sábado, 25 de julho de 2015

Reinventando a história: o mito da estabilidade no governo FHC

julho 24, 2015 10:31 
  
Reinventando a história: o mito da estabilidade no governo FHC
Transformar oito anos de instabilidade monetária, colapsos cambiais e bancarrotas nacionais em uma rósea paisagem de estabilidade parece ir bem mais longe do que uma reinvenção da história
Por Lecio Moraes, no Blog do Renato Rebelo

Efeméride convocada no Senado na semana passada comemorou o aniversário do Plano Real. Um importante plano que debelou a hiperinflação, mas que abriu também caminho para implantação plena às chamadas políticas neoliberais de abertura e desregulamentação. Entretanto, o Plano não trouxe estabilidade monetária e financeira para o país, como muitas vezes se divulga. O Plano trouxe, juntamente com as políticas neoliberais, elevados custos relativos à estagnação econômica, bem como os relativos ao endividamento público.

Na homenagem do Senado os oradores tentaram sucessivamente vincular o sucesso do Real ao próprio governo FHC e suas políticas neoliberais. Nessa tentativa, os oito anos de FHC, no pós-Real foi “reinventado” como um período de estabilidade monetária e financeira para o país.

Vejamos como o exame das variáveis de taxa de inflação, taxa cambial e taxa de juros mostram como os governos FHC não trouxeram nenhuma estabilidade à economia, nem mesmo a monetária.

Restabelecendo a história: a continuidade da instabilidade monetária pós-Real
Comecemos pela suposta estabilidade monetária. O que se alega é que o Plano Real, além de eliminar a hiperinflação, criou uma moeda de valor estável, o que já se revelou nos oito anos dos governos FHC.

Primeiro vejamos como o Plano Real funcionou. A ideia do Plano na verdade nada teve de original: depois de alinhar os preços com a URV (unidade referencial de valor, essa sim uma boa ideia), apenas atrelou a nova moeda, o real, ao dólar, praticamente ao par (um por um). Com isso houve uma súbita valorização da nova moeda, tornando os bens importados ainda mais baratos.

O custo da manobra, no entanto, foi a imediata supervalorização da moeda, acompanhada por uma elevação das taxa de juros a níveis estratosféricos (na virada de 1994/95 chegou a 60% ao ano) para atrair dólares.

No entanto, a taxa de inflação pós-real se manteve longe da estabilidade. Em 1995, a taxa foi de 22%, e continuou variando 9% ao ano, em média, até 2002. No primeiro governo, a inflação já tinha acumulado 43%. Somando os dois governos, o acumulado chegou a 100%. E pior, ao acabar o período, em 2002, a taxa tinha voltado a uma inflação de dois dígitos, marcando 12,5% e subindo. Só para comparar, o acumulado de oito anos de Lula foi de 56% e os quatro de Dilma chegaram a 27%.

Essas elevadas taxas de inflação prejudicaram a estabilidade cambial, desafiando até a incrível taxa de juros real adotada, que terminou gerando apenas riqueza financeira para os mais ricos e reduzindo o investimento produtivo.

Restabelecendo a história: instabilidade e colapso cambial
Analisemos agora o comportamento da taxa de câmbio. Ela afeta ao mesmo tempo a moeda, o crédito e o nível de atividade econômica. E, nas economias periféricas, é uma variável que é capaz de levar um país à bancarrota.

Com o real atrelado ao dólar, a taxa cambial iniciou 1995 em R$ 0,84 o dólar, uma taxa muito valorizada, como já vimos, para deter a hiperinflação.

Mas junto com os preços das importações, também caiu a produção interna e abriu-se um déficit crescente nas contas externas. Essas contradições do Plano Real impediram a manutenção estável do câmbio, que foi sendo desvalorizado continuamente até já ter perdido 43% de seu valor até 1998. Como a taxa inflacionária manteve-se maior que a desvalorização do câmbio, o governo acabou por não conseguir controlar nem o câmbio, nem o déficit externo e nem o fluxo especulativo de dólares atraído pelos juros estratosféricos. E sobreveio a debacle.

Em janeiro de 1999, o Brasil quebrou pela primeira vez na mão de FHC. As reservas em dólares se evaporaram e o real se desvalorizou, com sua taxa chegando até quatro reais por dólar.

Sumiram os dólares, ficamos sem crédito externo para manter as importações, mas as dívidas cresceram. O país só saiu da bancarrota graças a empréstimos do governo americano e outros apoiados pelo FMI. A maxidesvalorização em 1999 acabou por atingir 40%. O governo brasileiro e sua moeda não tinham mais confiança externa. Muito longe já estávamos de qualquer estabilidade monetária e financeira.

Porém, um novo desastre já estava a caminho. A economia estagnada, uma moeda nacional com valor instável, sempre com tendência de queda, e baixo nível de reservas tornaram o Brasil outra vez alvo fácil da especulação cambial. A partir de maio de 2002, sobreveio novo ataque especulativo contra o real. E o Brasil quebrou pela segunda vez na mão de FHC.

De novo, nossa moeda se desvalorizou fortemente, chegando a mais de três reais o dólar. Ficamos mais uma vez sem dólares e sem crédito externo. Outra vez o governo FHC e o Banco Central perderam o controle monetário e cambial. A salvação veio com o FMI: outro financiamento de emergência foi arranjado, muito maior que o de 1999. Mas dessa vez ele veio o junto a exigência de monitoramento trimestral, tendo em vista o descrédito da economia e do governo.

A incrível taxa de juros estratosférica
Por fim temos a variável da taxa de juros. Foi exatamente nos primeiros anos do Plano Real que nossa economia se consolidou como a campeã mundial de taxas de juros reais elevadas e perenes. Passamos a ser a economia bizarramente mais juros-dependente do mundo. Uma rara anomalia que bem longe está de qualquer definição de estabilidade financeira. A parte mais pesada da herança deixada ao Brasil pelas políticas neoliberais de FHC.

A taxa Selic que iniciou 1995 a 60% ao ano, só caiu abaixo de 40% em 1998. E abaixo de 30% ao ano em meados de 1999. Em apenas dois anos os credores da dívida pública federal dobraram seu investimento, e em quatro anos o quintuplicaram. O total da dívida pública líquida se multiplicou durante oito anos, saindo de apenas 37% do PIB, em 1994, para mais 60% em 2002. Nunca um país viu sua dívida pública subir dessa forma em tempos de paz.

A conjunção de elevadas taxa reais de juros, instabilidade econômica e vasta fraude bancária detonou, em 1997, a maior crise bancária do século 20. Neste ano, três dos dez maiores bancos do país quebraram (Banco Nacional, Mercantil de Minas e Bamerindus). O que desencadeou também o maior resgate público de investimentos privados depositados já visto no Brasil.

Uma realidade bem infeliz
O país entregue ao governo Lula, em 2003, foi um país em situação de instabilidade cambial crônica, inflação em alta, sem crédito externo e sem reservas próprias de divisas.

Os números desagradáveis aqui expostos contam uma história bem diferente da inventada “estabilidade monetária e financeira” trazida pelo Plano Real e vivida durante os governos FHC. Esses números são facilmente acessíveis em sites como Ipeadata, Banco Central e IBGE. Não são nem nunca foram secretos. Qualquer um pode obtê-los.

Transformar essa verdade de oito anos de instabilidade monetária, colapsos cambiais e bancarrotas nacionais em uma rósea paisagem de estabilidade parece ir bem mais longe do que uma reinvenção da história, beira mais a simples fraude.

Foto: Antonio Cruz/ABr

Manual básico para checagem de fatos (2ª Parte)

Por Africa Check em 07/07/2015 na edição 858

Reproduzido do site Africa Check, um projeto de checagem de notícias financiado pela Fundação France Press na África e apoiado pelas empresas Google e Omidyar, além da Fundação Open Society

Esta é a segunda e última parte do Manual Básico para checagem de fatos. Para acessar a primeira parte do Manual, clique aqui.

4. Fontes de dados, peritos e fontes coletivas
O fato de uma pessoa fazer uma denúncia e não poder oferecer provas que sustentem suas declarações torna mais difícil a verificação, mas não significa que seja errada. Para verificá-la, você pode procurar fontes de dados, peritos reconhecidos e as fontes coletivas [crowdsourcing, em inglês].

Fontes de dados

Existem inúmeras fontes de dados úteis para a verificação de denúncias que as pessoas fazem. Dependendo do tipo de denúncia que você está verificando, você pode procurar informações em documentos do governo e estatísticas oficiais, registros de empresas, estudos científicos e bancos de dados de pesquisas sobre saúde, registros escolares, prestação de contas de projetos de caridade, jornais de ordens religiosas etc.

Reunimos nossas dicas e exemplos de fontes de dados que consideramos úteis em nossa página Recursos para Verificação de Fatos. Assim como com todas as fontes de informação, é importante que você conheça o máximo possível sobre a organização que coletou e possui os dados antes usá-los.

Peritos

Dependendo do assunto – se a denúncia se refere a questões médicas ou exige conhecimento pormenorizado da contabilidade de uma grande empresa ou aborda uma questão legal –, seria mais apropriado você verificar a denúncia conversando com alguns peritos reconhecidos.

Quando o fizer, a coisa mais importante é saber e declarar qualquer interesse que o perito possa ter na questão que possa causar, ou ser visto como uma causa, uma parcialidade em sua análise de uma ou de outra maneira.

Às vezes, as pessoas com quem você fala procuram ficar anônimas. Isso enfraquece o seu relatório, mas se a informação que elas derem puder ser verificada de forma independente, pode ser aceitável. Uma informação de uma fonte anônima – que só admite falar extraoficialmente – que não puder ser verificada, não deve ser utilizada.

Fontes coletivas

Também aqui, dependendo do assunto, talvez a melhor fonte de informação para uma denúncia específica não sejam os documentos ou um perito em particular, e sim o conhecimento que se pode encontrar na comunidade mais ampla, conhecido como crowdsourcing (fontes coletivas).

Se uma autoridade afirmar, na manhã de um dia de eleição, que todas as seções eleitorais receberam suas cédulas a tempo, ou um grupo ambientalista afirmar que uma fábrica está poluindo a vizinhança, as pessoas que estão em melhores condições para confirmar ou negar o que eles dizem podem ser as da comunidade mais ampla.

Quando você procurar informações junto à comunidade, você deverá tomar cuidado com algumas coisas. Em primeiro lugar, é importante que você garanta a segurança de suas fontes. Em muitos casos, informações enviadas por SMS, por e-mail ou por outros meios pode ser interceptada e em alguns países as pessoas que fornecem informações “delicadas” a sites jornalísticos podem vir a sofrer com isso. Portanto, é importante que os meios de comunicação estabelecidos sejam os mais seguros possíveis.

Ao mesmo tempo, você precisa saber quem são suas fontes e se as informações que elas fornecem são confiáveis. Procure verificar a identidade de qualquer pessoa que lhe envie informações. Informações que sejam enviadas anonimamente deveriam ser tratadas com o necessário ceticismo. Tome cautela com e-mails enviados por grupos que empurram programas e usam provas não necessariamente confiáveis como se fossem representativas.

5. Detectando falsificações
É claro que aquilo que você quer verificar pode não ser uma denúncia falada ou escrita, e sim, material que lhe foi enviado ou publicado online – fotos, vídeos, blogs ou outros conteúdos. Na era digital, fotografias, vídeos, documentos de texto, websites, Twitter e outras redes sociais podem ser falsificadas. Como detectar algo genuíno de uma falsificação? Nossos testes são os seguintes.

As palavras ou imagens parecem verdadeiras?

Começando pelo princípio, antes mesmo que você começa a procurar provas, a coisa mais importante a fazer com o material enviado é envolver o seu cérebro. As imagens ou palavras parecem verdadeiras? A linguagem ou sentimento manifestado seria a maneira pela qual uma pessoa fala? Seria o tipo de coisa que eles realmente pudessem ter dito?

Os colegas compreendem quando as pessoas são enganadas por uma farsa. Mas se for óbvio, depois do caso, que a pessoa que foi citada jamais teria dito aquilo que lhe foi atribuído e você não verificou, você pode passar por um idiota.

Portanto, antes de tudo, pense. Depois, se ficar em dúvida, verifique com a pessoa ou organização que foi citada ou mostrada para comprovar.

Existe um detalhe revelador fora de lugar?

Os farsantes muitas vezes são descobertos por detalhes. Seja sempre cético. A citação usada neste desenho não era incorreta, mas algo deveria levar você a desconfiar que provavelmente o autor não foi o 19º presidente dos Estados Unidos.

Veja a frase usada e pergunte se poderia ter sido dita naquela hora. Veja a foto ou o vídeo e pergunte se ela se encaixa nas leis de luz e sombra. Ao fundo, há coisas que deveriam estar lá e não estão? E outras que não deveriam estar e estão? A luz do sol reflete o clima que se poderia esperar, naquele lugar, nessa época do ano? As paisagens, plantas, carros e prédios são do tipo que você esperaria ver?

Se os detalhes estiverem fora de lugar, pode ser uma falsificação.

Isso – ou algo semelhante – já apareceu antes em algum lugar?

Ao contrário dos raios, os farsantes muitas vezes agem duas vezes no mesmo lugar. Se você suspeitar de uma imagem ou de um texto, verifique online se aquilo – ou algo semelhante – já apareceu antes em outro lugar.

Faça uma busca no Twitter com referência ao material com a hashtag “fake” e veja se outros também detectaram alguma coisa no Twitter.

Se você acha que usou antes foi texto, então faça a busca no Google.

Se for uma foto ou um vídeo no formato PNG, então entre num website como o www.tineye.com, por exemplo, que permite que você verifique se as fotos ou os vídeos já apareceram anteriormente online. Se a mesma imagem, ou muito semelhante, tiver sido publicada anteriormente em circunstâncias diferentes, aquilo que você recebeu pode ser uma falsificação.

Teria a pessoa enviado material para outros lugares?

Lembre-se que muitas vezes a pessoa usa o mesmo nome de usuário para várias plataformas. Portanto, se você está procurando material semelhante de uma pessoa, coloque seu nome de usuário em plataformas distintas, como Google Search, Facebook, Flickr, Twitter, YouTube, 123people.com, blogsearchgoogle.com, Technorati.com.

Verifique com a pessoa que enviou a mensagem se ela está onde diz que está

Se você tiver dúvidas sobre a fonte de alguma informação e tiver o seu endereço digital – o código IP – do computador pela qual ela foi enviada, você pode verificar o país em que o computador está localizado pelo endereço www.domaintools.com/reverse-ip/.

6. Seja persistente
A verificação de fatos toma tempo e persistência. Se alguém tentar enganá-lo, recusando acesso às informações a que você tem direito, ou deixando de fornecer provas que sustentem a denúncia, continue persistindo.

Verificar um debate público não é fácil. Muitas vezes, a malandragem está no detalhe. Para encontrá-la você precisa resistência e persistência.

7. Fique aberto e aceite críticas
Finalmente, mantenha-se aberto na forma pela qual você escreve relatórios de verificação de fatos, fornecendo links para as provas que utilizar. E seja honesto: se cometer um erro, reconheça-o. Mesmo assim, você terá que aceitar que não irá convencer ninguém.

A maioria das pessoas mostra certa relutância em aceitar provas que vão de encontro àquilo em que acreditam. E algumas delas não se convencem nem com argumentos cuidadosos, nem com links vinculando às provas. Trata-se de um fenômeno que os cientistas chamam “persistência de crenças desacreditadas” e descreve um estado em que, segundo os psicólogos Craig Anderson e Lee Ross, “as crenças podem resistir a uma lógica potente e a desafios empíricos. Elas podem resistir e mesmo ser reforçadas por provas que observadores imparciais concordariam que logicamente enfraqueceriam tais crenças. Elas podem até resistir à destruição total de suas provas originais”. Algumas pessoas, você simplesmente não conseguirá convencer.

***

Manual básico para checagem de fatos (1ª parte)

Por Africa Check em 07/07/2015 na edição 858 
Reproduzido do site Africa Check , um projeto de checagem de notícias financiado pela Fundação France Press na África e apoiado pelas empresas Google e Omidyar, além da Fundação Open Society

Esta é a primeira parte do Manual Básico para checagem de fatos. Para acessar a segunda e última parte do Manual, clique aqui.
Seja você um repórter, um ativista, um líder empresarial, um agente de saúde ou um simples cidadão, como é que você pode saber quando as personalidades públicas dizem a verdade e quando as distorcem? Como é que você pode decidir quais as denúncias que são justas e em quem confiar? Para produzir os textos para este site, usamos nossa própria experiência enquanto jornalistas e a ajuda e assistência de especialistas em vários campos para produzir esta lista:

1. Pergunte onde estão as provas
Sempre que alguém, na vida pública, faz uma denúncia, seja ela grande ou pequena, a primeira coisa que você deveria perguntar – uma vez que você decidido se a denúncia é plausível e vale a pena investigar – é “Onde estão as provas?”

Hoje em dia, muitas pessoas concordam que na preparação para a guerra do Iraque em 2003, pouca atenção foi dada à óbvia falta de provas sobre a possibilidade do Iraque possuir as armas que diziam que tinha.

Ali e em outras situações, muitas vezes há um bom motivo para que uma autoridade se recuse a revelar as provas que sustentariam uma denúncia. Talvez elas precisem, como os jornalistas, proteger suas fontes. Mas se as fontes precisam de proteção, nós ainda precisamos das provas. E, muitas vezes, o motivo pelo qual as autoridades se recusam a fornecê-las é que as provas são frágeis, parciais ou contraditórias.

Portanto, comece por pedir as provas e se nenhuma lhe for apresentada, você já sabe que há, ou poderá haver, um problema com essa denúncia.

2. As provas são comprováveis?
O passo seguinte, uma vez que as provas tenham sido providenciadas, é ver se elas podem ser verificadas. Um dos testes-chave feitos antes que o resultado de uma nova experiência seja aceito pela comunidade científica é ver se a experiência pode ser repetida por outros pesquisadores com resultados semelhantes. Como disse Thomas Huxley, um importante biólogo do século 19, “o homem da ciência aprendeu a acreditar na justificativa não pela fé, mas pela comprovação”.

No debate público seria a mesma coisa. Quando uma personalidade pública, seja ela do campo que for, fizer uma denúncia que quer que tenha credibilidade, deveriam ser pedidas provas verificáveis. Caso contrário, você se limitará a confiar no que eles dizem?

3. As provas são confiáveis?
Em tudo o que pesquisamos, ainda não há uma única lista de testes que cubra os diferentes tipos de prova que você possa vir a acessar antes de decidir que são confiáveis. Abaixo, as principais perguntas que fazemos.

Poderiam eles saber o que denunciam que sabem?

Se as provas se baseiam no relato de uma testemunha ocular, saberia essa pessoa o que denunciam que sabem? Onde estavam? Seria possível acreditar que essas pessoas tivessem acesso a esse tipo de informação? A informação seria em primeira ou segunda mão? Seria algo que ouviram ou em que acreditaram? Seria algo que possa ser conhecido?

Caso existam dados, quando foram coletados?

Um dos truques preferidos das personalidades públicas é apresentar informações coletadas muitos anos antes como se fossem de hoje, sem mencionar as datas. Mas os dados envelhecem e, ao contrário dos bons vinhos, isso não é bom. Para compreender as informações, você precisa saber quando foram coletadas e como era o quadro antes e depois. Um dos truques preferidos dessas pessoas é escolher as datas de início e do fim, não por que eles reflitam o verdadeiro desempenho ao longo do tempo, mas para que os números pareçam bons, começando na parte de baixo de um ciclo e terminando no topo.

E a amostra foi suficientemente ampla? Foi integral?

Uma pesquisa de opinião que represente os pontos de vista de algumas dúzias de pessoas – ou mesmo algumas centenas – provavelmente não será representativa da opinião de uma população de milhões. A maioria das organizações de pesquisa sugere que uma amostra bem selecionada de cerca de mil pessoas seriam o mínimo para produzir resultados precisos. Porém, é surpreendente o número de vezes que pesquisas feitas com umas poucas centenas de pessoas, ou umas poucas dúzias, sejam citadas por personalidades públicas, e divulgadas na mídia, como representativas de opiniões mais abrangentes.

E lembrem-se, mesmo as pesquisas de ampla escala – que não procuram em todos os lugares apropriados – podem dar um quadro errôneo. Isso é algo que algumas pessoas chamam o “problema do cisne negro” – uma referência à suposição equivocada feita na Europa durante séculos de que todos os cisnes eram brancos porque todas as centenas de milhares de cisnes, ao longo dos anos, também eram. E, na realidade, só depois que o explorador holandês do século 17,  Willem de Vlamingh,  voltou à Europa depois de descobrir cisnes negros na Austrália ocidental, é que as pessoas a perceber o erro. A “amostra” anterior fora ampla, mas não suficientemente abrangente.
Como foram coletados os dados?

Não é só a abrangência da amostra que importa. Quando se faz uma pesquisa de opinião, devem ser ouvidas pessoas de todos os grupos sociais relevantes – ambos os gêneros, raças distintas, grupos socioeconômicos e regiões diferentes – e nas proporções corretas, caso se pretenda que a pesquisa seja representativa da sociedade como um todo.

Como foi feito o estudo? Pesquisas semelhantes feitas de porta em porta podem produzir resultados diferentes daquelas feitas por telefone, pois a reação do entrevistado pode ser diferente se ele falar com alguém cara a cara ou por telefone.

E os estudos que confiam na capacidade dos entrevistados preencherem formulários tendem a mostrar mais erros do que as entrevistas cara a cara, principalmente entre pessoas com pouco conhecimento de leitura. Se a denúncia se basear numa pesquisa como essa, isso poderia ser um fator?

Entretanto, o que as pessoas que participam de um estudo ou de uma experiência sabem, ou pensam que sabem, pode afetar o resultado. Isso chama-se “efeito placebo” e explica por que muitas vezes as experiências médicas não são, ou não deveriam ser, divulgadas – isto para que as pessoas que estão sendo estudadas não saibam a natureza do tratamento que receberam ou deixaram de receber.

E quanto ao quadro mais amplo?

Uma vez que você já saiba como os dados foram coletados, avalie a forma pela qual eles são apresentados. A pessoa está dizendo a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade? Personalidades públicas de todas as áreas gostam de selecionar cuidadosamente aquilo que vão dizer a você e o que não irão dizer, salientando as provas que irão favorecer seus argumentos e deixando de lado aquilo que seja menos saboroso.

Os dados apresentados estão inseridos num contexto? E teriam significado semelhante se outros fatores, não mencionados, fossem levados em consideração?

Um exemplo: quando um político diz que aplicou uma “quantia recorde” no sistema público de saúde e não menciona a inflação, sua afirmação pode ser verdadeira, porém enganosa, caso a inflação signifique que aquela quantia está caindo, “em termos reais”. Portanto, verifique sempre se não existem outros fatores que compõem o quadro mais amplo.

E lembre-se sempre de avaliar os números proporcionalmente. Uma verba de 50 milhões de dólares num projeto de saúde parece gigantesca para uma comunidade pequena. Porém, se for dividida entre uma população e seu programa implicar uma aplicação por 10 anos, irá parecer bem menos generosa do que pareceu à primeira vista.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

A burrice reinante na música brasileira realmente popular é mais perigosa do que você imagina


Infelizmente, a constatação é óbvia: nunca vivemos em uma época em que a música popular brasileira realmente popular apresentasse um grau de burrice tão grande como nos dias atuais. A impressão generalizada é que há algum tipo de pacto de estupidez entre gente que se diz “artista” e uma imensa manada de pessoas que transformaram a palavra “plateia” em sinônimo de agrupamento de retardados.

A falta de capacidade cognitiva da grande maioria de brasileiros que consome música no Brasil gera uma total incompreensão sobre o significado poético de canções que ainda insistem em trazer letras que necessitem de uma capacidade cerebral superior a de um peixe para que possam ser apreciadas. Para esta geração, as canções de caras como Lenine, Ney Matogrosso e Gilberto Gil soam como tratados de Física Quântica musicados.

Hoje, é cada vez maior a dificuldade de prender a atenção destes milhões de verdadeiros “bagres”. Isso explica porque o sertanejo chamado de “universitário” e o funk imbecilizante se tornaram as novas coqueluches dentro do mercado nacional. E quando escrevo “mercado”, nem me passa pela cabeça algo que se relacione com venda de discos, já que hoje também vivemos em tempos em que tudo pode ser pego “de grátis” na internet. Estes dois estilos musicais encontraram um público perfeito, desprovido de qualquer sinal de sensibilidade poética, para quem o importante é “beijar muito na balada”. Para quem achava que a “axé music” era o fundo do poço, trataram de cavar mais um pouco para checar a uma camada de “pré-sal da estupidez”. Hoje somos o país do “tche tche rerê tetê barabará bereberê”, do “vem novinha sentar no meu colo” e de outras merdas do gênero.

A total falta de capacidade cerebral deste público foi tornada explícita recentemente com a tal polêmica a respeito do que o Zeca Camargo disse e, principalmente, no apoio que a iniciativa dos pais do falecido Cristiano Araújo – que, sabe-se lá por quê, resolveram processar o apresentador da Globo – vem recebendo por parte deste mesmo público retardado que citei anteriormente. Quase ninguém realmente entendeu o que o Zeca falou.

Neste exato momento, você deve se perguntar “Regis, por que você está escrevendo isto?” e a minha resposta é simples: porque estou cada vez mais preocupado em ver que um imenso rebanho de gente descerebrada está cerceando o direito de pensar de maneira diferente do senso comum imbecilizado. Porque já saquei que fãs deixaram de ser apenas idiotas comuns para se tornarem censores imbecis. Porque já percebi que programas de TV se tornaram um imenso painel de cretinice para buscar a audiência desta imensa turma de bucéfalos, com a cumplicidade medrosa de atores, atrizes, cantores, cantoras e músicos em geral, que se escondem atrás de discursos e elogios mentirosos para não desagradar a verdadeira horda de mentecaptos que os assistem e consomem seus produtos.

Sim, este é um texto de um sujeito velho, ranheta e cada vez mais intolerante com o estado de coisas no Brasil, que ainda não se cansou de tentar elevar a voz para condenar o emburrecimento coletivo que assola o nosso País. Faço isso porque sei que uma Nação repleta de ignorantes é o prato cheio para a desgraça. Foi assim que surgiu o nazismo e o tal Estado Islâmico: repita uma mentira dez milhões de vezes para um ignorante e ela se tornará uma verdade para ele.

Pense nisto… 


'A Globo é o principal agente da imbecilização da sociedade'

23/07/2015 - Copyleft

A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX.
Igor Fuser, Diário Liberdade (via Revista Fórum)


reprodução

A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar – no qual se transformou no gigante que é hoje – até Fernando Henrique Cardoso. Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo “Brasil Ame-o ou Deixe-o” e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Mais tarde, após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.

No plano cultural, é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica.

A Globo impôs um português brasileiro “standard”, que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira específica de falar de cada região. Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria, psicologia complexa, os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio. Aliás, são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais.

A postura racista da Globo não poupa nem sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa.

O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz. Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial raramente aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem.

No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo.

A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet.

Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público.

*Igor Fuser é jornalista e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)



 

domingo, 12 de julho de 2015

O mito do brasileiro cordial em tempos de intolerância


Aquele que se diz “do lado do bem” é o tal tipo que usa anonimamente as redes sociais para destilar seu conservadorismo raivoso contra potenciais inimigos, colocando-se como exemplo definitivo da mais absoluta retidão moral


A figura do povo alegre, agregador e tolerante, geralmente atribuída ao brasileiro, é mais um daqueles mitos que tardam, mas não falham em mostrar sua verdadeira face. O termo “cordial” – imortalizado pelo historiador Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil,– é comumente mal interpretado.

No caráter etimológico defendido pelo autor, não é exatamente “cortês” ou “bondoso” o que definiria o brasileiro. “Cordial” vem de coração. Ou seja, é o tipo de pessoa que se orienta de forma passional, muito mais do que pela racionalidade. E isso, na prática, pode ser bem perigoso, como temos visto com uma assombrosa constância nos últimos tempos.

A relação conflituosa entre o amor e o ódio tem levado às ruas atitudes que desconhecem os limites do bom senso. Perdemos a vergonha da nossa vergonha e agora gritamos ao mundo a revolta generalizada contra tudo e contra todos. No debate político, importamos do futebol a rivalidade e os palavrões; das novelas, vieram os arquétipos de “mocinhos” e “vilões” e seu consequente maniqueísmo simplificador.

O problema é que, nesse caso, aquele que se diz “do lado do bem” é o mesmo que pede cadeia para adolescentes, pena de morte, justiçamento, repressão a homossexuais. É o mesmo que objetifica as mulheres, faz piadas racistas, fura a fila e “molha a mão” do guarda para se livrar de uma multa. É o tal tipo que usa anonimamente as redes sociais para destilar seu conservadorismo raivoso contra potenciais inimigos, mas, claro, colocando-se como exemplo definitivo da mais absoluta retidão moral.
 
Casos como o da menina de 11 anos apedrejada por seguir o Candomblé, a apresentadora negra atacada com ofensas na internet, os adesivos que colocam a primeira presidenta do país em poses sexuais vexatórias, o homem amarrado a um poste e linchado no Maranhão, as estatísticas crescentes de assassinatos de LGBTs e jovens da periferia mostram que, definitivamente, estamos longe de ser o país do respeito às diferenças.

Uma coisa é certa: caíram as máscaras até hoje tão utilizadas para esconder as formas mais perversas de preconceito e exclusão. O que resta é a face nua do autoritarismo, escancarada por um setor da sociedade que trabalha diuturnamente para golpear a democracia, conquistada a duras penas. A raiva agora exposta se revela ávida por colocar em prática seus delírios mais violentos contra grupos historicamente vulneráveis, ensinados a viver entre as paredes do medo. E não nos enganemos. Esta é uma guerra, como todas as outras, em que todos saem perdendo.


Greve prejudica mais do que defende universidade, diz professor da UFF

LUIZA FRANCO

 
O professor de história contemporânea da UFF (Universidade Federal Fluminense) Daniel Aarão Reis, 69, vê nas greves nas universidades três problemas. Para ele, elas são ineficazes, por esvaziarem as escolas quando elas mais precisam estar mobilizadas.
 
Além disso, segundo Reis, elas são antiéticas, na medida em que os professores são pagos mesmo durante as paralisações; por fim, são injustas, pois atingem apenas os cursos de graduação.
 
O pensamento do historiador, ex-integrante da luta armada contra a ditadura e um dos fundadores do PT no Rio, não é novidade para parte da academia, já que ele o assume há uma década e meia.
 
Uma carta aberta elucidando essas posições, publicada dias antes do início da mais recente greve nas universidades federais, que já passa de um mês, porém, colocou o professor na mira das críticas dos grevistas.
 
Ricardo Borges/Folhapress
O professor de história da UFF Daniel Aarão Reis, 69
O professor de história da UFF Daniel Aarão Reis, 69

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Como o sr. analisa as greves nas universidades federais de uma perspectiva histórica?
Daniel Aarão Reis - Nos anos 1980, foram criadas as associações docentes. Tinham grande popularidade e enraizamento social. Em função de uma certa degradação dos salários e das condições gerais das universidades, essas associações fizeram uma série de greves, que eram muito participativas e discutidas.

Nos anos 1990, os sindicatos perderam legitimidade. A Andes (sindicato dos professores de ensino superior) foi se radicalizando politicamente, mas isso não correspondia a uma radicalização de suas bases. [As greves] começaram a suscitar resistência dos professores, que se combinou com melhorias importantes nos governos Lula.

Isso tudo fez com que as greves declinassem muito. Já no final do primeiro governo Dilma –e sobretudo neste momento– a situação voltou a se degradar muito. O quadro atual se aproxima do que vivemos nos governos FHC [1995-2002], quando houve um grande desprezo pela educação universitária pública, a federal sobretudo.

Por que o sr. é contra a greve?
A greve é uma forma de luta que se notabilizou no movimento operário e dos assalariados de empresas privadas. Aí tem a lógica de afetar os lucros dos patrões. Quando explode uma greve, a universidade deixa de existir como corpo vivo de debates e discussão. Vira um deserto e perde condição de pressionar o governo. Há também uma questão ética: os grevistas continuam recebendo salário -isso se chama férias.

Nossas greves são, em geral, precedidas por assembleias sem legitimidade. Tanto é que três das quatro universidades federais do Rio não aderiram. Há um distanciamento do modelo que, nos anos 1980, garantia o vínculo com o movimento social. As lideranças sindicais pararam de consultar os departamentos. Além disso, a greve só incide na graduação.

Compartilho com os líderes sindicais a visão crítica em relação à situação atual das universidades. O que nos distingue é a forma de luta, porque a greve contribui mais para destruir do que para defender a universidade pública.

Há uma crítica conservadora que diz que a situação da universidade não está tão ruim assim. Há uma terceira via que reconhece o drama da universidade, porém, advogamos formas de luta alternativas, as ruas, as discussões, idas a Brasília, a imprensa.

Qual foi a repercussão do texto no qual o sr. se posiciona contra a greve atual?
O texto foi muito discutido na universidade, principalmente entre professores novos e alunos, que não conheciam nossa luta. Fui muito criticado pelos grevistas. Nos corredores, surgiram pichações dizendo "Aarão fura-greve". Mas, na prática, a greve continua na UFF.

O problema se deve apenas à crise fiscal do governo?
Não. Essas lideranças sindicais em geral fazem parte de partidos. O que querem é o enfrentamento com o governo. O que é problemático é levar esse radicalismo para dentro das universidades e dos sindicatos. Dilma escolheu uma política completamente contraditória em relação ao que havia proposto na campanha eleitoral, que penaliza a universidade federal.

Como o sr. vê o movimento estudantil hoje?
Você tem um movimento quase oficial, representado pela UNE (União Nacional dos Estudantes). Sobretudo a partir dos governos Lula, ela funciona em sintonia com o governo, é muito moderada.
Mas isso não impede que surjam correntes mais radicais. Elas também vivem uma crise de representatividade muito grande. São pequenos grupos de vanguarda que não representam os estudantes.

Como o sr. avalia o desempenho do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro?
Eu confio nele. Mas, se o governo continuar apertando as torneiras como está, não haverá muita solução.

O que achou dos protestos de março e abril?
Eu os vi com muita expectativa positiva. Foram de centro, direita e extrema direita. Mas essa extrema direita foi uma pequena minoria. Prefiro uma democracia agitada, que pressiona os governos. O Brasil tem tradição conservadora. Que ela apareça e que se discuta com ela.

O que pensa da esquerda hoje?
As esquerdas –tem que pôr no plural– vivem a crise do seu principal partido, o PT. A partir dos anos 1990, tendo enfrentado o fracasso de 1989, o PT foi mudando de pele e passou a ter uma política cada vez mais moderada.

Quando assumiu [em 2003], Lula fez a carta aos brasileiros, que é, na verdade, aos capitalistas brasileiros. Zé Dirceu fez a metáfora do transatlântico, que vira devagar. O grande desafio das esquerdas no Brasil hoje é construir alternativas que correspondam às exigências do século 21.

Como avalia o governo Dilma?
A campanha eleitoral foi um estelionato muito semelhante à reeleição do FHC ou [à eleição] do [José] Sarney. Assim você desmoraliza a democracia, é uma irresponsabilidade política completa. Ela [Dilma] assume o governo e terceiriza o campo para a [ministra] Kátia Abreu [da Agricultura], a economia para um homem dos bancos, o Joaquim Levy, e a articulação política para o [Michel] Temer, esse mordomo de filme noir.

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RAIO X - DANIEL AARÃO REIS
Idade
69 anos
Formação
Historiador com graduação e mestrado pela Université Paris Diderot (Paris 7), na França. É doutor em história social pela USP
Cargo
Professor de história contemporânea da UFF (Universidade Federal Fluminense)
Livros
"Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedade" (2000), "Ditadura e Democracia no Brasil" (2014), "Luís Carlos Prestes: Um Revolucionário entre Dois Mundos" (2014), entre outros





sábado, 11 de julho de 2015

PSDB pagou apresentadores de TV



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Vejam que lindo!

Que romântico!

Apresentadores de TV receberam dinheiro do governo FHC para defenderem a... privatização!

Ou seja, o povo brasileiro, além de emprestar dinheiro para os que compraram nossas estatais (via BNDES, na era tucana), além de vender nossas estatais a preço de banana, ainda pagou também para que apresentadores de TV, já super ricos, fizessem propaganda contra as empresas do povo.

Deu para entender?

Por outro lado, isso prova uma coisa. A estratégia dos tucanos para venderem nossas estatais a qualquer custo foi podre, mas ao menos mostra que eles tinham consciência aguda da necessidade de construir consensos mínimos na opinião público.

Estavam atentos à questão da comunicação, como deveria estar qualquer governo, de direita ou esquerda.

Agora, imagine se o Chávez, Lula ou Dilma fizessem algo parecido? Os apresentadores seriam destroçados moralmente, e a estratégia seria tratada como algo abaixo do "abjeto".

Mas como foram os tucanos que fizeram, então pode.

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A dica é do twitter do Cristovão Feil.

Fonte

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Salário mínimo completa 75 anos com o maior valor de compra


Publicação: 08/07/2015 17:04:00 
  

Ao completar 75 anos de vigência no Brasil, o salário mínimo registra o maior poder de compra e pode ser considerado fator fundamental para a redução da desigualdade no país. A avaliação é da cientista política, historiadora e professora da Fundação Getúlio Vargas Dulce Pandolfi.

Ela lembrou que o salário mínimo foi criado pela Lei nº 185 de janeiro de 1936 e surgiu como um direito social em meio à chamada Era Vargas. A partir daí, começou a ser implementada uma legislação focada no trabalhador, que resultou na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada em 1943.

“Nos últimos anos, o país registrou grandes avanços. Na realidade, quando se fala que a desigualdade social diminuiu, a razão principal é ter um salário mínimo com poder de compra maior. O valor real dele aumentou muito. Claro que ainda temos uma quantia baixa, mas este é o período com seu maior poder de compra”, avaliou.

Em 11 anos, o aumento real do salário mínimo foi de 76,5 por cento


Dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos indicam que cerca de 46,7 milhões de brasileiros – entre empregados domésticos, trabalhadores rurais e beneficiários de programas sociais – têm como remuneração básica o salário mínimo.

O aumento real do mínimo, nos últimos 11 anos, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, foi 76,5%. Com o valor fixado em R$ 788, a partir de 1º de janeiro deste ano, o poder de compra é estimado em 2,22 cestas básicas.

“É a maior média anual registrada desde 1979 e resume bem as conquistas de todos os trabalhadores brasileiros nos últimos 12 anos”, avaliou o ministro Manoel Dias, por meio de nota. “Mesmo diante do quadro econômico atual, são boas notícias, que merecem ser mostradas nesta data”, concluiu.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rosseto, avaliou o salário mínimo como um extraordinário ganho para garantir renda básica aos trabalhadores e aposentados. “É um reconhecimento do trabalho e a preservação, portanto, de uma qualidade de vida básica”, disse.

Fonte


sexta-feira, 3 de julho de 2015

6 mitos sobre a redução da maioridade penal. Leia e opine.



negrobelchior / 23 de março de 2015
 

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Do Portal da Conectas

Mais uma vez propostas para a redução da Maioridade Penal estão em tramitação no Congresso. Após ser desarquivada em fevereiro, a PEC 171 foi levada à Comissão de Constituição e Justiça e da Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, onde deve ser aprovada. 


Se confirmada a aprovação na CCJC, a proposta deve seguir para uma comissão especial e na sequência ir à plenária, onde precisa ser aprovada em dois turnos, antes de ser avaliada pelo Senado.

A PEC 171, de 1993, de autoria do deputado federal Benedito Domingos (PP) propõe a modificação do art. 228 da Constituição Federal para que a idade penal seja reduzida de 18 para 16 anos.

Um dos argumentos é conter supostas ondas de criminalidade protagonizadas por adolescentes, que se beneficiariam de impunidade garantida a eles pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

“Existem muitos mitos no sentido de que a redução da maioridade penal seria a solução para a questão da criminalidade no País. Os fatos, dados públicos e experiências em outros países, porém, mostram que isso é ilusão”, ressalta Vivian Calderoni, advogada da Conectas. “Devem ser adotadas medias urgentes para solucionar esse problema, mas a redução da maioridade penal não é uma delas”, completa.

Além de ser cláusula pétrea na Constituição – ou seja, não poder ser alterada -, uma eventual reforma da idade penal iria contrariar recomendação da ONU. Esta diz que a medida representa uma ameaça para os direitos de crianças e adolescentes e contraria tendências mundiais na gestão da justiça juvenil.

“Ao contrário do que se pensa, no Brasil os adolescentes infratores já são punidos. E, além disso, os dados não deixam dúvidas de que os jovens são muito mais vítimas do que autores da violência em nosso País”, enfatiza Rafael Custódio, coordenador de Justiça da Conectas. “A criminalidade só se reduz com altos investimentos em prevenção. Um dos caminhos mais importantes no que diz respeito a criminalidade juvenil é o investimento em educação”, explica.

Para esclarecer por que a Redução da Maioridade Penal não funciona, a Conectas traz abaixo 6 mitos e dados sobre o tema:

Mito: Prender adolescentes que cometerem crime em presídios em vez de mantê-los em unidades socioeducativas irá reduzir a criminalidade

Prender não é a solução. Ao contrário do que pregam alguns, o Brasil prende muito e prende mal. Dados do Ministério da Justiça mostram que o sistema prisional brasileiro tem a quarta maior população carcerária mundo – com 574 mil presos, de acordo com as informações de junho de 2013 -, ficando atrás apenas dos EUA, Rússia e China.

Entre 1992 e 2013, o Brasil elevou sua taxa de encarceramento (número de presos por cada grupo de 100 mil pessoas) em 317,9%. A velocidade é tanta que quase metade destes detidos ainda não foi definitivamente condenada – 43,8% são presos provisórios.

Mas, apesar disso, o País não está mais seguro. Ao contrário, junto com o aumento da taxa de encarceramento houve um crescimento dos índices de criminalidade. O índice de homicídios, por exemplo, subiu 24% em 8 anos, conforme aponta dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Mito: Os adolescentes que cometem crimes ficam impunes

Na atual legislação brasileira, os adolescentes autores de atos infracionais podem ser punidos com a privação de sua liberdade, assim como os adultos. O ECA prevê até três anos de reclusão.

Atualmente, mais de 20 mil estão reclusos em unidades de internação, de acordo com o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Apesar de diferenças em relação a penitenciárias, na prática, a perda de direitos e a disciplina são semelhantes.

Os adolescentes recebem visita uma vez por semana e suas famílias devem ser submetidas à revista vexatória, procedimento que envolve desnudamento, agachamentos repetidos sobre um espelho e inspeção vaginal e anal.

Apesar de receberem cursos e aulas para estimular sua reintegração social, há denúncias de tortura e maus tratos cometidos por agentes do estado.

Além disso, o ECA, assim como o Código Penal, prevê outros tipos de punição, como a liberdade assistida, na qual o jovem responde em liberdade, porém sob vigia constante de um tutor ou guarda e fica obrigado a comparecer na presença do juiz periodicamente.

Mito: os adolescentes são responsáveis por boa parte dos crimes cometidos no Brasil

Segundo informações da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), adolescentes de 16 a 18 anos são responsáveis por apenas 0,9% do total de crimes no Brasil. O índice cai para 0,5% se for considerado somente homicídios e tentativas de homicídio.

Mito: a maioria dos crimes cometidos por adolescentes é violenta

Entre os mais de 20 mil jovens cumprindo medidas socioeducativas no Brasil, quase 90% não são acusados de terem cometido crime contra à vida, segundo o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Mito: crianças e adolescentes negros e pobres frequentemente seguem a vida do crime

Na realidade, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social são as principais vítimas de crimes e violência.  Segundo o Mapa da Violência de 2014, mais da metade (cerca de 30 mil) das 56 mil pessoas assassinadas em 2012 eram jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 77% eram negros.

Além disso, cerca de 151 mil crianças e adolescentes, com até 17 anos, vítimas de maus-tratos e agressões, foram atendidas pelo Disque 100, entre janeiro e dezembro de 2014.

Mito:  países desenvolvidos e em desenvolvimento fixam a idade penal em menos de 18 anos

De 54 países estudados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 78% fixam a idade penal em 18 anos de idade ou mais. Entre eles, estão França, Espanha, Suíça, Noruega e Uruguai.


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Fonte