O professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da
Paraíba, Cláudio Paiva expôs, em cinco tópicos, a estratégia da Rede
Globo em seus telejornais e novelas.
Segundo Paiva, a emissora arquiteta uma “construção falseada” da realidade do país “de acordo com os seus interesses mercadológicos e políticos”.
Leia:
Cinco teses sobre o paradoxo da Rede Globo. Telejornal fascista & minissérie "progressista":
1) O telejornal produz um "efeito de verdade" que convence o
telespectador pouco informado, e a série (telenovela) aparece ao público
como uma ficção descolada do real;
2) Nada escapa às garras da (no)velha indústria cultural, que
transforma a memória dos "anos de chumbo" em mercadoria fascinante
embalada em technicolor; essa mesma indústria usa uma "retórica da
imagem" (Barthes) e agressivas técnicas de persuasão (e despolitização)
no JN;
3) A descontextualização histórica e a espetacularização (Debord) das
séries com temas complexos embaça a consciência social e política do
televidentes. Logo, a narrativa da ditadura e repressão política se
configura como algo ocorrido lá longe, num passado remoto, sem vínculos
com os poderes dominantes contemporâneos. Enquanto isso, o telejornal -
através de falas-textos-imagens - simula uma reportagem fidedigna aos
acontecimentos narrados (news making, pós-verdade, etc);
4) No passado recente, o Jornal Nacional se desculpou pelas
derrapagens na "narração dos fatos" (Muniz Sodré) referentes à vida
social e política da nação. E, hoje, arquiteta um construção falseada da
realidade brasileira, de acordo com os seus interesses mercadológicos e
políticos;
5) Considerando a especificidade do atual momento histórico, a
exibição na Globo da série "Os dias eram assim" funciona como uma
espécie de álibi; a emissora mostra-se ética e responsável na denúncia
dos crimes contra a humanidade, para uma platéia alienada, e além disso
sabe que (se sobreviver) será cobrada pela sua manipulação dos fatos, no
que concerne a esfera sócio-política e institucional recente. E, no
âmbito do excessivo volume de informação (entrecortada por slogans
publicitários), uma narrativa crítica (que mostra - por exemplo - a
truculência policial) tende a se diluir, se desmanchar, neutralizando o
potencial reflexivo dos telespectadores. Enfim, no estranho beco em que a
cultura e a política se meteram, em que tudo nos aparece como simulação
e simulacros (Baudrillard), talvez nos reste a alternativa de buscar
informações na internet e redes sociais, um espaço dialógico e
polifônico (Bakhtin), em que se agitam vozes dissonantes e quiça
esclarecedoras, num tempo nublado.
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