Ana Freitas - 11 Out 2016 (atualizado 13/Out 19h58)
Notícias falsas têm potencial devastador. Há algumas técnicas para tentar evitá-las. Aqui estão elas
Foto: Yukiko Matsuoka/Flickr/Alguns direitos reservados |
boato
compartilhado nas redes sociais. Uma mensagem, acompanhada de sua foto,
dizia que o serralheiro era “estuprador e sequestrador de crianças”.
O serralheiro carioca Carlos Luiz Batista, de 39 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo em poucos dias em razão de um
Batista, que começou a receber ameaças, agora tem medo de sair de casa. Não é o primeiro caso do tipo: em 2014, uma mulher foi espancada
até a morte no Guarujá, litoral paulista, depois de ser acusada, em
boatos em redes sociais, de que estuprava e sequestrava crianças. No
entanto, nem sequer existiam denúncias do tipo na região.
Esses
casos demonstram o que acontece a indivíduos, em casos extremos, quando o
compartilhamento de informações mentirosas sai do controle. Essa
prática, comum em um mundo no qual todos são consumidores e produtores
de conteúdo, também pode ter impactos políticos e sociais - na medida em
que informações falsas ajudam as pessoas a construir opiniões.
Nos últimos anos, a crise política escancarou esse cenário no Brasil. De acordo com um levantamento
do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso a Informação da
USP, na semana em que a Câmara autorizou a abertura do impeachment da
ex-presidente Dilma Roussef, em abril, três das cinco matérias mais
compartilhadas no Facebook no Brasil eram falsas.
Por que as pessoas compartilham informações sem checá-las?
“A dinâmica [de compartilhamento de boatos] é um efeito da polarização do debate político, mas também é muito marcada pelo viés de confirmação”, disse ao Nexo Marcio M. Ribeiro, professor da USP e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso a Informação da universidade.
O viés de confirmação é uma tendência
cognitiva que faz com que nós tenhamos mais propensão de lembrar,
pesquisar informações ou interpretar fatos de maneira que eles confirmem
nossas crenças ou hipóteses.
Na dinâmica da comunicação digital e
dos algoritmos que mostram apenas aquilo que queremos ver, o viés de
confirmação cria uma “bolha” de visão de mundo que exclui aqueles que
pensam diferente - o chamado “filtro bolha”.
Quando
recebemos, por meio das redes sociais, o link de uma matéria que
confirma nossa visão de mundo, temos mais chances de ignorar possíveis
evidências de que ela seja falsa.
“Na dinâmica das redes sociais,
as pessoas têm tanta ou mais responsabilidade que os veículos em
determinar qual conteúdo terá mais ou menos visibilidade por meio do
compartilhamento”, diz Ribeiro. Por isso, cabe também aos usuários
garantir que a informação compartilhada seja verdadeira.
Como identificar notícias falsas e matérias inverídicas
Abaixo, o Nexo
reuniu um conjunto de boas práticas que podem ser aplicadas de maneira
rápida, no dia a dia, por qualquer pessoa. Geralmente, o ideal é usar
mais de uma técnica - e, se tiver tempo, todas elas.
10 boas práticas para o consumo de informações na web
Cruzamento de fontes
É
simples: basta jogar as informações-chave relacionadas à notícia em
questão no Google e verificar se outros veículos também falaram dela, e
em quais termos. Caso você encontre apenas uma fonte para aquela
informação, vale desconfiar. Se encontrar várias fontes, mas todas elas
forem cópias de apenas um veículo, também é razoável considerar a
matéria com cautela.
Buscar a fonte original
Uma
notícia ou print mostra que uma figura pública disse ou fez alguma
coisa. Confira nos canais oficiais daquela pessoa se o print é
verdadeiro, ou se há uma entrevista original, publicada em um veículo de
confiança, que exiba a declaração em questão. Também é importante ficar
atento a perfis falsos - muitas vezes, prints de declarações polêmicas
têm origens em perfis não-oficiais, às vezes criados com propósitos
humorísticos, outras para difamar alguma figura pública.
Credibilidade de quem publica
Verifique
o histórico do veículo que publicou a informação. Redações com
jornalistas profissionais, sejam de veículos tradicionais ou novos,
mantêm critérios de checagem em suas reportagens. E quando há erro,
essas redações costumam corrigi-los. Isso não quer dizer que sites e
blogs pequenos, além de posts no Facebook ou em outras redes sociais,
não tragam bons conteúdos. Basta que você conheça o histórico desses
canais.
Adjetivos demais são suspeitos
O
excesso de adjetivos para difamar ou exaltar alguém ou algo, ou seja,
um viés muito claro de acusação ou defesa no texto, também merecem sinal
amarelo (especialmente em textos noticiosos).
Faça uma busca reversa da imagem
Muitas
fotos que circulam nas redes sociais são montagens. Antes de
compartilhar a suposta foto da capa da revista “Time” que mostra uma
reportagem bombástica sobre o Brasil, confira no próprio site do veículo
- ou faça uma busca reversa, que procura a imagem no Google e encontra
outros lugares em que ela (ou versões parecidas) foram publicadas. Para
fazer isso, basta acessar a busca de imagens do Google. Então, clique no
ícone de câmera dentro do campo de busca e transfira a imagem que
gostaria de pesquisar.
Há gente que se dedica a achar boatos
Para
qualquer tipo de informação recebida via Whatsapp e Facebook, há sites
dedicados exclusivamente a pesquisar e confirmar (ou não) os boatos
espalhados nas redes. Dois dos mais famosos são o E-Farsas e o Boatos.org. Uma visita rápida pode evitar o compartilhamento de uma informação falsa.
Verifique a data da publicação
Em
um contexto e data diferente, uma notícia antiga pode servir a uma
narrativa atual completamente diferente daquela em que ela estava
inserida no passado. Por isso, é comum que links antigos ganhem novas
ondas de compartilhamento anos depois de publicados. Para evitar que uma
informação fora de contexto contamine seu julgamento, adquira o hábito
de checar a data de publicação de uma matéria antes de compartilhá-la.
Geralmente, essa informação se encontra embaixo do título.
Vá além do título
É
relativamente comum o compartilhamento de informações por Whatsapp e
Facebook apenas com base no título do link. O título, no entanto, pode
ser modificado: além de o Facebook permitir isso na publicação do
conteúdo, também é possível usar ferramentas que mudem o título exibido
quando o link é compartilhado. Por isso, evite compartilhar material sem
ler o conteúdo completo.
Sem fonte, não confie
Em
muitos casos, textos ou vídeos compartilhados por mensagens do Whatsapp
vêm sem uma fonte - ou, então, mencionam fonte sem um link para ela.
Cheque sempre, usando o Google, se a informação é verdadeira e está
mesmo disponível na fonte mencionada. Se o conteúdo vier sem fonte, é
muito improvável que seja real. Além disso, ligue o radar diante de
vídeos ou áudios gravados por completos desconhecidos. Qualquer um pode
fazer um vídeo ou áudio de Whatsapp e dizer o que quiser, e já temos
provas suficientes de que muita gente inventa informações falsas para
compartilhar nessas redes.
Na dúvida, pense duas vezes
“Na
dúvida, achei melhor compartilhar.” Você já deve ter lido a frase por
aí. No entanto, embora a abordagem seja muitas vezes bem intencionada,
ela pode ter efeitos trágicos - como aqueles mencionados nos primeiros
parágrafos deste texto. Caso não consiga obter confirmação de uma
informação que consumiu na internet, recomendamos que considere não
compartilhá-la.
ESTAVA ERRADO: A versão
inicial deste texto sugeria ser necessário usar o navegador Google
Chrome para executar uma busca reversa de imagens, quando na verdade
isso pode ser feito de outras maneiras. A informação foi corrigida às
18h17 do dia 13 de outubro de 2016.
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