Economia & Negócios | N° Edição: 2314
| 28.Mar.14 - 20:50
| Atualizado em 01.Abr.14 - 10:54
Agência Standard & Poor's rebaixa
nota de avaliação da economia brasileira, mas empresários, políticos e o
mercado financeiro não levam seus prognósticos a sério
Na
segunda-feira 24, um anúncio feito pela agência americana Standard &
Poor’s (S&P) surpreendeu até mesmo os críticos da política
econômica do governo Dilma Rousseff. A agência rebaixou a nota de
crédito do Brasil de BBB para BBB-. Em bom português significa que, para
a S&P, investir no Brasil passou a ser tão arriscado quanto colocar
dinheiro na Espanha, ainda mergulhada na crise financeira que varreu a
Europa, ou nas Filipinas, país sem relevância econômica global. “O
rebaixamento reflete a combinação de derrapagem fiscal, a perspectiva de
que a execução fiscal permanecerá fraca, em meio a um crescimento
moderado nos próximos anos”, justificou a agência. O diagnóstico
nebuloso, no entanto, provocou um efeito contrário no mercado financeiro
brasileiro. Nos dias seguintes à decisão, o real se valorizou e a bolsa
de São Paulo acumulou altas seguidas. O veredicto definitivo sobre o
rebaixamento da nota brasileira foi dado pelo empresário Abilio Diniz,
presidente do conselho de administração da BRF. “Isso, para mim (a
alteração da nota brasileira), não significa nada”, disse Abilio em um
seminário.
ANÁLISE INCONSISTENTE
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o rebaixamento
não condiz com a solidez da economia brasileira
A indiferença de um empresário do porte de
Diniz pode ser explicada pela falta de credibilidade das agências de
classificação de risco. Nos últimos anos, elas mais erraram do que
acertaram. Quando erraram, foi para valer. A própria Standard &
Poor’s cometeu uma barbeiragem histórica. Ela não só foi incapaz de
prever a crise de 2008 como, ao contrário, avaliou de maneira positiva o
Lehman Brothers no mesmo mês em que o banco quebrou, levando consigo
uma série de outras empresas e desencadeando a crise das hipotecas
imobiliárias nos Estados Unidos. Não por acaso, economistas renomados, a
exemplo do Prêmio Nobel Paul Krugman, denunciam a promiscuidade e os
equívocos dessas agências. “As agências de rating começaram como
pesquisadoras de mercado, vendendo avaliações de dívida corporativa para
pessoas considerando a compra ou não dessa dívida”, escreveu Krugman em
artigo publicado em seu blog no site do jornal “The New York Times”.
“Entretanto, elas se transformaram em algo bastante diferente: empresas
contratadas pelas pessoas que vendem as dívidas para darem às dívidas um
selo de aprovação.” A análise é similar à do economista Luiz Gonzaga
Belluzzo.As agências de risco, diz ele, não têm nenhuma credibilidade
depois da crise de 2008. Na verdade, elas é que deveriam ser rebaixadas.
“O que vem a ser isso, essa decisão das agências? Que significado isso
tem? Isso é coisa de estelionatários”, disse Belluzo ao jornal “O Estado
de S.Paulo”.
Ao rebaixarem a dívida de um país ou de uma
empresa, as agências de classificação de risco praticamente os forçam a
pagar juros mais elevados ou até mesmo impedem que investidores comprem
seus títulos. Muitos fundos não podem, por determinação do estatuto,
colocar recursos em títulos que não tenham, ao menos, o selo de grau de
investimento de duas agências. Na prática, elas são capazes de tornar
real um cenário adverso mesmo se ele não existir, como o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso declarou tempos atrás em uma entrevista. “De
repente vem uma nota dessas e o mercado fica acanhado. Quando coincide
de algum dia depois ter outro acidente negativo, isso produz um
resultado catastrófico”, disse FHC. “E a base da avaliação às vezes é
subjetiva. Quem toma essa decisão sabe do impacto. Há o risco de haver
manipulação”, complementou. Para sorte brasileira, o diagnóstico da
Standard & Poor’s não foi acompanhado pelas principais concorrentes.
O rebaixamento do rating do País gerou
críticas do Palácio do Planalto. Para o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, a decisão da Standard & Poor’s se baseia em uma análise
“inconsistente”. Segundo ele, o rebaixamento não traduz a solidez e os
fundamentos da economia brasileira. “No ano passado, o País cresceu
2,3%, um desempenho superior ao da maioria dos países do G-20”, disse o
ministro. É inegável que o Brasil não vive uma fase de pujança
financeira. A inflação cresceu nos últimos meses, a indústria continua
sem acelerar e os investimentos não avançam no ritmo desejado. Isso é
suficiente para o País ser rebaixado? Há fatores positivos que não podem
ser desprezados. A dívida, por exemplo, está controlada na casa dos 60%
do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo da de países como a França,
detentora da classificação AA e que deve o equivalente a 95,1% de tudo o
que produz. Afinal, para que serve a Standard & Poor’s?
Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS
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