O arquivo do depoimento do ex-presidente Lula aos delegados da PF
na sexta-feira (3/3) já está disponível e pode ser lido na integra aqui.
Tem coisas engraçadas e outras bizarras, que demonstram o nível de
perseguição política a que o ex-presidente tem sido submetido.
Destaco alguns trechos que dão o tom geral do interrogatório.
Vale a pena ler.
“Quem tirou tanta gente da miséria tem direito a comer também”
Declarante: Se quiser continuar, pode continuar, eu sei falar de boca cheia.
Delegado da Polícia Federal: Não, não, eu só não quero atrapalhar o seu café.
Declarante: Na fábrica a gente trabalhava em horário corrido, você
tinha tinha meia hora para comer, então era uma desgraça, você comia
falando, então…
Defesa: Quem tirou tanta gente da miséria tem direito a comer também.
Conserino e mentira da Veja
Declarante: O senhor deveria estar entrevistando o Ministério
Público, trazer o Conserino aqui e fazer pergunta para ele, para ele
dizer que é meu, para ele dizer que o apartamento é meu, para ele dizer
que eu paguei o apartamento, ele que tem que dizer, não eu.
Delegado da Polícia Federal: O que interessa para nós…
Declarante: Que o cidadão conta uma mentira e eu sou obrigado a ficar respondendo a mentira dele.
Delegado da Polícia Federal: Mas se o senhor não responder quem vai responder?
Declarante: Um cidadão que é membro do Ministério Público, que fica a
serviço da Globo, do Jornal Globo, da Revista Veja, fazendo insinuações
e eu tenho que responder? Ele que diga, ele que prove, no dia que ele
provar que o apartamento é meu alguém vai me dar o apartamento, ou o
Ministério Público vai me comprar o apartamento ou a Globo me compra o
apartamento, ou a Veja me compra o apartamento, ou sei lá quem vai me
comprar o apartamento, o que não é possível é que a gente trabalhe tanto
para criar uma instituição forte nesse país e dentro dessas
instituições pessoas que não merecem estar nessa instituição estejam a
serviço de degradar a imagem de pessoas, não sou eu que tenho que provar
que o apartamento é meu, ele é que vai ter que provar que é meu, ele
vai ter, eu espero que ele tenha dinheiro para depois pagar e me dar o
apartamento, eu já estou de saco cheio disso, essa é a verdade, estão
gravando aqui para ficar registrado. Eu estou de saco cheio de ficar
respondendo bobagens.
“O senhor se cansa nas viagens?”
Delegado da Polícia Federal: Mas o que cansa mais, estar fora do país ou viajar para aquele país?
Declarante: Eu acho que o que cansa mais é o avião mesmo, é desgastante.
Delegado da Polícia Federal: Quantas viagens por semana o senhor
aguentaria fazer por mês de avião para outro país, para não ter tanto
desgaste, dentro do suportável, quantas viagens?
Declarante: Ah, eu viajei muito, eu viajei, eu fui o presidente que
mais viajou na história do Brasil, se você pegar da proclamação da
república até a minha chegada à presidência e você somar todas, eles não
viajaram o tanto que eu viajei.
A diária para a PF e o frango no cofre
Delegado da Polícia Federal: A sua segurança é a atual, que vai junto nas palestras, mesmo sendo noutro país?
Declarante: Hein?
Delegado da Polícia Federal: A segurança?
Declarante: A segurança vai, a segurança é permanente.
Delegado da Polícia Federal: Mas ela não recebe da LILS. Ela é sempre remunerada pelo…
Declarante: Não, as coisas dela são as coisas oficiais.
Delegado da Polícia Federal: Certo. Declarante: O salário deles é o
salário que eles ganhavam das forças, não sei se é das forças armadas,
ou seja, a…
Delegado da Polícia Federal: A diária também.
Declarante: Não, a viagem deles é paga, eles vão de avião de
carreira antes, e a viagem deles é paga pelo esquema da presidência, no
meu tempo era bem pouquinho, devia ser uns cem reais, ou seja, querido,
eu vou lhe contar uma coisa, eu quando vejo denúncia de corrupção, eu
vejo e acho que tem muita, eu devo lhe contar uma história, deputado
Paulo, a primeira viagem que eu fiz para a ONU, 23 de setembro de 2003,
os companheiros que levam a bagagem, alguns companheiros de segurança
levaram, eu vou até, porque está filmando aqui, eu vou falar que tive
utilidade um dia na vida, levaram frango com farinha, chegaram no hotel,
aqui no hotel que todo mundo acha que é chic, o Waldorf Astoria, não
tem?
Delegado da Polícia Federal: Sim.
Declarante: Eles imaginaram que o cofre era o microondas e
colocaram o frango lá dentro, e não conseguiram abrir o cofre, acho que o
frango deve estar lá até hoje ou o cara do hotel encontrou o frango. O
pessoal comia, o pessoal da presidência comia coisa que levava, às vezes
cozinhava no quarto, porque a diária não dava para pagar nada.
Delegado
da Polícia Federal: Ainda hoje é assim no poder executivo.
Declarante: Não, nós depois, depois das duas CPI’s, nós criamos um
mecanismo que valorizou um pouco a diária, mas era uma vergonha, o
ministro de estado aqui no Brasil, o Roberto, se viesse um ministro da
Espanha aqui ele não podia convidar para jantar porque ele não podia
pagar, não tinha verba para pagar, e é uma vergonha porque você viaja
para qualquer lugar do mundo, você vai jantar, as pessoas nem, você não
tem nem que olhar se vem nota ou não porque alguém já foi pagar, aqui no
Brasil você é obrigado a pagar do teu bolso ou você é obrigado a falar
para o cara “Olha, dá para você contribuir, repartir aqui?”, agora
melhorou um pouquinho, mas era uma miséria, era uma miséria. Então, eu…
Delegado da Polícia Federal: Mas continua não sendo possível pagar
um hotel decente, eu acho que a diária do poder executivo ainda
continua…
Declarante: Não, eu acho que continua pequena ainda, pequena, mas
melhorou um pouco, era bem pior, você não tem noção do que era isso.
Delegado da Polícia Federal: Eu tenho, eu viajei muito ganhando 59
reais e 60 centavos de diária, eu viajei para fazer combate ao crime
organizado, contra tráfico de drogas na fronteira, crime organizado,
tive que ficar 6 meses ganhando 59 reais e 60 centavos, isso…
Declarante: Mas a partir do meu governo melhorou.
Delegado da Polícia Federal: Isso em 2006. Declarante: A partir daí
melhorou. Eu acho, não, era uma vergonha isso, o poder executivo
brasileiro.
O sitio e o acervo de tralhas
Delegado da Polícia Federal: Quando que os seus amigos compraram o
sítio para o senhor usar para descanso ou pra qualquer outra atividade?
Declarante: Eu sei que eles deram sinal, depois pagaram, e foi
dividido, e eu fiquei sabendo no dia 13 de janeiro de 2011 e fui
conhecer o local dia 15 de janeiro. Sei também, dito pelo companheiro
Fernando, pelo Jacó Bittar e pelo Jonas, de que uma das ideias deles
era, não só que eu tivesse um lugar pra descansar, mas também que
tivesse alguma coisa pra guardar as tralhas de Brasília, que é muita
tralha que a gente ganha.
Delegado da Polícia Federal: E o senhor conseguiu fazer isso?
Declarante: Está lá.
Delegado da Polícia Federal: Tudo?
Declarante: Uma parte, pequena coisa.
Delegado da Polícia Federal: Onde é que está o resto?
Declarante: Hein? Delegado da Polícia Federal: Onde está o resto que saiu de Brasília?
(Percebam que aqui Lula vai falar que há coisas no Sindicato e
num banco. Diferente do que a imprensa disse, isso não foi descoberto
na apuração da PF. Foi Lula quem disse no seu próprio depoimento.)
Declarante: Uma parte deve estar no sindicato, porque tem várias coisas, tem coisas de valor…
Delegado da Polícia Federal: Qual sindicato?
Declarante: Hein?
Delegado da Polícia Federal: Qual sindicato?
Declarante: Acho que é no sindicato nosso, dos metalúrgicos. Tem
coisa de valor que deve estar guardada em banco, tem coisa… Eu já tomei
uma decisão, terminada essa porra desse processo, eu vou entregar isso
para o Ministério Público, vou levar lá e vou falar “Janot, está aqui,
olha, isso aqui te incomodou? Um picareta de Manaus entrou com um
processo pra você investigar as coisas que eu ganhei, então você toma
conta”
Pedalinho
Defesa: Doutor, o senhor me permita uma intervenção, se a linha de
investigação é que o sítio é do presidente e não dos reais
proprietários, isso é prova documental, ou seja, o senhor tem aí a
escritura, o senhor tem o cheque que comprou o sítio. O fato de
frequentar, de ter pedalinho, de ter barco? Nós somos profissionais do
direito, isso não transfere propriedade, isso a imprensa pode explorar,
mas nós, operadores do direito, não podemos explorar isso.
Delegado da Polícia Federal: Eu preciso dar oportunidade ao investigado pra que ele esclareça…
Defesa: Qual seria o crime que o senhor estaria investigando por ter um barco e um pedalinho?
Delegado da Polícia Federal: O mesmo que eu falei desde o início,
que apura o registro da propriedade do sítio, e aqui o ex-presidente
está esclarecendo…
Declarante: Eu fico, acho que não é legal, eu fico constrangido de
você me perguntar de pedalinho e de me perguntar de um barco de 3 mil
reais, sinceramente eu fico…
Defesa: Há uma questão muito importante nessa resposta agora, delegado.
Declarante: Eu acho que depõe contra, não sei, depõe contra mim. Fica bem pra Veja, mas desde então…
(…)
Delegado da Polícia Federal: Sim, sim. Mas esse é o momento para a
gente esclarecer. E os senhores têm toda a liberdade de pedir pra que
seja esclarecido.
Declarante: Eu fico chateado de ver um Delegado de Polícia Federal se preocupar com pedalinho (ininteligível).
Delegado da Polícia Federal: Eu só tenho uma preocupação aqui, é lhe
dar oportunidade para o senhor responder isso.
Declarante: É o
pedalinho.
Apê no Guarujá
Declarante: Foi depois dessa primeira visita.
Delegado da Polícia Federal: Qual era a intenção dessa segunda visita?
Declarante: Hein? Delegado da Polícia Federal: Qual era a intenção
da segunda visita?
Declarante: Quando eu fui a primeira vez, eu disse
ao Léo que o prédio era inadequado porque além de ser pequeno, um
triplex de 215 metros é um triplex “Minha Casa, Minha Vida”, era
pequeno.
Delegado da Polícia Federal: Isso é bom ou é ruim?
Declarante: Hein? Delegado da Polícia Federal: Isso é bom ou é ruim?
Declarante: Era muito pequeno, os quartos, era a escada muito,
muito… Eu falei “Léo, é inadequado, para um velho como eu, é
inadequado.” O Léo falou “Eu vou tentar pensar um projeto pra cá.”
Quando a Marisa voltou lá não tinha sido feito nada ainda. Aí eu falei
pra Marisa: “Olhe, vou tomar a decisão de não fazer, eu não quero” Uma
das razões é porque eu cheguei à conclusão que seria inútil pra mim um
apartamento na praia, eu só poderia frequentar a praia dia de finados,
se tivesse chovendo. Então eu tomei a decisão de não ficar com o
apartamento.
Delegado da Polícia Federal: Quanto tempo essa segunda visita da dona Marisa na…
Declarante: Eu acho que eu estou participando do caso mais
complicado da história jurídica do Brasil, porque tenho um apartamento
que não é meu, eu não paguei, estou querendo receber o dinheiro que eu
paguei, um procurador disse que é meu, a revista Veja diz que é meu, a
Folha diz que é meu, a Polícia Federal inventa a história do triplex que
foi uma sacanagem homérica, inventa história de triplex, inventa a
história de uma offshore do Panamá que veio pra cá, que tinha vendido o
prédio, toda uma história pra tentar me ligar à Lava Jato, toda uma
história pra me ligar à Lava Jato, porque foi essa a história do
triplex. Ou seja, aí passado alguns dias descobrem que a empresa
offshore, não era dona do triplex, que dizem que é meu, mas era dono
do triplex da Globo, era dono do helicóptero da Globo. Aí desaparece o
noticiário da empresa de offshore. A empresária panamenha é solta
rapidamente, nem chegou a esquentar o banco da cadeia já foi solta
porque não era dona do Solaris que dizem que é do Lula, ela é dona do
Solaris que dizem que é do Roberto Marinho, lá em Parati. E desapareceu
do noticiário. E eu fico aqui que nem um babaca respondendo coisas de um
procurador, sabe, que não deve estar de boa fé, quando pega a
revista Veja a pedido de um Deputado do PSDB do Acre e faz uma denúncia.
Então eu não posso me conformar. Como cidadão brasileiro, eu não posso
me conformar com esse gesto de leviandade.
Delegado da Polícia Federal: Eu, pessoalmente, presidente, eu estou atrás da verdade pessoalmente. Ouvi todos os colaboradores…
Declarante: Se você está atrás da verdade, você mande prender um
cidadão do Ministério Público, que diz que o apartamento é meu, mande
prendê-lo.
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