que 62% dos entrevistados acreditam que a posse de armas deveria ser proibida. O parlamentar disse desconhecer o levantamento.

Delegado prende Advogado após confundi-lo com o acusado. Achei que o Negro era o Réu

Postado: As quinta-feira, maio 14, 2015
Racismo_crimeUm caso curioso e ao mesmo tempo polêmico aconteceu no último domingo na delegacia de Timóteo Eising, uma pequena e pacata cidade do interior de Santa Catarina.

Claudius Rudlof, um descendente de alemães, de 29 anos, conhecido como “alemão”, que estava foragido da Justiça e que se costumava passar por pastor evangélico foi preso no domingo após uma briga com sua esposa.

Durante a discussão a esposa do acusado foi brutalmente agredida com vários socos, foi sufocada com um pedaço de espuma até perder a consciência. Os vizinhos acionaram a polícia que imediatamente levaram o acusado até a delegacia.

Os pais do acusado pediram então o auxílio de um advogado conhecido da família, que estava participando de um jogo de futebol entre amigos, mas interrompeu tudo e partiu para a delegacia atender o seu cliente.

SANY3986

O delegado Matheus Fritz ao chegar na delegacia ao se deparar com um homem loiro, vestindo terno e o advogado, um negro que usava uma camisa do Corinthians, não teve dúvidas, se dirigiu ao homem negro, deu um tapa em seu rosto e disse: você vai ficar naquela cela ali enquanto eu falo com o seu advogado!

O advogado, perplexo com o acontecido tentou argumentar e o delegado o agrediu novamente com mais dois ou três socos e disse: eu não converso com bandido, cale sua boca!
 
Apenas após a intervenção dos policiais militares é que o delegado percebeu que havia cometido um erro. 
 
O advogado então registrou um boletim de ocorrência contra o delegado e disse que estuda processar o delegado e o estado de Santa Catarina pelos constrangimentos que sofreu.
 
O delegado tentou se justificar dizendo: “vi um loiro de terno e um preto com a camisa do Corinthians, tinha certeza que o negro era o acusado e quis dar uma lição nele”

Alegou ainda que é comum agredir os acusados, pois isso os intimida e impede que cometam novos delitos.

Ah e o cliente do advogado permanece preso.


Blogueiro britânico diz que brasileiros exageram na rejeição ao Brasil



14 maio 2015


Pouco depois de chegar a São Paulo, fui a uma loja na Vila Madalena comprar um violão. O atendente, notando meu sotaque, perguntou de onde eu era. Quando respondi "de Londres", veio um grande sorriso de aprovação. Devolvi a pergunta e ele respondeu: ‘sou deste país sofrido aqui’.
 
Fiquei surpreso. Eu - como vários gringos que conheço que ficaram um tempo no Brasil - adoro o país pela cultura e pelo povo, apesar dos problemas. E que país não tem problemas? O Brasil tem uma reputação invejável no exterior, mas os brasileiros, às vezes, parecem ser cegos para tudo exceto o lado negativo. Frustração e ódio da própria cultura foram coisas que senti bastante e me surpreenderam durante meus 6 meses no Brasil. Sei que há problemas, mas será que não há também exagero (no sentido apartidário da discussão)?

Tem uma expressão brasileira, frequentemente mencionada, que parece resumir essa questão: complexo de vira-lata. A frase tem origem na derrota desastrosa do Brasil nas mãos da seleção uruguaia no Maracanã, na final da Copa de 1950. Foi usada por Nelson Rodrigues para descrever “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

E, por todo lado, percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais 'sofrido' deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.



 
Sei que é complicado generalizar e que minha estada no Brasil não me torna um especialista, mas isso pode ser visto nos shoppings, clones dos 'malls' dos Estados Unidos, com aquele microclima de consumismo frígido e lojas com nomes em inglês e onde mesmo liquidação vira 'sale'. Pode ser sentido na comida. Neste "país tropical" tão fértil e com tantos produtos maravilhosos, é mais fácil achar hot dog e hambúrguer do que tapioca nas ruas. Pode ser ouvido na música americana que toca nos carros, lojas e bares no berço do Samba e da Bossa Nova.

Cadê a tapioca?

Pode ser visto também no estilo das pessoas na rua. Para mim, uma das coisas mais lindas do Brasil é a mistura das raças. Mas, em Sampa, vi brasileiras com cabelo loiro descolorido por toda a parte. Para mim (aliás, tenho orgulho de ser mulato e afro-britânico), dá pena ver o esforço das brasileiras em criar uma aparência caucasiana.
 
Acabei concluindo que, na metrópole financeira que é São Paulo, onde o status depende do tamanho da carteira e da versão de iPhone que se exibe, a importância do dinheiro é simplesmente mais uma, embora a mais perniciosa, importação americana. As duas irmãs chamadas Exclusividade e Desigualdade caminham de mãos dadas pelas ruas paulistanas. E o Brasil tem tantas outras formas de riqueza que parece não exaltar...
 
Um dos meus alunos de inglês, que trabalha em uma grande empresa brasileira, não parava de falar sobre a América do Norte. Idealizou os Estados Unidos e Canadá de tal forma que os olhos dele brilhavam cada vez que mencionava algo desses países. Sempre que eu falava de algo que curti no Brasil, ele retrucava depreciando o país e dando algum exemplo (subjetivo) de como a América do Norte era muito melhor.
 
O Brasil está passando por um período difícil e, para muitos brasileiros com quem falei sobre os problemas, a solução ideal seria ir embora, abandonar este país para viver um idealizado sonho americano. Acho esta solução deprimente. Não tenho remédio para os problemas do Brasil, obviamente, mas não consigo me desfazer da impressão de que, talvez, se os brasileiros tivessem um pouco mais orgulho da própria identidade, este país ficaria ainda mais incrível. Se há insatisfação, não faz mais sentido tentar melhorar o sistema?
 
Destaco aqui o que vejo como um uma segunda colonização do Brasil, a colonização cultural pelos Estados Unidos, ao lado do complexo de vira-latas porque, na minha opinião, além de andarem juntos, ao mesmo tempo em que existe um exagero na idealização dos americanos, existe um exagero na rejeição ao Brasil pelos próprios brasileiros. É preciso lutar contra o complexo de vira-latas. Uma divertida, porém inspiradora, lição veio de um vendedor em Ipanema. Quando pedi para ele botar um pouco mais de 'pinga' na caipirinha, ele respondeu: "Claro, (mermão) meu irmão. A miséria tá aqui não!" Viva a alma brasileira!


Sempre diziam a Lily que ela parecia brasileira. Veja o que descobriu quando chegou ao Brasil...


Yara é filha de brasileira e inglês. Queria cozinhar e lavar louça e a família se espantou.


James falou sobre burocracia, desigualdade e adorou o funk carioca!

Fonte



10 coisas que fazemos diariamente consideradas ilegais e punidas com morte na Coreia do Norte

Agora você verá 10 coisas que nós corriqueiramente fazemos, mas que são consideradas ilegais na Coreia do Norte. As normas são fruto de um governo ditatorial instaurado no país há décadas, e proíbem aos cidadãos coisas com as quais estamos acostumados.

Os itens farão muitos de nós consideramos altamente abusivos.

Abaixo estão listados os dez itens. Veja:

Coisas que fazemos diariamente consideradas ilegais e punidas com morte na Coreia do Norte

Lista reúne 10 coisas com as quais você está acostumado fazer diariamente, mas que são entendidas como ilegais pelo estado ditatorial da Coreia do Norte.

1. Beber álcool

Baby trying to drink beer

Em 2013, um militar norte-coreano foi executado por beber álcool durante o período de luto, de 100 dias.

2. Assistir TV

Man sitting on couch watching TV

No ano passado a Coreia do Norte teria executado publicamente 80 pessoas por assistirem a programas de televisão sul-coreanos.

As autoridades forçaram cerca de 10.000 pessoas, incluindo crianças, a assistirem a execução.

3. Dirigir

Traffic jam viewed from inside car

Somente funcionários do Estado estão autorizados a possuir um carro.

Estima-se que apenas uma em cada 100 pessoas na Coreia do Norte possui um carro.

4. Ouvir música

Japanese woman dancing with music on smartphone

No país em questão, é proibido ouvir músicas, a menos que elas exaltem a figura do ditador Kim Jong-um.

5. Manter contato com pessoas do exterior

Contacting each other abroad Source: Getty Images

Fazer uma chamada internacional na Coreia do Norte levou um homem à morte a tiros dentro de um estádio.

6. Ter uma opinião

Caucasian businesswoman arguing in conference room

Qualquer pessoa que for pega emitindo algum comentário contra o regime político do país é enviado para um campo educacional.

7. Deixar o país

Couples waving from deck of cruise ship

Não é permitido se ausentar do país com destino a Coreia do Sul.

8. Ter uma religião

Man holding rosary beads

A Coreia do Norte afirma oferecer liberdade religiosa, mas uma cristã foi acusada de distribuir a Bíblia e acabou executada publicamente pelo “crime.”

9. Ter contato com vídeo de conteúdo voltado ao público adulto

Teenage boy sits in front of TV playing video game

Visualizar ou vender itens com conteúdos voltados ao público adulto é punível com a morte.

10. Navegar na internet

144444444444

A Coreia do Norte não possui acesso à rede mundial de navegação online.

Fonte: Metro


Fonte


 

sábado, 9 de maio de 2015

O reino das falácias de Rachel Sheherazade (Parte 2)

06 maio 2015

sheherazade-reino-das-falacias

Esta é a segunda postagem, de dez, sobre o uso de falácias por Rachel Sheherazade em grande parte, senão em quase todos, de seus argumentos conservadores.
 
 
Depois dos últimos conflitos no complexo do Alemão no Rio de Janeiro entre traficantes e a polícia… depois do saldo de quatro mortes, entre eles, um garoto de dez anos, moradores saem às ruas da favela em protesto contra a polícia.
 
Distorção de fato, falácia de omissão – Sheherazade distorce sutilmente a razão do protesto e omite a gravidade da situação que levou os moradores da comunidade a protestarem contra a atuação local da PM.
 
Manifestantes liderados por coletivos culturais e associações de moradores gritavam “Fora UPP” e vaiavam os policiais que acompanhavam a manifestação.
 
No protesto nenhuma palavra de ordem contra a presença e a violência dos traficantes, eles sim o motivo dos constantes combates que transformaram os morros em praça de guerra.
 
Falácia de omissão 1 – Omite-se aqui a violência policial, que tem sido cada vez mais absurda e torturado e assassinado cada vez mais pessoas inocentes. Ignora-se que a violência policial tem sido tão ou mais cruel quanto a dos criminosos civis.
 
Falácia de omissão 2 – A jornalista omite também aquilo que tem sido o plano de fundo da “praça de guerra” mencionada por ela: a “guerra às drogas”.
 
Falácia de omissão 3 – Nega-se o contexto histórico do narcotráfico em bairros pobres do Rio de Janeiro, ou seja, por que o narcotráfico começou a surgir ali e se há de fato ou não cumplicidade da polícia nesse tipo de atividade criminosa.
 
Total inversão de valores: o bem transformado em mal.
 
Falsa dicotomia – Sheherazade promove um irresponsável maniqueísmo ao carimbar a PM como “do bem” e os narcotraficantes e outros criminosos civis como “do mal”, quando a comunidade tem denunciado constantemente que a polícia tem agido de forma tão criminosa quanto o narcotráfico.
 
Para parte da comunidade, a polícia é uma intrusa. É visita sem convite. É a causa de todos os males da população porque está nos morros para combater o crime.
 
Falácia de omissão, distorção de fato – Omite-se e distorce-se a problemática da criminalidade nas comunidades pobres sob ocupação militar no Rio de Janeiro. Omite-se o cometimento de crimes por parte da própria PM e distorce-se o contexto e a essência da violência que tem castigado aquelas comunidades. Pinta os PMs como se fossem anjos guerreiros lutando contra demônios, quando na verdade há policiais cometendo crimes contra inocentes como sequestro, tortura, homicídio qualificado e, segundo rumores, participação no próprio narcotráfico.
 
E os traficantes precisam vender sua cocaína livremente, querem tocar o terror em paz. Polícia para que?
 
Falácia de omissão – Novamente esconde-se as razões históricas que deram origem ao narcotráfico nos morros cariocas e a ação abusiva e criminosa da própria polícia.
 
Fato é que a comunidade é parte refém e parte cúmplice do tráfico.
 
Falácia de omissão 1 – Absolve-se, sem qualquer investigação decente, a responsabilidade da PM na problemática criminal dessas comunidades.
 
Falácia de omissão 2 – Não se revela como e por que parte dos moradores desses bairros tem sido “cúmplice do tráfico”.
  
Porque o traficante violento e fora da lei é o mesmo que oferece a proteção, que faz a “justiça” na comunidade, e claro, que emprega os aviões, fogueteiros, chefes de boca…
 
Falácia de omissão – Mais uma vez omite-se o envolvimento de policiais no cenário criminal local.
 
Por medo ou conveniência, o morador da favela não pode ou não quer apoiar a polícia, a ordem, o Estado.

Distorção de fato, falácia de omissão – Sheherazade pinta a situação como se os moradores fossem pessoas inconsequentes e sem noção por não estarem apoiando a ação repressiva do Estado. Esconde-se que esse medo também é medo da própria PM, que tem agido tão ou mais criminosamente do que o narcotráfico.
 
Então, trava-se uma espécie de “guerra civil”: a lei contra o crime. E, claro, não há como enfrentar fuzis com flores nas mãos.
 
Falsa dicotomia, distorção de fato, falácia de omissão – Novamente pinta-se o inexistente maniqueísmo entre PM boazinha e heroica e narcotraficantes vilões malignos, distorcendo a realidade sobre o cenário criminal nos morros ocupados pela PM no Rio e escondendo os crimes dos policiais.
 
Infelizmente, no meio desse fogo cruzado, entre polícia e bandidos, sobram os inocentes.
 
Distorção de fato, falácia de omissão – Distorce-se o que realmente tem acontecido nessas comunidades – leia-se a violência policial – e omite-se que os inocentes são vitimados também pela PM.
O juiz de Goiânia, Jessier Coelho autorizou, esta semana, o abortamento de um bebê de cinco meses, que sofre de anencefalia, ou seja, má formação do cérebro. A maioria dos anencéfalos nasce sem vida. Outros sobrevivem, mas por pouco tempo.
 
Anfibologia, distorção de fato – Não está muito claro se esses cinco meses são de gestação ou de idade. Só se sabe que é um feto porque a palavra “abortamento” é dita, mas a confusão fica plantada. Inclusive há a possibilidade de que a omissão da expressão “de gestação” após “cinco meses” tenha acontecido justamente para confundir o telespectador, que pode se sentir induzido a crer que um feto de cinco meses de gestação não é muito diferente de um bebê já nascido com cinco meses de idade.
 
A decisão do magistrado, ele mesmo reconhece, não tem previsão legal. O abortamento no Brasil é considerado crime e só há dois casos em que ele é permitido: gravidez resultante de estupro ou quando a gestação põe em risco a vida da mãe. Apesar disso, o aborto de anencéfalos tem sido cada vez mais comum desde que, em 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por oito votos a dois, autorizar a interrupção da gravidez quando comprovada a deficiência.
 
Falácia de omissão – Omitiu-se que o aborto de fetos anencéfalos deixou de ser considerado crime e passou a ter previsão legal graças à decisão do STF.
 
Agindo assim, o Judiciário tomou, indevidamente, para si, as atribuições do Legislativo. Aos juízes cabe julgar conforme o disposto em lei. Ao Congresso, formular leis.
 
Falácia de omissão – Há a possibilidade, no Direito brasileiro, de o Poder Judiciário exercer algum papel legislativo provisório quando o Poder Legislativo se omite ou se nega a legislar sobre determinada questão dotada de fundo constitucional. Mais informações aqui.

Essa foi também a crítica do ministro Ricardo Lewandowsky, que votou contra a liberação do aborto. Segundo ele, o STF não pode legislar em substituição ao Congresso. Também contrário ao abortamento dos anencéfalos, o então ministro Cesar Peluso foi duro em seu voto. Disse que o procedimento é cruel e uma atitude egocêntrica da mulher, afinal, o feto não pode ser destruído para amenizar um sentimento de frustração.
 
Falácia de omissão 1 – Omite-se que os votos dos dois foram votos vencidos na decisão do STF.
 
Falácia de omissão 2 – Omite-se a opinião dos ministros que votaram a favor do direito da mulher a abortar fetos anencéfalos.
 
Falácia do espantalho – O ministro Peluso comete a falácia ao associar a decisão da mulher de abortar a um mero “sentimento de frustração”, quando na realidade há razões muito mais profundas que levam uma mulher a essa decisão, como o sofrimento de estar gestando um ser que vai morrer de qualquer maneira pouco depois de nascer.
 
Para Peluso, não se pode reduzir o anencéfalo à condição de lixo, uma coisa imprestável e incômoda.
 
Falácia de omissão 1 – Omite-se que o feto anencéfalo não é senciente, por ser carente de um cérebro, e que seres não sencientes não são pacientes morais (seres capazes de sofrer as consequências negativas de uma ação moral).
 
Falácia de omissão 2 – Peluso recusa-se a pensar no sofrimento da mulher gestante de um feto anencéfalo, impondo um desonesto reducionismo ao discutir a questão.
 
Falsa analogia – Compara a decisão da mulher de abortar um feto anencéfalo dotado de chance zero de sobreviver à mera vontade de uma pessoa de descartar um saco de lixo.
 
Eu temo que decisões como essa acabem abrindo uma porta para mais exceções, legalizando-se, por exemplo, o aborto eugênico, que artificialmente seleciona os bebês aptos a viver e destinados a morrer, de acordo com seus defeitos físicos ou mentais.

Redução ao absurdo (reductio ad absurdum) – Sheherazade supõe uma consequência absurda indesejável que, no entanto, é improvável e nada evidencia que venha realmente a acontecer como consequência da legalização do aborto de fetos anencéfalos.

Seria como reviver o pesadelo do ideal purista de Hitler, onde só uma raça superior teria direito a existir. Na Alemanha Nazista, milhões de pessoas foram mortas simplesmente por serem deficientes físicos, mentais, judeus, negros ou homossexuais.

Falácia da bola de neve – A jornalista imagina que, logo depois da suposta legalização do aborto eugênico, “o pesadelo do ideal purista de Hitler” seria “revivido”, num encadeamento de eventos absurdos indesejados que, apesar do medo supostamente expresso, são improváveis de acontecer como consequência da legalização do aborto de fetos anencéfalos.

Falsa analogia – Compara indevidamente fetos que sequer têm condição de sobreviver fora do útero com as vítimas do nazismo. É possível, inclusive, perceber que Sheherazade cometeu um grave desrespeito contra as vítimas do nazismo, ao compará-las com fetos anencéfalos.
 
Para o cirurgião inglês Peter Saunders, a anencefalia é uma deficiência grave, incurável, mortal, mas não tira do feto sua humanidade. Bebês anencéfalos são profundamente dependentes, e devem ser tratados com o mesmo amor e respeito que qualquer ser humano prestes a morrer merece.
 
Falácia de definição muito ampla – Traz um conceito demasiadamente amplo de humanidade individual.

Falta de clareza – Não explicita qual é o conceito dado sobre a humanidade de um indivíduo. Faz uma menção vaga e confusa sobre o que seria essa “humanidade” individual.

Falsa analogia – Compara indevidamente fetos que não vão sobreviver fora do útero com seres humanos já nascidos que estão em leito de morte, quando na verdade há diferenças substanciais entre ambas as categorias.
1 – Liana Friedenbach, 16 anos, sequestrada, torturada, estuprada, esfaqueada e morta pelo menor Champinha, de 16 anos.

2 – Victor Deppman, 19 anos, estudante – assassinado com um tiro na cabeça na porta de casa por um menor de 17 anos.

3 – João Hélio Fernandes morto aos seis anos de idade, depois de ser arrastado pelo asfalto por 7 km e 10 intermináveis minutos. O acusado de fechar a porta do carro e deixar a criança pendurada pelo cinto de segurança foi o menor “E”.

4 – Rodrigo Silva Netto, 29 anos, músico da banda Detonautas, assassinado a tiros por um assaltante menor de idade.

5 – Yorrally Dias Ferreira, 14 anos, assassinada com um tiro na cabeça pelo ex namorado, um menor de 17 anos que filmou a vítima ensanguentada e distribuiu as imagens pela internet.

6 – Silmara da Cruz Alves, dona de casa, 31 anos, assassinada a facadas por um assaltante de 17 anos por causa de 20 reais. Ele ria enquanto narrava o crime à polícia.

7 – Celso Mazzieri, jornalista, 45 anos, enforcado pelo namorado e mais dois menores de 17 anos.

8 – Lucas Bonfim de Jesus, um bebê de um ano e meio, esfaqueado e decapitado por um menor de 17 anos, o “Neguinho da Máfia” que aproveitou a ocasião para estuprar a mãe da criança.

9- Adriana Moura Miranda, 43 anos, estrangulada pela filha menor de idade. O namorado ajudou a queimar e esconder o corpo da vítima.

10 – Cinthya Magaly de Souza, dentista, 46 anos – queimada viva por um assaltante de 17 anos porque só tinha 30 reais na conta.

Eu tenho milhões de motivos para comemorar a primeira vitória da PEC que reduz a maioridade penal. Esses que eu acabei de elencar são apenas dez.

Todas as dez “razões” se enquadram na falácia de apelo à emoção – Não trazem nenhum argumento lógico e racional que prove que a redução da maioridade penal irá diminuir a criminalidade e impedir eficazmente que novos crimes chocantes cometidos por adolescentes delinquentes aconteçam. Ao invés, explora a indignação do telespectador para que ele apoie de maneira completamente irracional e passional a proposta de emenda constitucional que, se sancionada, misturará adolescentes cometedores de delitos com criminosos adultos veteranos.

Conheça as falácias nessas páginas:

http://veganagente.consciencia.blog.br/guia-de-falacias-carnistas/ (lista de falácias antiveganas que pode servir de base para detectar falácias com outros temas)