Por Renato Rovai
Fernando
Moura fez um acordo de delação premiada e deixou a prisão. O que se
sabia até ele ser ouvido pelo juiz Sérgio Moro, no dia 22, última
sexta-feira, era que ele revelara como o ex-ministro José Dirceu
organizou, a partir da diretoria de Serviços da Petrobras, controlada
por Renato Duque, uma parte do que seria um caixa dois do PT.
Acontece que Fernando Moura, confrontado por Moro com as suas
supostas declarações, não as confirmou. E como José Dirceu é citado na
delação que agora Moura nega, Roberto Podval, advogado do ex-ministro,
fez o óbvio e solicitou as gravações do que estava transcrito. Áudio,
vídeo, sinal de fumaça, qualquer coisa.
E a resposta do Ministério Público foi a de que elas não existem.
Não faz o menor sentido não gravar uma delação tão explosiva quanto essa numa investigação do porte e do risco da Lava Jato.
Qualquer estagiário de jornalismo sabe que se chegar na redação com
uma história dessas sem qualquer prova e tiver um editor responsável,
ela não é publicada.
Ou seja, a ausência de gravação não cola.
Nelson Rodrigues poderia atribuir isso ao Sobrenatural de Almeida ou
poderíamos dizer que se trata do inexplicável futebol clube. Mas em
casos de investigação criminal o inexplicável não condena ninguém.
Absolve. Se não tiver como explicar e provar, não vale.
O MP e a PF parecem ter aberto a temporada de brincar com fogo. O
nome da Operação de hoje, Triple X, também é mais político do que
qualquer outra coisa. Há uma sanha persecutória em alguns ambientes que
hoje atinge uns, mas que amanhã pode atingir outros.
Nunca é tarde demais para lembrar que o Estado de Direito deve ser
sempre o limite da democracia. E brincar com ele é brincar com ela.
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