Capa da revista France Football, publicada no final de janeiro, e que possui um texto falso no Facebook |
O jornalista francês Éric Frosio, de 36 anos, se surpreendeu ao
saber que uma reportagem que havia escrito sobre a Copa do Mundo no
Brasil para a publicação francesa France Football estava sendo
compartilhada por centenas de milhares de brasileiros na internet. Não
demorou muito, porém, para Frosio se decepcionar ao notar que o texto
que estava sendo compartilhado não tinha nada a ver com aquele que ele
tinha produzido.
Uma falsa versão do texto, que cita frases
atribuídas de forma errada à revista francesa e que, supostamente,
mostram problemas do Brasil, teve mais de 200 mil compartilhamentos no
Facebook. "Fiquei surpreso e chateado. Usaram a credibilidade da revista
para passar ideias erradas, coisas que não escrevemos", disse Frosio ao
UOL Esporte. "Acredito que tenham feito isso com o objetivo
de atacar as políticas da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição."
Frosio está há seis anos no Brasil e diz que sempre morou no Rio de
Janeiro. A reportagem que ele escreveu para a France Football, com os
jornalistas Éric Champel e François Verdenet, com o título "Medo sobre o
Mundial", é crítica com relação à Copa. Levanta problemas de segurança,
ao citar que a polícia não foi capaz de evitar que o Papa Francisco
fosse cercado por uma multidão em sua visita ao Rio, em julho de 2013,
fala sobre alta nos preços e problemas na execução das obras dos
estádios.
O texto falso que circula no Facebook, por sua vez,
cita problemas de saúde pública, transporte e até de ataques
incendiários a ônibus que não foram abordados pela publicação francesa. O
texto falso ainda atribuiu à revista comentários feitos sobre Romário e
Tiririca que não foram publicados. "Já até escrevi sobre Tiririca, mas
alguns anos atrás. Também já entrevistei o Romário, por quem tenho muito
respeito. Gosto do trabalho dele na política", disse Frosio, lembrando
que não utilizou essas informações no artigo da France Football.
Com relação à percepção que os estrangeiros têm do Brasil, o jornalista
acredita que a violência seja o assunto mais lembrado. "Nas outras
Copas que cobri, na Alemanha, na França, a gente fica com a ideia de que
é só diversão, futebol e alegria. Aqui também vai ter isso, mas a
violência estará presente", afirma o repórter. "Essa é a primeira
pergunta que me fazem sobre o Brasil: 'É violento? É perigoso?' Achava
que isso estava mudando. Mas esse ano, principalmente no Rio, parece ter
voltado."
A segunda maior preocupação dos turistas
estrangeiros, ainda segundo Frosio, são os altos preços de acomodação e
passagens aéreas. Apesar de não concordar com a publicação do texto
falso, o jornalista francês concorda que os atrasos nas obras eram
previsíveis. "O que me surpreenderia seria ver um país mais
profissional. Achei que o país ia aproveitar a oportunidade para
melhorar a vida do povo. Mas o resultado não me surpreende."
CRIADOR DE POST DIZ QUE NÃO LEU REVISTA
O jornalista Luís Suriani, de 56 anos, é o responsável por um dos posts
atribuídos à France Football no Facebook que gerou grande repercussão
nas redes sociais. A publicação teve mais de 100 mil compartilhamentos.
Mas o próprio autor admite que não traduziu a reportagem publicada pela
revista. "Não traduzi. Peguei coisas que já estava guardando sobre a
Copa e fiz aquele texto. Não achei que ia bombar tanto." Suriani gosta
de polêmicas. Ele diz manter mais de um perfil no Facebook para mostrar
suas idéias. Em geral, o número de compartilhamentos passa de mil,
segundo o jornalista.
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