Estado de Minas - 12/10/2015
Dados do Dieese mostram que funcionários tiveram aumentos
reais superiores aos dos trabalhadores da iniciativa privada
Brasília - O funcionalismo público federal, todos os anos,
abre um acirrado debate com o governo em busca de reajustes salariais. A
alegação principal é sempre a necessidade de recuperar a perda do poder
aquisitivo, circunstância, dizem, que dificilmente ocorre nas negociações entre
empregados e patrões do setor privado. E como o servidor não tem data-base, a
greve é o meio mais eficaz de pressão, esgotadas todas as outras alternativas.
A tese da contração nos ganhos, no entanto, parece não se sustentar. Segundo
dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) e do Ministério do Planejamento, os servidores civis do Executivo
embolsaram aumentos reais quase quatro vezes maiores do que trabalhadores da
iniciativa privada entre 2008 e 2014 - anos em que o Brasil registrou altos
níveis de emprego e renda.
Nesses sete anos, o aumento médio real dos trabalhadores do
setor privado foi de 9,4%. Enquanto isso, os servidores ganharam 34,3% acima da
inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de
48,6% no período. Pelos resultados descritos no Boletim Estatístico de Pessoal,
do Planejamento, as despesas com salários do Executivo civil deram um salto de
99,6%, ao passar de R$
66,364 bilhões, em 2007, para R$ 132,744 bilhões, em 2014 - abatida a inflação
de 48,6%, se chega também ao resultado de 34,3%. "Houve investimento
expressivo em pessoal nos últimos sete anos, mesmo período em que o mercado
estava mais aquecido no setor privado", destaca Sérgio Mendonça,
secretário de Relações do Trabalho (SRT), do Ministério do Planejamento.
Diante da "gordura" que ainda mantém as
remunerações do funcionalismo encorpadas, os servidores continuarão gozando de
alguns privilégios compensatórios, nos próximos dois anos, assinalou Mendonça,
independentemente de o acréscimo proposto pelo governo vir a ser ou não
inferior à inflação. A oferta do Executivo nas negociações salariais deste ano
é de 10,8%, em duas parcelas (5,5% em agosto de 2016 e 5% em janeiro de 2017),
sem levar em conta o IPCA de 2015 - estimado pelo mercado em 9,29%. "Se
errarmos as perspectivas para 2016 e 2017, esse ganho real de 34,3% será
parcialmente engolido. Mas não cairá para menos 30%", afirma Mendonça. É
importante destacar, lembrou o secretário, que os números variam de acordo com
o período.
Na campanha salarial de 2015, os servidores pleitearam
inicialmente um aumento de 27,3%. O percentual era equivalente à variação do
IPCA estimada para o período de agosto de 2010 a julho de 2016, em torno de
44%, descontados os 15,8% concedidos anteriormente, mais um ganho real de 2%.
"É natural que os sindicatos ressaltem o que lhes interessa. Por exemplo:
uma pessoa que fez concurso e entrou para a administração em 2013 vai fazer as
contas, identificar algumas diferenças e certamente concluir que estou
mentindo. O que ela não sabe é que, ao longo do tempo, aquela carreira à qual
ela agora pertence ganhava bem menos. Foi valorizada", reforça o
secretário.
(Vera Batista)
Nenhum comentário:
Postar um comentário