18/Feb/2016 às 16:00
Guia prático explica por que temos cotas sociais e raciais no Brasil e tira dúvidas sobre o funcionamento das ações afirmativas
Como ainda tem muita gente que não entende (ou não quer entender) por que temos cotas raciais e sociais
no Brasil, preparei um rápido guia. Ele pode ser aumentado à medida que
novas dúvidas surjam. Qualquer pergunta extra, escreva para o blog.
1. Se você é preto, pardo ou indígena, tem direito às cotas;
ponto. A autodeclaração vale na hora da inscrição, mas algumas
universidades podem exigir comprovação após a matrícula para verificar
se você atende aos requisitos. Isto é feito principalmente para não
prejudicar outros pretos, pardos ou indígenas que de fato precisam das
cotas.
2. Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, mas acha que, por uma questão de reparação histórica, deve usar o sistema, tem direito.
3. Se você é preto, pardo ou indígena e veio de escola privada, poderia abrir mão das cotas (se desejar). Esta é, porém, uma decisão que compete apenas aos pretos, pardos e indígenas, não aos brancos.
4. Se você é preto, pardo ou indígena e, mesmo sendo pobre, acha que as cotas são desnecessárias, é simples: não utilize as cotas. Mas estude melhor a História do Brasil para não se tornar duplamente vítima do racismo, sem se dar conta.
5. Se você é branco e veio de escola pública, tem direito às cotas.
6. Se você é branco, mas
longinquamente afrodescendente e estudou em escola privada, não deveria
se candidatar a cotas por uma questão moral e ética. Fazer-se passar por
negro para ser beneficiado por cotas é uma espécie de corrupção e pode
ser considerado estelionato.
7. Se você é branco e veio de escola privada, não tem direito a cotas.
8. As cotas foram feitas, obviamente, para atender a quem precisa delas.
Como a maioria dos pobres no Brasil é preta, parda ou indígena, bingo: a
maioria deles precisa de cotas porque não se pode comparar suas chances
de ascender à universidade com as de estudantes de classe média ou
ricos que frequentaram escola privada a vida toda. Isto se chama
INCLUSÃO.
9. Coloque na cabeça: as cotas não
são uma vantagem: são a correção de uma desvantagem histórica. Antes
delas, apenas 2,2% de pardos e 1,8% de negros tinham concluído
universidade no Brasil; após as cotas, este número subiu para 11% de
pardos e 8,8% de negros. Ainda é pouco, já que eles são 53% na
população. Em Medicina, por exemplo, somente 0,9% dos formandos no Estado de São Paulo em 2014 eram negros.
10. Quem gosta tanto de usar a palavra “meritocracia” deveria entender que ela só se justifica entre pessoas com condições de vida semelhantes e não entre desiguais. É moleza falar em meritocracia
sendo branco, tendo papai rico e estudando nos melhores colégios. É
como apostar corrida saindo vários segundos na frente do outro
competidor.
11. Ao contrário do que quem é contra as cotas costuma espalhar por aí, as notas dos cotistas têm se mostrado iguais ou superiores às dos estudantes não-cotistas em várias universidades, como a UFMG, e em algumas delas o índice de evasão dos cotistas é menor que o dos não-cotistas.
12. Nos EUA, existem cotas
(políticas de ação afirmativa) desde os anos 1970. Isso possibilitou que
os negros avançassem na sociedade ao ponto de hoje o presidente do País
ser negro. No Brasil, menos de 10% dos deputados e senadores são pretos
e pardos.
13. As cotas raciais têm prazo para acabar: assim que a proporção de pretos,
pardos ou indígenas em relação aos brancos chegar a números semelhantes
aos da sociedade em geral, as cotas acabam. Enquanto isso não
acontecer, nada mais justo que continuem.
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