Postado em 30 abr 2015
Em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade. Depois da
pancadaria no Paraná, duas histórias chamaram a atenção pelo ineditismo,
cada uma especial à sua maneira. A primeira envolveu o soldado Umberto
Scandelari, de Curitiba.
Scandelari publicou uma foto dele mesmo nas redes sociais com as mãos
e o rosto manchados do que parecia ser sangue, juntamente com a
legenda: “Professor, conta outra…”
Viralizou. Um exame não muito detido na imagem, porém, levantava
algumas dúvidas quanto à consistência dos ferimentos. Parecia canetinha
hidrográfica.
Era canetinha hidrográfica.
A Polícia Militar paranaense admitiu que o rapaz se pintou. Foi de
mártir a pateta em minutos. Se bobear, ainda tinha uns escalpos no
armário.
A outra crônica envolvia um grupo de policiais que teria resistido
em participar do ataque aos grevistas. De acordo com o Broadcast,
serviço da Agência Estado, que deu o “furo”, eram dezessete que “foram
presos por se recusar a participar do cerco”. A informação seria do
Comando da PM.
Mais tarde, os dezessete haviam se transformado em “pelo menos 50”.
Um portal local assinalou que aquilo até pode ter sido um ato de
desobediência, mas era também de coragem.
No entanto, a cena incrível não fora testemunhada por ninguém. Qual o nome de pelo menos um deles? Onde estão esses heróis?
Provavelmente, em lugar nenhum porque não existem. A PM e a Secretaria de Segurança Pública desmentiram. A OAB confirmou que nenhum policial foi detido.
É o triunfo do chamado wishful thinking. Entre aquelas centenas de
homens, alguns poucos — nem tão poucos assim, dependendo da fonte do
boato — tomaram uma atitude sobranceira e resolveram fazer a coisa certa
e correr o risco. São homens, não ratos. Etc etc. Irresistível como
ideia.
Tire o pônei da chuva. O pessoal cumpriu muito bem as ordens. O
retrato mais fiel daquela PM é a do sujeito que se maquiou de cor de
rosa para alegar que foi espancado depois de descer o porrete nos
vagabundos — não o dos bravos insubordinados.
E vamos lembrar: o Estadão, que soltou a nota, é aquele jornal que
publicou que golfinhos estavam sendo treinados na Ucrânia para desarmar
minas carregando armas de fogo e que Jack Nicholson está com Alzheimer.
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