sábado, 31 de maio de 2014

Brasil guardou duas Copas para juro e investiu mais duas, até abril. FH vendeu a Vale por 1/2…

30 de maio de 2014 | 00:23

Autor: Fernando Brito
emcopas2


Se a gente considerar os gastos do Governo Federal com a Copa do Mundo – mesmo somando o que foi aplicado em obras de mobilidade urbana que tem bem pouco a ver, senão a oportunidade, com os jogos de futebol e os financiamentos do BNDES para os construtores dos estádios, que voltarão ao cofres do Banco – tem-se, segundo a Folha, R$ 13,1 bilhões

O jornal mostrou que, mesmo juntando estados e municípios e gastos privados na conta,  para chegar a R$ 25,8 bilhões, não daria para um mês dos gastos públicos com educação.

Mas alguns argumentaram que isso inclui pessoal, encargos e outros gastos de custeio, que não são, como aqueles, investimentos novos.

Muito bem.

Então fui comparar aos investimentos.

Até abril, segundo dados apresentados hoje pelo Tesouro Nacional, os programas de investimento federais desembolsaram, desde janeiro, R$ 27,4 bilhões, com destaque para o PAC (R$ 19, 9 bilhões) e o Minha Casa, Minha Vida.

Mais de duas Copas, ao longo de sete anos, portanto, apenas como investimento, obras, sem contar salários e outros gastos de custeio, em apenas quatro meses.

Se somarmos as outras despesas de custeio, o dispêndio com a Saúde, sem contar o transferido para Estados, só em março e abril ( R $ 7,05 bi e R$  6, 85 bi) é outra Copa.

Se a isso somarmos o que se destina à saúde pela renúncia fiscal federal em favor de planos de saúde e despesas médicas, só em 2011 (hoje certamente será bem mais), que somou R$ 15,8 bi, dá mais outra Copa ainda, com sobras.

Haja Copa!

Mas é possível fazer outra conta, também, esta bem triste.

É que de janeiro a abril acumulamos um superavit primário de R$ 29, 7 bilhões, mais de duas Copas.

É dinheiro que deixamos de gastar em saúde, educação, estradas, portos. E que não vai nem deixar estádios ou metrô, linhas expressas e outras obras “da Copa”.

Vai para a turma da “bufunfa” padrão Fifa, na forma de juros e encargos da dívida brasileira.

O olha que isso não chega para cobrir nem a metade dos cerca de R$ 80 bilhões que o país pagou de juros, quase seis Copas.

Mas essa despesa é boa, bonita e agradável ao poder econômico e à mídia, deus os livre de fazerem tal comparação.

Daqui a pouco vai aparecer um inconveniente dizendo que, nos sete anos de preparação para a Copa, o dinheiro que ganharam com juros daria para construir algo como mil e quinhentos estádios de R$ 1 bilhão cada!

A única comparação que não dá para fazer é quantas Copas daria para fazer com o dinheiro pelo qual Fernando Henrique vndeu a Vale, maior empresa de minério de ferro do mundo.

É que foram só US$ 3 bilhões, ou R$ 6,4 bilhões em dinheiro ao câmbio de hoje.

Não dá meia Copa sequer.


 

O modus operandi do viralatismo brasileiro


"Só no Brasil mesmo", "É por isso que esse país não vai pra frente!", "Brasil-sil-sil-sil", "o problema é o povinho brasileiro" - essas são as frases mais repetidas na busca por um diagnóstico dos problemas da nação. Não importa quem está no governo, não importa a situação do país, não importa nada. Falar mal de si e da terra natal é uma antiga paixão nacional do brasileiro. É o que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata" - "uma inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo". 
 
Os momentos que antecedem a Copa do Mundo têm produzido chorumes com alto teor de viralatismo. Muita gente está preocupada com o que os gringos vão pensar de nós. E pra não nos envolvermos nessa roubada, nada como fugir das nossas responsabilidades e nos colocar como estrangeiros na hora de apontar nossas mazelas: "Só podia ser nesse país. Êta povinho, viu?!".
 
A marca de roupa Ellus também está indignada com esse paisinho que não vai pra frente. Ao lançar sua coleção primavera-verão, a empresa aproveitou a onda indignatória contra a Copa e lançou a campanha: "#protestoEllus: Abaixo Este Brasil Atrasado". A empresa sacou muito bem o espírito do momento e, com um senso de oportunidade huckeano, resolveu vestir bem os portadores do complexo de vira-latas que se espalham pelo país.

Apesar da indignação contra "esse Brasil atrasado", a Ellus não pensou duas vezes antes de utilizar mão de obra escrava nas suas confecções, como apontou o Ministério Público. É um tipo de viralatismo que late contra a injustiça social em público, mas escraviza seus trabalhadores em privado. O atraso da Ellus é tão grande que ela ainda está no século XIX, em plena época da escravatura.
Mas a literatura do viralatismo nacional é farta. Os inúmeros problemas ocorridos durante a construção dos estádios foram martelados pelos noticiários e jogados na conta da nossa brasilidade. Acompanhamos uma exaltação diária dos nossos fracassos com os inúmeros problemas decorrentes das obras: atrasos, morte de operários, valores muito acima do previsto, processos e problemas de infraestrutura. "Ah, só podia ser no Brasil mesmo!". Mas basta prestar um pouquinho mais de atenção ao redor do mundo, que descobrimos que essas coisas acontecem nas melhores famílias:
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A reconstrução de Wembley teve inúmeros atrasos, a morte de um operário, canos de abastecimento entupidos e um valor final da obra equivalente a dois Marcanãs. Exemplos como esse pipocam pelo mundo. Parece que nem tudo "é coisa nossa".
 
Essa semana surgiu um blog que responde todo comentário complexado com uma notícia publicada na imprensa, provando que não somos detentores do monopólio das desgraças. É o "Só no Brazil". Confira algumas postagens:
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É difícil saber de tudo o que acontece no mundo, mas nosso viralatismo faz com que tenhamos a absoluta convicção de que certas coisas só acontecem aqui.
 
O que não falta no Brasil é problema: violência, corrupção, desigualdade social, má qualidade dos serviços públicos. Mas o conformismo embutido no complexo de vira-lata nos impede de enxergar os avanços alcançados na árdua busca das soluções. Em 2000, ao analisar os principais problemas do mundo, a ONU estabeleceu 8 objetivos a serem cumpridos até 2015. Grande parte das metas já foi atingida antes do prazo e o Brasil vem sendo constantemente aplaudido pela ONU. De 1990 para cá, avançamos em todos os setores considerados importantes pela organização.
 
A Copa deveria servir como vitrine de um país empenhado em resolver seus problemas, e não como Muro das Lamentações do viralatismo nacional. Seremos anfitriões que ficam pedindo pras visitas repararem a bagunça ou vamos oferecer o que temos de melhor? E não esqueçamos de prender os vira-latas que moram dentro de nós. Senão, o que que os gringos vão pensar da gente?



quinta-feira, 29 de maio de 2014

6 Notícias falsas publicadas pela TV Revolta

Postado por Gilmar Lopes no dia 28 de maio de 2014 

A TV Revolta, uma das maiores fanpages do Facebook, publica uma série de histórias que nem sempre são verdadeiras. Veja aqui alguns dos boatos propagados por ela!

Em 2010, a fanpage TV Revolta foi criada no Facebook e em 2014 já se tornou a página com mais curtidas no Brasil (são mais de 3 milhões de fãs). Com a ideia inicial de “acabar com o estresse”, a TV Revolta recheia sua fanpage com imagens, textos e vídeos dos mais variados assuntos. Algumas postagens são apoiadas em fatos, mas algumas não são tão verdadeiras.

O problema é que muita gente compartilha essas notícias sem antes darem aquela verificada básica, ajudando a espalhar inverdades pela rede!

Selecionamos a seguir algumas publicações feitas pela TV Revolta que já foram provadas que são falsas:
 

farsas_revoltas

O ministro da China dá dicas para o Brasil!

De acordo com uma postagem feita na TV Revolta no dia 15 de maio de 2014, o primeiro ministro da China Wen Jiabao teria dado algumas dicas à presidente Dilma quanto à gestão do país, em recente visita ao Brasil!
 
Acontece que anos antes, em 2012, já havíamos publicado uma pesquisa a respeito onde provamos que essa notícia não passava de mais um boato eletrônico!
 

Travestis pedindo pro Ronaldo esquecer a Copa

A imagem abaixo mostra um trio de travestis segurando uma placa com os dizeres:
 
Ronaldo, esquece a Copa e volta pro nosso quarto!
Fotomontagem publicada na fanpage TV Revolta!
Fotomontagem publicada na fanpage TV Revolta!
 
A foto real é essa abaixo, que foi tirada pelo fotógrafo Gilvan de Souza em outubro de 2012, antes do jogo do Corinthians contra o Flamengo, no estádio do Engenhão (no Rio de Janeiro). Segundo o Lancenet, a brincadeira foi criada por um grupo de torcedores do Flamengo para tentar provocar o jogador, que na época jogava pelo Corinthians.
 
Grupo de travestis provoca o jogador Ronaldo antes de um jogo! (foto: Reprodução/Gilvan de Souza)
Grupo de travestis provoca o jogador Ronaldo antes de um jogo! (foto: Reprodução/Gilvan de Souza)
 

Desvalorização do Real ao longo dos anos

Essa apareceu na TV Revolta no dia 07 de maio de 2014. Uma colagem de imagens mostrando um carrinho com compras que aparece cada vez mais vazio a cada período desde 1997 até 2014. Com esse “dados”, o autor dá a entender que o poder aquisitivo do trabalhador foi diminuindo de 1997 até os dias atuais.

 
desvalorizacao_tv_revolta
Foto: Reprodução/Facebook
 
No entanto, é bom lembrar que esses dados não estão corretos!
 
Se convertermos o salário mínimo em dólar, teremos o quadro abaixo (que surrupiamos do excelente Blog do Branquinho).
 
salario_minimo

 
Note que, ao compararmos com o dólar, o salário mínimo parece ser o maior da história. Lógico que ele ainda está muito abaixo do ideal, mas ainda assim, muito melhor do que nos anos anteriores!
 
O gráfico abaixo foi elaborado pelo Dieese e mostra os aumentos constantes no salário mínimo desde 2002:
 
aumento_salario_minimo
 
Além disso, precisamos lembrar que na época do Governo Itamar Franco (em 1994), o salário mínimo dava para comprar apenas 1 cesta básica e hoje dá pra comprar 2. Ainda não é muito, mas é o dobro!
 
salario_minimo_cesta_basica
 
A inflação de 1997 a 2013 chegou a 116% (uma média de 7% ao ano) enquanto que no mesmo período, houve um aumento no salário mínimo de um pouco mais do que 500%. Uma média de aproximadamente 29,5% ao ano.
 

Bolsa Bandido

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Uma das postagens da TV Revolta criticando o Auxílio Reclusão! (foto: Reprodução/Facebook)
 
Em postagens frequentes, a TV Revolta critica o Auxílio Reclusão ou o “bolsa bandido” (como é chamado o benefício na fanpage). De acordo com o que é divulgado por aí, o bandido teria direito a receber um salário enquanto está preso e essa mamata chega a dobrar de valor a cada filho a mais que o preso vir a ter.
 
Essa notícia não é completamente falsa, como já explicamos nesse artigo em fevereiro de 2011, mas não funciona da maneira como é sugerida pelo TV Revolta. O Auxílio Reclusão foi instituído em 1960 e é um valor único mensal que a família do preso recebe (independente da quantidade de filhos do presidiário), desde que o recluso tenha contribuído previamente para a previdência.
 
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Além disso, a cada três meses, os dependentes do preso devem se apresentar em uma Agência da Previdência Social para continuarem a receber o benefício.

A moda das calças surgiu entre os detentos gays

Essa é uma lenda que circula pela web desde 2008 e diz que a moda das calças caídas tem origem entre os homossexuais presos nas penitenciarias dos Estados Unidos. O texto afirma que andar com calças abaixo da cintura era um código entre os presos, avisando que aquele homem estava disponível para fazer sexo com outros presos.
 
Usar calças caídas seria um sinal avisando que a pessoa estaria disponível para outros homens! Verdade ou falso? (foto: Reprodução/Facebook)

Usar calças caídas seria um sinal avisando que a pessoa estaria disponível para outros homens! Verdade ou falso? (foto: Reprodução/Facebook)
 
Mostramos aqui no E-farsas há poucos dias atrás que as calças caídas surgiram, de fato, nos presídios dos Estados Unidos, mas os presos usam essas peças de roupas dessa maneira porque os cintos foram proibidos dentro das prisões!

Tossir durante um ataque do coração

Fanpage ensina que tossir durante um ataque do coração pode salvar a sua vida! (foto: Reprodução/Facebook)
Fanpage ensina que tossir durante um ataque do coração pode salvar a sua vida! (foto: Reprodução/Facebook)
 
Uma publicação feita na TV Revolta em 14 de março de 2014 fala sobre um procedimento que deve ser feito no caso de você estar tendo um ataque do coração. De acordo com o texto, quando você estiver sentindo que está tendo um ataque do coração, basta tossir vigorosamente para que o sangue fique circulando normalmente pelo corpo.
 
Esse procedimento não funciona! Desde 2003 os médicos não conseguiram provar a eficácia da tosse no momento de um ataque cardíaco. Essa história surgiu em 2003, depois que um grupo de médicos poloneses afirmaram que a tosse poderia fazer com que o sangue ficasse circulando pelo corpo do doente enquanto não chagar a ajuda. Na época, a BBC foi investigar essa história e concluiu que a manobra é inócua e que a tosse pode servir apenas como um placebo, como uma ajuda para manter o paciente consciente.
 

Conclusão

Muito cuidado ao compartilhar informações de páginas do Facebook. Algumas delas podem ser falsas e você estará ajudando a espalhar mais desinformação pela web!






quarta-feira, 28 de maio de 2014

Não existia combate à corrupção política antes do governo Lula

18/05/2014 - Copyleft

Antonio Lassance


Lula e Dilma são hoje acusados de fazerem pouco justamente por aqueles que não fizeram nada além de aparelhar o Estado para fins partidários.


A corrupção ainda é um grave problema no Brasil porque o combate à corrupção ainda está em sua infância. Tem pouco mais de 10 anos.

É a partir do governo Lula que se cria a Controladoria Geral da União; a Polícia Federal multiplica seu efetivo e o número de operações; e as demissões de servidores envolvidos em ilícitos se tornam regra, e não exceção.

É bem verdade que, antes, já existiam a Polícia Federal, o Ministério Público e uma Corregedoria-Geral da União. Mas alguém conhece alguma estatística relevante dessa época? Não existe. O combate à corrupção no governo FHC é traço.

A única estatística mais polpuda daquela época é a do ex-procurador-geral da República de FHC, Geraldo Brindeiro, que, até 2001, tinha em suas gavetas mais de 4 mil processos parados - fato que lhe rendeu o apelido de “engavetador-geral da República”.

De 2003 a 2013, compreendendo os governos de Lula e Dilma, a expulsão de servidores acusados de corrupção quase dobrou, passando de 268, em 2003, para 528, em 2013.
 

Gráfico 1 - Servidores expulsos do serviço público (2003-2013)
Dados da CGU, disponíveis no Relatório de acompanhamento das punições expulsivas aplicadas a estatutários no âmbito da administração pública federal. http://www.cgu.gov.br/Correicao/RelatoriosExpulsoes/Punicoes_2003-2013.pdf



As operações da Polícia Federal saltaram de 9, em 2003, para mais de 200, a partir de 2008 (dados da Polícia Federal  http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas).


Gráfico 2 - Operações da Política Federal e número de servidores presos (2003-2012)
Fonte: dados da Polícia Federal, em gráfico produzido em estudo do Instituto Alvorada: http://institutoalvorada.org/transparencia-e-combate-a-corrupcao-nos-governos-lula-e-dilma/


Antes de 2003, se os escândalos envolvessem políticos, aí é que não acontecia nada vezes nada. Apenas dois casos podem ser citados com algum destaque na atuação da PF.

O primeiro foi a prisão de Hildebrando Pascoal, em 1999. Hildebrando era deputado pelo então PFL (hoje DEM) no estado do Acre e acabou condenado por chefiar um grupo de extermínio. Ficou célebre pela sessão de tortura em que uma pessoa teve os olhos perfurados; as pernas, os braços e o pênis amputados com uma motosserra; e um prego cravado na cabeça.

O outro foi o caso Lunus, a operação da PF de março de 2002 que vasculhou a sede da construtora Lunus, de propriedade da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, então no PFL. Naquele ano, Roseana era candidata à Presidência da República e estava bem melhor posicionada nas pesquisas do que o candidato do PSDB, José Serra. A operação foi coroada de êxito: criou um escândalo que sepultou a candidatura de Roseana.

O PSDB, que se diz contra o aparelhamento do Estado para fins partidários, tinha à frente da PF o delegado Agílio Monteiro Filho, que se candidataria a deputado federal pelo PSDB no mesmo ano de 2002.

Não existia combate à corrupção política antes de 2003. Isso é coisa do Lula e dessa tal Dilma Rousseff, hoje acusados de fazerem pouco justamente por aqueles que não fizeram nada além de aparelharem o Estado para fins partidários.


(*) Antonio Lassance é cientista político

Fonte



terça-feira, 27 de maio de 2014

Dez anos de cotas nas universidades: o que mudou?

Dez anos de cotas nas universidades: o que mudou?

Mudança garantiu avanços nacionais em termos de inclusão, mas São Paulo ainda se recusa a estabelecer ações afirmativas para negros, pardos e indígenas

Por Igor Carvalho
 

Alunos da USP protestam pedindo cotas na universidade (Foto: Agência Brasil)
Alunos da USP protestam pedindo cotas
na universidade (Foto Agência Brasil)
Em 1997, apenas 2,2% de pardos e 1,8% de negros, entre 18 e 24 anos cursavam ou tinham concluído um curso de graduação no Brasil. O baixo índice indicava que algo precisava ser feito. “Pessoas estavam impedidas de estudar em nosso país por sua cor de pele ou condição social. Se fazia necessário, na época, uma medida que pudesse abrir caminho para a inclusão de negros e pobres nas universidades”, lembra a pesquisadora e doutora em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), Teresa Olinda  Caminha Bezerra.

A solução encontrada para que se diminuísse o déficit histórico de presença de negros e pobres nas universidades brasileiras foi a adoção de ações afirmativas por meio de reservas de vagas, que ficaram conhecidas como cotas. Porém, por todo o país, houve resistências à sua implementação.

Em 2003, a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul começou a usar fotos enviadas por estudantes para decidir quais poderiam ter acesso às vagas, que foram determinadas por uma lei aprovada pela assembleia legislativa daquele estado. O “fenótipo” exigido era composto por “lábios grossos, nariz chato e cabelo pixaim”. A ação gerou protestos de movimentos negros. Ainda na Uems, em 2004, o professor de Física Adriano Manoel dos Santos se tornou réu em um processo na Justiça do estado por racismo. Ele teria dito, na sala de aula, que a universidade deveria “nivelar por cima, e não por baixo” o ensino, fazendo alusão aos cotistas presentes na sala, entre eles o estudante Carlos Lopes dos Santos, responsável pela ação judicial.

No Rio de Janeiro, em 2004, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciou que rejeitaria uma possível política de cotas. O conselho de ensino da instituição, formado por professores, alunos e funcionários rejeitou a ação afirmativa. E o Ministério Público Federal (MPF) do Paraná entrou, em 2004, com um recurso na Justiça pedindo que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) não adotasse o sistema de cotas em seu vestibular. O Judiciário paranaense freou a prática entendendo que a reserva de cotas afrontava “o princípio constitucional de isonomia e reforça práticas sociais discriminatórias.”

Já em 2012, quando a Universidade de Brasília (UnB) já havia completado oito anos de distribuição de vagas pelo sistema de cotas, o Partido Democratas (DEM) entrou com recurso no Superior Tribunal Federal contra a medida, alegando, inclusive “racismo”.

Mas a resistência às cotas não se dava somente no âmbito de conselhos das instituições ou do Judiciário, e muitas vezes se dava por meio de atitudes racistas. Durante um torneio esportivo envolvendo faculdades de Direito, em 2005, torcidas adversárias se referiam à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) como “Congo”, por sua diversidade racial. A alcunha foi adotada pelos alunos da instituição carioca, e até hoje o país africano é símbolo de suas equipes.

Após algumas universidades estaduais e federais aderirem à sistemas de cotas, os números apresentados no começo da matéria começaram a apresentar melhoras. Subiu de 2,2% para 11% a porcentagem de pardos que cursam ou concluíram um curso superior no Brasil; e de 1,8% para 8,8% de negros. Os números são do Ministério da Educação (MEC), em levantamento de 2013. Parte dos movimentos negros questiona os números, considerados “tímidos”. “Não podemos nos conformar com esses dados, são baixos ainda. Há avanços, mas estão muito longe de significar os resultados que buscamos”, afirma Douglas Belchior,  do conselho geral da UneAfro e da Frente Pró Cotas Raciais.

Uerj, o motor propulsor
Em 2013, foram completados 10 anos da primeira experiência brasileira com cotas. A Uerj autorizou, no vestibular de 2002, que Pretos, Pardos e Indígenas (PPI) autodeclarados solicitassem suas vagas por meio do sistema e a distribuição das matrículas ficou assim: 20% para negros, 20% para alunos de escola pública e 5% para portadores de necessidades especiais. Em 2007, o governador Sérgio Cabral determinou que no percentual de 5% deveriam ser inseridos os filhos de policiais, bombeiros e agentes penitenciários mortos.

De 2003 a 2012, já ingressaram na Uerj,  pelo sistema de cotas, 8.759 estudantes. Destes, 4.146 são negros autodeclarados, outros 4.484 usaram o critério de renda, enquanto 129 pelo percentual de portadores de deficiência, índios. “O desempenho da UERJ é excelente. Os cotistas derrubaram o mito de que o nível cairia nos cursos, o desempenho deles é ótimo”, elogia Teresa Olinda Caminha Bezerra, que produziu, em parceria com o professor de Administração Pública, também da UFF, Cláudio Gurgel, o artigo “A política pública de cotas nas universidades, desempenho acadêmico e inclusão social”, de agosto de 2011.

Neste estudo, Teresa e Gurgel ajudam a derrubar um dos mitos do discurso anti-cotas. Dos 32 cursos oferecidos pela UERJ, seis são analisados no artigo, todos da turma ingressante no ano de 2006, e apontam para uma equivalência de notas no desempenho entre cotistas e não-cotistas, que contrapõe os valores alcançados no vestibular. No curso de Administração, os cotistas tiveram uma média de 30,48 pontos no vestibular, contra 56,02 dos não cotistas, quase o dobro de diferença. Porém, o desempenho durante o curso mostra um crescimento no rendimento dos cotistas, que chegam à média de 8,077 contra 8,044 dos não cotistas.
 

Fonte: “Política de cotas em universidades e inclusão social: desempenho de alunos cotistas e sua aceitação no grupo acadêmico”. Tese de doutoramento de Tesesa Olinda Caminha.
Fonte: “Política de cotas em universidades e inclusão social: desempenho de alunos
cotistas e sua aceitação no grupo acadêmico”. Tese de doutoramento de Teresa Olinda Caminha.
 
A superação demonstrada pelos alunos cotistas é considerada “espetacular” por Teresa. “Eles rompem barreiras como preconceito e o histórico de ensino precário, mostrando que esse mito do ‘nível’ é apenas isso, um mito, sem qualquer base científica que se justifique.” Outro preceito desmentido no estudo é o da evasão (ver tabela abaixo), o que configuraria um “fracasso escolar”, nas palavras de Teresa e Gurgel. Nos seis cursos avaliados, a evasão de não cotistas é sempre maior.
 

Fonte: “Política de cotas em universidades e inclusão social: desempenho de alunos cotistas e sua aceitação no grupo acadêmico”. Tese de doutoramento de Tesesa Olinda Caminha
Fonte: “Política de cotas em universidades e inclusão social: desempenho de alunos
cotistas e sua aceitação no grupo acadêmico”.
Tese de doutoramento de Teresa Olinda Caminha

Hoje, dez anos depois da experiência da Uerj, 32 das 38 universidades estaduais já adotaram modelos de ações afirmativas. No princípio, leis estaduais obrigavam as instituições a oferecem cotas, caminho seguido por 16 delas. Porém, com o passar do tempo, a outra metade das adesões foi espontânea, se dando por meio de resoluções dos conselhos universitários.
 
"“A USP tenta mascarar os números, aliás os números falam o que você quiser. Os 28% apresentados pela USP são uma mentira apresentados assim", afirma Silvio de Almeida (Foto: Instituto Luis Gama)
"A USP tenta mascarar os números, aliás os números falam
o que você quiser. Os 28% apresentados pela USP são uma
mentira apresentados assim", afirma Silvio de
Almeida (Foto: Instituto Luis Gama)
Alckmin e as “ilhas do privilégio branco”
Entre as 32 instituições que tem ações afirmativas há uma divisão importante. Enquanto 30 delas se utilizam do modelo de cotas para a inclusão de negros, alunos de escolas públicas e portadores de deficiência, somente a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) optaram pelo sistema de bônus.

O formato é criticado por especialistas e movimentos sociais. “O bônus é horrível porque não reserva vagas, não estabelece uma condição para que o estudante negro possa acessá-las. As alternativas que foram colocadas, do College até a atual bonificação são ineficazes, elas não reconhecem o elemento racial como fundamental para a garantia do direito ao acesso às universidades”, explica Douglas Belchior.

“Os números que eles [USP e Unicamp] mostram são autoexplicativos, é uma política equivocada. Política pública tem que ser pragmática, se ela não produz resultado, não deu certo. O bônus você pode regular para fazer diferença, mas nessas universidades não querem que se faça a diferença”, afirma o cientista político do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj e coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) João Feres Júnior.

Na USP, a bonificação oferecida à alunos PPI é de apenas 5% na média. Porém, o estudante só terá acesso ao benefício se for aprovado na primeira fase do vestibular. O sistema funciona desde 2006, quando foi criado o Programa de Inclusão Social (Inclusp). Números divulgados pela USP mostram que desde 2006 o índice de ingressantes na universidade por meio do Inclusp variou entre 24% e 29%, sendo que o maior índice foi alcançado em 2009. Em 2012, último ano com dados compilados, o índice ficou em 28%.

Porém, a instituição paulista não desmembra os dados, impossibilitando que se saiba quantos negros e pardos conseguiram entrar na universidade. “A USP tenta mascarar os números, aliás os números falam o que você quiser. Os 28% apresentados pela USP são uma mentira apresentados assim. 28% quem? Quantos são negros? Em quais cursos eles ingressaram?”, pergunta Silvio de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama. Em matéria de junho de 2012, o jornal O Estado de S. Paulo revela que, em 2011, dos 26% de aprovados pelo Inclusp, apenas 2,8% eram negros e 10,6%, pardos, totalizando 1.409 alunos, entre os 90 mil da universidade.

Na Unicamp, o sistema de bonificação oferece 20 pontos ao candidato que se autodeclarar PPI e mais 60 para os que pedem acesso por ter baixa renda. Porém, a média de nota da universidade de Campinas é de 500 pontos, chegando a 700 pontos em cursos como o de Medicina. O resultado da política de inclusão da Unicamp é um índice baixo de negros, pardos ou índios que acessaram a universidade. Desde 2003, quando o modelo foi adotado, o percentual variou entre o mínimo de 10,7% no primeiro ano e o máximo de 16% em 2005. No ano de 2013, apenas 13,2% de PPIs entraram na Unicamp.

A culpa para o fraco desempenho é do governo paulista, para Douglas Belchior. “Em São Paulo, há um interesse político, que vem de cima, de manter a USP e a Unicamp como ilhas do privilégio branco. A tropa conservadora do [governador Geraldo] Alckmin tem maioria absoluta na Alesp, onde não se consegue instalar nem mesmo uma CPI sobre o cartel do Metrô, que é um escândalo absurdo. Nas universidades, os conselhos são dominados por educadores ligados ao PSDB e ao Alckmin.” A terceira estadual de São Paulo, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) reservou pela primeira vez, em dezembro de 2013, vagas para cotistas. Foram apenas 391 vagas para negros, pardos e indígenas, do total de 7.259 disponíveis.

A Frente Pró-Cotas Raciais, de São Paulo, iniciou uma campanha com o objetivo de conseguir 200 mil assinaturas para que um Projeto de Lei de iniciativa popular seja encaminhado e votado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). No documento, o movimento pede que o estado separe 25% das vagas disponíveis nas universidades.

Sudeste inclui menos
Geraldo Alckmin (PSDB), tentou, em 2013, aprovar o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp), projeto que foi massacrado por parlamentares e ativistas, que o consideravam racista, sendo derrotado nos conselhos universitários. O Pimesp propunha que os alunos aprovados no vestibular, na modalidade cotas, passassem a integrar um colégio comunitário que teria o intuito de nivelar os alunos considerados, pelo estado, mais “fracos”. Eram os chamados “colleges”.

Segundo o estudo “As políticas de ação afirmativa nas universidades estaduais”, de novembro de 2013, do Gemaa, coordenado por João Feres Júnior, a inércia paulista coopera para que a região Sudeste (16,7%) seja a que menos inclui no país, contra 40,2% do Centro-Oeste, 32,6% do Nordeste, 29% do Sul e 26,6% do Norte. “São Paulo tem estaduais gigantes que não incluem. O Rio de Janeiro tem uma estadual eficiente e que é pioneira, mas é pequena. Minas Gerais tem um sistema “vagabundo”. Voltando para São Paulo, a USP não funciona, a Unicamp também e a Unesp nunca gerou vagas. O Alckmin nunca criou uma regulamentação decente. O Sudeste, mesmo nas federais, quando aprovada a lei (leia abaixo), foi muito resistente em aceitá-la”, afirma Feres Júnior.

Silvio de Almeida lamenta que Alckmin não siga o mesmo prumo da maioria das universidades estaduais do país. “Ao se colocar numa postura de resistências às políticas de inclusão, que já se provaram eficientes, o governo paulista se coloca de maneira totalmente contrária aos interesses de uma parcela significativa de São Paulo.”

Lei obriga adesão de política de cotas nas federais
No segundo semestre de 2004, a Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira instituição de ensino superior federal a adotar o modelo de cotas raciais como política de ação afirmativa. À época, se reservou 20% das vagas para quem se autodeclarasse como PPI.

Somente em 2012 foi aprovada a Lei 12.711, determinando que as universidades federais devem destinar 50% de suas matrículas para estudantes autodeclarados negros, pardos, indígenas – conforme definições usadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE-, de baixa renda, com rendimentos igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita, e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. O número de cotas para negros, pardos e indígenas é estipulado conforme a proporção dessa população em cada estado, segundo último Censo do IBGE, em 2010.

Dados apresentados pelo Gemma em seu estudo “O impacto da Lei 12.711 sobre as universidades federais”, de novembro de 2013, indica um crescimento no número de estudantes negros as universidades comandadas pela União. “Em 2003, pretos representavam 5,9% dos alunos e pardos 28,3%, em 2010 esses números aumentaram para 8,72% e 32,08%, respectivamente”, aponta o documento.

Antes da lei ser aprovada, 18 das 58 universidades federais do país ainda resistiam em aplicar alguma política de cotas ou bônus. Desde o vestibular de 2013, por força da legislação, todas as instituições já aderiram, ampliando o número disponível de vagas para cotistas de 140 mil para 188 mil. Silvio de Almeida, assim como a Frente Pró-Cotas Raciais, entende que a lei federal precisa ser revista, ampliando o número de vagas para cotistas. “Se vamos levar em consideração o percentual da população paulista de negros para estabelecer a quantidade de vagas, isso tem que ser feito em cima dos 100% das vagas, e não dos 50%, porque não seremos, no caso de São Paulo, 34,6% de negros na universidade, mas sim metade desse número. As demais vagas, continuarão nas mesmas mãos.”

O argumento é reforçado por Feres Junior, do Gemaa. “A Lei federal de cotas foi muito difícil de aprovar, acho que politicamente é difícil que os movimentos sociais consigam modificar esse percentual agora. Porém, eles tem razão, da forma como está, você tem um teto baixo. É claro que existem negros entrando pela ampla concorrência, mas ainda é um número tímido.”

Foto de capa: Blogue “Negro Belchior”


Os mitos populares sobre o bolsa-família

Postado em 03 dez 2013
por : Fabiano Amorim
 
 
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Ao ouvir duas ou mais pessoas discutindo sobre o bolsa-família, é normal ouvir frases do tipo “Agora com esse bolsa família ninguém mais quer trabalhar”, ou “o governo tira dinheiro do trabalhador para sustentar vagabundo”, ou “isso é uma bolsa-esmola”. Muitas dessas frases são simplesmente repetidas pelas pessoas sem que elas reflitam ao menos um pouco sobre o que estão dizendo.

A maioria das pessoas sequer tem noção de quanto é o valor do bolsa família. É um valor baixíssimo que depende da renda da família, da quantidade de filhos e de outros fatores. Para você ter uma ideia do quanto esse valor é baixo, uma família que ganhe menos de 70 reais por pessoa e que tenha 2 filhos receberá apenas 134 reais por mês. Você acha que alguém vai deixar de trabalhar porque vai receber 134 reais do governo?

Muitos pensam que as famílias que têm muitos filhos recebem muito dinheiro. Não poderiam estar mais enganados. Para receber 268 reais, é necessário que a família tenha renda de menos de 70 reais por pessoa e tenha 5 filhos. O valor máximo do bolsa família chega a 306 reais, atendendo a outras condições adicionais.

Essa história em que os beneficiários do bolsa família não querem mais trabalhar entra em total conflito com o fato de que estamos hoje com as menores taxas de desemprego da história brasileira. Fechamos outubro com uma taxa de 5,2% de desemprego. Só para efeito de comparação, o desemprego na Alemanha hoje é de 6,5%, nos EUA é de 7,3% e na França 10,9%. Portanto esse argumento é muito falho e não há nada que o justifique.

Outra fala comum que se ouve é que aqueles que recebem o bolsa-família ficam dependentes desse dinheiro e jamais vão se esforçar para melhorar de vida. Esse é mais um engano de quem se informa muito pouco sobre o assunto. Entre outubro de 2003 e fevereiro de 2013, cerca de 1,69 milhão de famílias abriram mão voluntariamente do bolsa família após terem sua renda aumentada e não precisarem mais do benefício.

O bolsa família é um programa emergencial que visa garantir uma renda mínima que ao menos permita que uma família muito pobre tenha sua condição de pobreza aliviada, até que os membros dessa família consigam empregos que permitam que ela caminhe com as próprias pernas. O bolsa família é imprescindível enquanto a família está na miséria. O valor recebido é bem baixo, mas faz uma diferença muito grande para os que se encontram nessas condições.

Para ter o benefício do bolsa-família também é necessário manter os filhos na escola com frequência entre 75% e 85%, os menores de 7 anos vacinados, além de outras condições. A permanência dos filhos na escola é fundamental para possibilitar que eles tenham um futuro melhor que os seus pais. Esse é mais um ponto positivo para o bolsa família, mas ainda precisamos que os governos invistam muito mais na educação pública básica, pois estamos longe de termos uma escola de qualidade para essas crianças e adolescentes.

Por outro lado, também existem os mitos criados pelos governos Lula e Dilma sobre a eficácia do bolsa família na eliminação da miséria. Recentemente houve a cerimônia de comemoração pelos 10 anos do bolsa família, em 30 de outubro. Nesse evento o governo afirmou que o programa teria retirado 36 milhões de pessoas da miséria. Isso é um grande absurdo.

Hoje o índice utilizado pelo governo para classificar uma família como “miserável” é o da renda equivalente a 70 reais por pessoa, um índice baixíssimo. Com base nisso, se uma família de 5 pessoas alcançar uma renda total igual a 351 reais, essa família é considerada pelo governo como retirada da miséria. O pior é que esse índice está defasado, pois não foi alterado desde junho de 2011.

O bolsa família é um programa emergencial que retira as pessoas da miséria apenas tecnicamente. Faz com que uma família que ganhava 50 reais por cabeça passe a ganhar, por exemplo, 75 por pessoa, excluindo essa família das estatísticas de miséria, mas na prática essa família continua vivendo na miséria.

Durante os governos Lula e Dilma foram gerados mais de 10 milhões de empregos. Esses empregos é que conseguiram retirar muita gente da miséria e não o bolsa família. A partir de quando a família consegue sustentar-se por conta própria, sem a ajuda do bolsa família, aí sim pode-se afirmar que aquela família foi retirada da miséria.

É terrível que Dilma e Lula usem os números da redução técnica da miséria como se fossem indicadores de redução real dela. Isso cria uma ilusão. A miséria continua existindo, mas como está fora dos indicadores estatísticos, muitos não têm conhecimento da sua real dimensão, dificultando a solução do problema. Como vamos pensar na solução de um problema que não existe?

Em maio deste ano, o jornal Folha de São Paulo requisitou ao Ministério do Desenvolvimento Social a informação de quantas famílias no país ganhavam menos que 77,5 reais, ou seja, os 70 reais corrigidos pela inflação do período. O impressionante nos dados revelados é que a quantidade de pessoas abaixo da linha da pobreza passaria de 0 para 22 milhões de pessoas se o índice fosse corrigido. Com isso, está explicado o motivo de o governo não reajustar o índice.

O episódio do boato sobre o fim do bolsa família ocorrido neste ano nos mostrou o quanto o programa é imprescindível e quantos dependem dele. Torcer pelo fim do bolsa-família é o mesmo que torcer para que as pessoas que vivem hoje na miséria passem a viver muito pior. O bolsa família deve ser mantido pelo tempo que for necessário, mas é importante que continuemos cobrando do governo que invista numa educação pública de qualidade, num bom tratamento de saúde nos hospitais públicos, num transporte mais barato ou gratuito para os mais pobres, que aumente a geração de empregos com carteira assinada, dentre outras coisas, para que a vida de todas essas pessoas que ganham tão pouco possa melhorar e que caminhemos rumo ao fim da miséria real e não apenas estatística.


 

Quem é contra o Bolsa Família ou é mal-intencionado, ou está mal-informado

Publicado em 04/06/2013 às 11:30

 

bolsa familia Quem é contra o Bolsa Família ou é mal intencionado, ou está mal informado

Sempre que a oportunidade aparece, ressuscita a campanha contra o Bolsa Família. Seu objetivo não é acabar com o benefício. É tão impossível quanto acabar com o salário mínimo, o Natal, o nascer do sol. As metas são outras: manter o Bolsa Família com o menor valor possível, enxovalhar a reputação de quem o recebe, influenciar a opinião pública para que se torne politicamente difícil a criação de outros benefícios semelhantes, e bater no governo. A quem interessa? Aos que têm outros destinos para o dinheiro dos nossos impostos.

Recentemente, a correria por conta dos boatos sobre o fim do Bolsa Família ressuscitou os zumbis de sempre. As questões habituais se arrastaram para fora da tumba: o Bolsa Família é bom? É justo? Não é um estímulo oficial à vagabundagem e à procriação destrambelhada? Não seria melhor deixar de lado essa política assistencialista, e focar na geração de empregos, verdadeira porta de saída dessa esmola? Não tenha dúvida: na próxima oportunidade que pintar, os mesmos de sempre voltarão a atiçar com desinformação os mesmos preconceitos. É bom estar preparado para retrucar.

bolsa familia blog Quem é contra o Bolsa Família ou é mal intencionado, ou está mal informado

A revista britânica Lancet publicou semana passada estudo que relaciona de forma conclusiva o Bolsa Família com a queda da mortalidade infantil. Dados de quase 3000 municípios brasileiros foram utilizados, no período entre 2004 e 2009. A Lancet é a mais tradicional publicação científica na área de saúde do planeta - existe desde 1823. Nas cidades em que o programa tem alta cobertura, a queda geral na mortalidade infantil foi de 19,4%. Cruzando o Bolsa Família com causas específicas de morte, o impacto é ainda maior: queda de 65% nas mortes por desnutrição e 53% nas mortes por diarreia. A íntegra está aqui.

O Bolsa Família, portanto, salva vidas. Não é uma solução permanente. É uma operação de emergência, necessária hoje e todo dia. Sua missão fundamental é salvar vidas em perigo, vidas que enfrentam uma calamidade permanente (o miserê nacional, desastre que de natural não tem nada). Aí chegamos a outra crítica comum ao programa: mas pra quê tanta criança? Essa mulherada sem vergonha não está parindo um filho atrás do outro, só pra garantir uma renda fixa?

A resposta é um grande não. A taxa de fertilidade do Brasil vem caindo rápido. Hoje é de 1,8 filhos por mulher, a mesma que o Chile, menos que os Estados Unidos (1,9). Está abaixo do nível mínimo de reposição da população (que é 2,1%). É evidente que se o mundo tivesse dois bilhões de pessoas, em vez de sete, estaríamos melhor na fita. Quanto menos pobre, menos pobreza... mas o fato inquestionável é que as brasileiras têm cada vez menos filhos. E cada vez mais tarde - 40% das nossas conterrâneas entre 25 e 29 anos ainda não têm filhos. Dados citados em um iluminador artigo da Economist desta semana.

A importância do Bolsa Família para essas famílias pobres ficou assustadoramente explícita nas reportagens de TV sobre o corre-corre. Pareciam cenas de refugiados na África, se batendo por um galão de água, um saco de ração. Por que nossos compatriotas ficaram tão desesperados com a possibilidade de ficar sem o Bolsa Família? Porque eles não recebem um monte de outros benefícios simultaneamente. Comparando com os países que tem a melhor qualidade de vida, o Brasil tem benefícios sociais minúsculos.

O sociólogo Alberto Carlos Almeida fez uma comparação chocante entre Brasil e Inglaterra, em artigo para o jornal Valor Econômico. Os ingleses ganham salários muito mais altos que os brasileiros. E mesmo assim recebem muitos tipos de auxílio diferentes, que aqui não existem. Alguns:
- bolsa funeral (R$ 2100 para ajudar no enterro de seu familiar, incluindo pagar flores, caixão, uma viagem de algum parente para o velório etc.)
- bolsa aquecimento no inverno (média de R$ 2400 por mês para ajudar você a se aquecer no inverno)
- bolsa necessidades especiais (para deficientes ou idosos, até R$ 1500 por mês)
- bolsa cuidador de quem tem necessidades especiais (R$ 720 por mês)
- bolsa aquecimento por painéis solares (até R$ 3600 por mês)
- seguro desemprego (R$ 720 por mês)

E muitos outros de todo gênero. Almeida destaca o bolsa criança, que paga R$ 1350 por mês para a família que tem uma criança (e mais uns R$ 1200 para o segundo filho etc.). Vale lembrar que a saúde pública inglesa é boa e gratuita, assim como a educação, em sua maior parte. Por isso tudo, os ingleses são mais saudáveis e educados que os brasileiros, vivem mais e melhor que nós, em um país sem violência. Lá, os impostos são aplicados em benefícios que garantem uma vida mais saudável e segura. Quando alguém criticar o Bolsa Família, faça-lhe um favor: jogue esses dados na cara do infeliz. Nós, brasileiros, precisamos ter consciência do que funciona bem em outros países, para cobrar as mesmas leis aqui. Dou o link para a reprodução do texto de Almeida no site do Senado Federal, porque no site do Valor é só para assinantes. 

Certo que o Brasil não é a Inglaterra. Certeza que há dinheiro suficiente para ajudarmos nossos deficientes, idosos, crianças, desempregados e defuntos. Estão aí os estádios faraônicos pra Copa, molezas diversas para empresas próximas do poder, benesses variadas para apadrinhados etc. Somos a sexta maior economia do mundo. Nosso desafio não é gerar recursos, é forçar a aplicação desses recursos no que trará mais benefícios para nossa população.

O PT explora politicamente o Bolsa Família? Claro, é isso que governos fazem, e oposição idem. Aécio Neves até já disse que quem criou o Bolsa Família foi o PSDB (não foi, mas criaram coisas parecidas. Lula, quando o Fome Zero não decolou, reempacotou os benefícios criados pelos tucanos, engordou um tanto o bolo, e marketou magistralmente). Minha sugestão é que os governos estaduais e municipais da oposição criem seus próprios bolsa isso e bolsa aquilo. Que bom se os políticos disputarem nosso voto nos dando dinheiro, em vez de tirar...

O questionamento do Bolsa Família mais furado de todos é o moral: é justo uma pessoa receber dinheiro, sem ter trabalhado por isso? Nem merece resposta. A questão não é de justiça, é de isonomia. Os mais ricos já recebem bastante dinheiro sem trabalhar. Embolsam rendimentos de suas aplicações financeiras, aluguel de imóveis e tal. Acionistas de empresas recebem dinheiro sem trabalhar: os lucros. E herdeiros recebem dinheiro sem trabalhar, às vezes sem nunca ter trabalhado de verdade. Muitas crianças brasileiras felizardas já têm seus futuros assegurados, graças ao que construíram seus pais ou avós. Nunca precisarão pegar no batente (e mesmo assim, como sabemos, muita gente abonada continua trabalhando, porque assim se sente realizada, produtiva, estimulada, ganha mais dinheiro ainda etc. Dinheiro é 100%, mas não é tudo...).

Na próxima vez que a campanha contra o Bolsa Família mostrar sua cara feia, ajude a cravar uma estaca em seu coração. O Bolsa Família não é nenhuma maravilha, mas é infinitamente melhor que nada. Tem que ser aplaudido, imitado, diversificado e expandido para pessoas que não têm família. Tem que ter o seu valor aumentado, bastante e rápido. Contra fatos, e vidas salvas, não há argumentos.


 

51 mil famílias na PB têm aumento de renda e deixam o Bolsa Família


25/05/2014 11h57 - Atualizado em 25/05/2014 11h57
 
Os dados são referentes ao período entre 2005 e fevereiro de 2013.
Ano em que mais famílias saíram do programa foi 2009.
 
Jocélio Oliveira Do G1 PB
 
51 mil famílias na PB deixam o Bolsa Família por aumento da renda até 2013 (Foto: Jocélio Oliveira/G1)
Famílias na PB deixam o Bolsa Família por
aumento da renda até 2013 (Foto: Jocélio Oliveira/G1)
Desde o começo desse ano que a dona de casa Diane Silva Alexandre, de 41 anos, não recebe mais o Bolsa Família. Moradora do bairro do Varjão, em João Pessoa, ela procurou voluntariamente a sede do órgão, no centro da capital, e entregou o cartão do benefício. É que há cerca de seis meses a renda da família aumentou, quando ela encontrou um novo companheiro. “Eu sempre vendi trufas, fiz faxinas para sustentar a mim e a minha filha de sete anos, mas não tenho emprego fixo. Agora tenho mais condições de viver sem o auxílio e achei que não era justo continuar recebendo”, explicou.

A situação de Diane é parecida com a de 51.325 famílias que saíram do Programa Bolsa Família, na Paraíba, segundo dados Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), solicitados pelo G1. Os caminhos percorridos são diferentes, mas em todos os casos, elas aumentaram a renda média por pessoa (per capita). O número é referente ao período entre o ano de 2005 e fevereiro de 2013. No Brasil a quantidade chega a 1,69 milhão de famílias.

O Bolsa Família beneficia famílias pobres extremamente e pobres, que segundo Ministério, são aquelas com renda mensal, por pessoa, de até R$ 70 e R$ 140 respectivamente. Todas são inscritas no Cadastro Único, que é um instrumento para unificação dos registros de usuários dos Programas Sociais do Governo Federal, como, por exemplo, o Pronatec, a Tarifa Social de Energia, o Minha Casa, Minha Vida, entre outros.
 
A coordenadora municipal do Bolsa Família em João Pessoa, Aparecida Melo, explicou que a atitude da dona de casa é rara. “Na capital apenas 15 ou 20 pessoas por ano entregam o cartão de forma voluntária. Geralmente eles esperam a exclusão automática, que acontece depois da atualização cadastral, caso seja identificado que saiu do perfil do programa”, explicou a coordenadora.
 Mas foi o que também fez a dona de casa Vitória dos Santos, do bairro Colinas do Sul, em João Pessoa. “Eu passei três meses com um emprego temporário no comércio no fim do ano passado e achei que o justo seria procurar o programa e devolver o cartão”, explicou a dona de casa. Depois desse período, sem se efetivar na vaga, a dona de casa procurou a coordenação municipal do programa e desde o mês de fevereiro voltou a receber o benefício.

De acordo com a gerente da proteção social básica do estado, Ediclê Travassos de Lima, num prazo de até três anos o usuário pode retornar automaticamente ao programa. ”Depois desse período, caso a família retorne à condição de pobreza deve renovar o cadastro e esperar por uma vaga para ser incluída novamente”, explicou a gerente, é a responsável pela coordenação do programa na Paraíba.


O ano em que houve mais desligamento do programa foi em 2009,  com um total de 14.594, seguido de 2006 (9.916) e 2008 (7.974). Até fevereiro de 2013, 1839 famílias paraibanas já haviam saído do Bolsa Família no estado.

Bolsa Família (Foto: Jocélio Oliveira/G1)
Família que deixe o programa e volte à condição de
pobreza em até três anos pode voltar a receber o benefício
sem ter que fazer novo cadastro
(Foto: Jocélio Oliveira/G1)
Dados mais recentes do MDS, referentes à janeiro deste ano, apontam que 834.671 famílias estão inseridas no Cadastro Único na Paraíba. Destas 78,68% (656.781) tem renda familiar de até R$ 140 por pessoa, e tem direito ao benefício por se enquadrar no perfil do programa. Sendo que para a maior parte, 65,23% (544.496) a renda média mensal por pessoa é de até R$ 70, grupo caracterizado como de extrema pobreza pelo governo.

Os gestores acreditam que apenas o Bolsa Família não é suficiente para tirar as pessoas da situação de pobreza. “A transferência de renda é apenas um apoio, um auxílio, mas o que vai realmente alavancar a vida dessas pessoas é uma integração das políticas sociais. Ou seja, uma articulação entre as ações de habitação, agricultura familiar, segurança nutricional, por exemplo”, comentou Cízia Romeio, que há três meses é coordenadora de proteção social básica, da Secretaria de Desenvolvimento Social da prefeitura de João Pessoa.
 
Outros casos
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, beneficiários do programa também podem sair do Bolsa Família por inconsistências nas informações cadastrais, identificadas no processo de “Averiguação Cadastral”. Até o final de 2013 esse número chegou a 1,8 milhão de famílias no Brasil. A maioria dos que foram excluídos não atualizou o cadastro. O Ministério não tem dados estaduais sobre esse corte de usuários.

Nesse processo de verificação dos registros dos usuários é feito um cruzamento de dados do Cadastro Único com outras bases de dados públicos. Caso sejam detectadas inconsistências os usuários são chamados para atualizar as informações, que não necessariamente são irregularidade, segundo o MDS.
 
Reajuste
No mês de abril deste ano o governo federal publicou um decreto que reajusta os valores do Bolsa Família. Com isso, a partir do dia 1º de junho deste ano o valor do benefício básico passará dos atuais R$ 70 para R$ 77. Também passam a ser consideradas extremamente pobres as famílias com renda média por pessoa de R$ 77 e pobres aquelas cujo rendimento per capita atingir no máximo R$ 154.
 
Fonte
 
 
 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

"Abaixo este Brasil atrasado" da Ellus


Por Erick da Silva

A grife Ellus lançou recentemente a campanha: "Abaixo Este Brasil Atrasado", além de camisetas com a frase estampada vendidas em suas lojas, foi divulgado um manifesto, de mesmo nome, onde criticam o "atraso do Brasil". O atraso denunciado é pouco apoiado em dados da realidade. A ação da Ellus se soma a outras, de menor ou maior alcance, de setores da elite econômica brasileira que buscam, desesperadamente, impedir a reeleição da presidenta Dilma e o avanço da esquerda no Brasil.
 
Uma atitude corriqueira de uma classe dominante que jamais abdicou de seus objetivos mesquinhos de ganhos econômico as custas da maioria da sociedade.
 
A projeção internacional que o Brasil conquistou nestes últimos 12 anos, o crescimento da economia, o aumento da capacidade de consumo de amplos setores da sociedade, entre outros fatores que derrubam a ideia de um "Brasil atrasado" ou "paralisado", são desconsiderados para eles. A mentalidade que impera para esta elite é ainda a da "Casa Grande", fruto de nossa herança colonial, como corretamente aponta o jornalista Mino Carta. Inclusão social, distribuição de renda, ampliação dos serviços públicos, etc são questões indesejáveis para esta elite, que de forma mal-disfarçada, acredita que o lugar do povo pobre é na "senzala".
  
O manifesto da Ellus é bastante revelador. Num texto curto e raso, abundam de maneira superficial alguns dos mantras que compõem o discurso desta elite. Talvez o trecho mais revelador seja o seguinte:
 
"Brasil = ineficiência, improdutividade. Isso faz com que fiquemos isolados do mundo, acarretando esse atraso todo em relação ao mundo moderno. 
É claro que os maiores responsáveis são os políticos e os governos antiquados, cartoriais, quase medievais, que com suas ideias atrasadas de protecionismo acabam por gerar atrofia."

Concordamos em parte com o texto. É fato que temos muitos elementos de atraso em nossa sociedade, que cobram soluções. A Ellus talvez tenha cometido, inadvertidamente, um ato de autoconfissão, ao mencionar as relações atrasadas, "quase medievais" que permanecem em nosso país. Uma delas e de graves consequências sociais, é o uso, por grandes empresas, do emprego de trabalho em condições análogas a da escravidão.
 
Na indústria da moda, empresas como a própria Ellus , C&A, Zara, Collins, Marisa, Gregory etc são acusadas de se utilizarem do trabalho análogo a escravidão em suas confecções, seja diretamente ou através de empresas terceirizadas. Onde imperam relações "atrasadas" de trabalho, em nome de uma maximização de seus lucros. Em todas elas, se observam condições precárias de trabalho, a presença de imigrantes ilegais, remuneração abaixo do salário mínimo e imposição de jornadas exaustivas e degradantes.
  
 
Imagem: Reinaldo Del Dotore
   
A própria Ellus já foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho sobre estas práticas criminosas em sua linha de produção. A depender de empresas como a Ellus, seguramente estaríamos em um processo de regresso a condições "quase medievais". Será que para eles, moderna é a escravidão?
 
Felizmente, ainda que detentora de grandes recursos, este discurso tem pouca penetração e capacidade de mobilizar alguém além dos 1% do topo da pirâmide social brasileira. "Abaixo Este Brasil Atrasado" da Ellus que se utiliza de trabalho escravo. O Brasil "moderno", a despeito da vontade e sabotagens destas elites, está sendo gestado por obra de seu povo, que não pretende recuar.
 

Cronologia de um demagogo

01/12/2011: Ronaldo aceita cargo no Comitê Organizador Local da Copa.

20/10/2011: Ronaldo celebra Copa 2014 no Itaquerão.

20/03/2012: Ronaldo: “A Copa do Mundo da FIFA é de todo o Brasil”.

10/10/2012: Ronaldo garante Brasil pronto pra receber a Copa 2014.

30/01/2013: Ronaldo pede para imprensa abraçar a Copa do Mundo.

05/11/2013: Ronaldo defende Copa de “protestos inventados” e enaltece progresso.

19/12/2013: Ronaldo minimiza desconfianças e vê Brasil acreditar no projeto da Copa 2014.

07/01/2014: Ronaldo diz que Copa está trazendo muitos benefícios ao país.

21/02/2014: “Copa é um grande negócio para o país”, afirma Ronaldo.

30/03/2014: Ronaldo está animado para a Copa de 2014.

01/05/2014: Ronaldo posta foto de apoio à candidatura de Aécio Neves.

23/05/2014: Ronaldo se diz envergonhado com preparação da Copa.

A propósito: de acordo com a Ernst & Young e a Fundação Getúlio Vargas, entre 2010 e 2014, o Brasil deverá arrecadar 16 bilhões com impostos deixados pela FIFA no Brasil (entre valores dos ingressos e eventos relacionados) – um valor consideravelmente superior ao que o governo federal gastou na reforma dos estádios. Ou seja, a Copa dará lucro ao país. Que coisa.

Update: Estão tentando vender a ideia mentirosa de que o governo federal isentou a FIFA de impostos sobre os ingressos. Errado. A FIFA ganhou isenção ao IMPORTAR itens para a infraestrutura dos jogos, como uniformes e ônibus. Mas não foi só ela. As televisões brasileiras também ganharam isenção para importar equipamentos necessários para televisionar o evento. Não caiam nas falácias dos reacionários; eles ganham espalhando inverdades.