sábado, 25 de julho de 2015

Manual básico para checagem de fatos (2ª Parte)

Por Africa Check em 07/07/2015 na edição 858

Reproduzido do site Africa Check, um projeto de checagem de notícias financiado pela Fundação France Press na África e apoiado pelas empresas Google e Omidyar, além da Fundação Open Society

Esta é a segunda e última parte do Manual Básico para checagem de fatos. Para acessar a primeira parte do Manual, clique aqui.

4. Fontes de dados, peritos e fontes coletivas
O fato de uma pessoa fazer uma denúncia e não poder oferecer provas que sustentem suas declarações torna mais difícil a verificação, mas não significa que seja errada. Para verificá-la, você pode procurar fontes de dados, peritos reconhecidos e as fontes coletivas [crowdsourcing, em inglês].

Fontes de dados

Existem inúmeras fontes de dados úteis para a verificação de denúncias que as pessoas fazem. Dependendo do tipo de denúncia que você está verificando, você pode procurar informações em documentos do governo e estatísticas oficiais, registros de empresas, estudos científicos e bancos de dados de pesquisas sobre saúde, registros escolares, prestação de contas de projetos de caridade, jornais de ordens religiosas etc.

Reunimos nossas dicas e exemplos de fontes de dados que consideramos úteis em nossa página Recursos para Verificação de Fatos. Assim como com todas as fontes de informação, é importante que você conheça o máximo possível sobre a organização que coletou e possui os dados antes usá-los.

Peritos

Dependendo do assunto – se a denúncia se refere a questões médicas ou exige conhecimento pormenorizado da contabilidade de uma grande empresa ou aborda uma questão legal –, seria mais apropriado você verificar a denúncia conversando com alguns peritos reconhecidos.

Quando o fizer, a coisa mais importante é saber e declarar qualquer interesse que o perito possa ter na questão que possa causar, ou ser visto como uma causa, uma parcialidade em sua análise de uma ou de outra maneira.

Às vezes, as pessoas com quem você fala procuram ficar anônimas. Isso enfraquece o seu relatório, mas se a informação que elas derem puder ser verificada de forma independente, pode ser aceitável. Uma informação de uma fonte anônima – que só admite falar extraoficialmente – que não puder ser verificada, não deve ser utilizada.

Fontes coletivas

Também aqui, dependendo do assunto, talvez a melhor fonte de informação para uma denúncia específica não sejam os documentos ou um perito em particular, e sim o conhecimento que se pode encontrar na comunidade mais ampla, conhecido como crowdsourcing (fontes coletivas).

Se uma autoridade afirmar, na manhã de um dia de eleição, que todas as seções eleitorais receberam suas cédulas a tempo, ou um grupo ambientalista afirmar que uma fábrica está poluindo a vizinhança, as pessoas que estão em melhores condições para confirmar ou negar o que eles dizem podem ser as da comunidade mais ampla.

Quando você procurar informações junto à comunidade, você deverá tomar cuidado com algumas coisas. Em primeiro lugar, é importante que você garanta a segurança de suas fontes. Em muitos casos, informações enviadas por SMS, por e-mail ou por outros meios pode ser interceptada e em alguns países as pessoas que fornecem informações “delicadas” a sites jornalísticos podem vir a sofrer com isso. Portanto, é importante que os meios de comunicação estabelecidos sejam os mais seguros possíveis.

Ao mesmo tempo, você precisa saber quem são suas fontes e se as informações que elas fornecem são confiáveis. Procure verificar a identidade de qualquer pessoa que lhe envie informações. Informações que sejam enviadas anonimamente deveriam ser tratadas com o necessário ceticismo. Tome cautela com e-mails enviados por grupos que empurram programas e usam provas não necessariamente confiáveis como se fossem representativas.

5. Detectando falsificações
É claro que aquilo que você quer verificar pode não ser uma denúncia falada ou escrita, e sim, material que lhe foi enviado ou publicado online – fotos, vídeos, blogs ou outros conteúdos. Na era digital, fotografias, vídeos, documentos de texto, websites, Twitter e outras redes sociais podem ser falsificadas. Como detectar algo genuíno de uma falsificação? Nossos testes são os seguintes.

As palavras ou imagens parecem verdadeiras?

Começando pelo princípio, antes mesmo que você começa a procurar provas, a coisa mais importante a fazer com o material enviado é envolver o seu cérebro. As imagens ou palavras parecem verdadeiras? A linguagem ou sentimento manifestado seria a maneira pela qual uma pessoa fala? Seria o tipo de coisa que eles realmente pudessem ter dito?

Os colegas compreendem quando as pessoas são enganadas por uma farsa. Mas se for óbvio, depois do caso, que a pessoa que foi citada jamais teria dito aquilo que lhe foi atribuído e você não verificou, você pode passar por um idiota.

Portanto, antes de tudo, pense. Depois, se ficar em dúvida, verifique com a pessoa ou organização que foi citada ou mostrada para comprovar.

Existe um detalhe revelador fora de lugar?

Os farsantes muitas vezes são descobertos por detalhes. Seja sempre cético. A citação usada neste desenho não era incorreta, mas algo deveria levar você a desconfiar que provavelmente o autor não foi o 19º presidente dos Estados Unidos.

Veja a frase usada e pergunte se poderia ter sido dita naquela hora. Veja a foto ou o vídeo e pergunte se ela se encaixa nas leis de luz e sombra. Ao fundo, há coisas que deveriam estar lá e não estão? E outras que não deveriam estar e estão? A luz do sol reflete o clima que se poderia esperar, naquele lugar, nessa época do ano? As paisagens, plantas, carros e prédios são do tipo que você esperaria ver?

Se os detalhes estiverem fora de lugar, pode ser uma falsificação.

Isso – ou algo semelhante – já apareceu antes em algum lugar?

Ao contrário dos raios, os farsantes muitas vezes agem duas vezes no mesmo lugar. Se você suspeitar de uma imagem ou de um texto, verifique online se aquilo – ou algo semelhante – já apareceu antes em outro lugar.

Faça uma busca no Twitter com referência ao material com a hashtag “fake” e veja se outros também detectaram alguma coisa no Twitter.

Se você acha que usou antes foi texto, então faça a busca no Google.

Se for uma foto ou um vídeo no formato PNG, então entre num website como o www.tineye.com, por exemplo, que permite que você verifique se as fotos ou os vídeos já apareceram anteriormente online. Se a mesma imagem, ou muito semelhante, tiver sido publicada anteriormente em circunstâncias diferentes, aquilo que você recebeu pode ser uma falsificação.

Teria a pessoa enviado material para outros lugares?

Lembre-se que muitas vezes a pessoa usa o mesmo nome de usuário para várias plataformas. Portanto, se você está procurando material semelhante de uma pessoa, coloque seu nome de usuário em plataformas distintas, como Google Search, Facebook, Flickr, Twitter, YouTube, 123people.com, blogsearchgoogle.com, Technorati.com.

Verifique com a pessoa que enviou a mensagem se ela está onde diz que está

Se você tiver dúvidas sobre a fonte de alguma informação e tiver o seu endereço digital – o código IP – do computador pela qual ela foi enviada, você pode verificar o país em que o computador está localizado pelo endereço www.domaintools.com/reverse-ip/.

6. Seja persistente
A verificação de fatos toma tempo e persistência. Se alguém tentar enganá-lo, recusando acesso às informações a que você tem direito, ou deixando de fornecer provas que sustentem a denúncia, continue persistindo.

Verificar um debate público não é fácil. Muitas vezes, a malandragem está no detalhe. Para encontrá-la você precisa resistência e persistência.

7. Fique aberto e aceite críticas
Finalmente, mantenha-se aberto na forma pela qual você escreve relatórios de verificação de fatos, fornecendo links para as provas que utilizar. E seja honesto: se cometer um erro, reconheça-o. Mesmo assim, você terá que aceitar que não irá convencer ninguém.

A maioria das pessoas mostra certa relutância em aceitar provas que vão de encontro àquilo em que acreditam. E algumas delas não se convencem nem com argumentos cuidadosos, nem com links vinculando às provas. Trata-se de um fenômeno que os cientistas chamam “persistência de crenças desacreditadas” e descreve um estado em que, segundo os psicólogos Craig Anderson e Lee Ross, “as crenças podem resistir a uma lógica potente e a desafios empíricos. Elas podem resistir e mesmo ser reforçadas por provas que observadores imparciais concordariam que logicamente enfraqueceriam tais crenças. Elas podem até resistir à destruição total de suas provas originais”. Algumas pessoas, você simplesmente não conseguirá convencer.

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